Mulambikers - Ciclistas Undergrounds
VALCI BARRETO,
advogado, cicloativista, um pouco alternativo.
editor do bikebook.blogspot.com
colaborador do muraldebugarin.com e
da Folha do Reconcavo.
Não sou contra quem pode ter roupas de marcas, caminhonetes quatro portas, avião, barcos, navios, supersonicos, ainda que apenas para mostrar poder, grana e exibir vaidades. jamais fui ou serem contra aquilo que se chama de riqueza.
O dinheiro, poder, Luxo, beleza, são valores a serem admirados , conquistados. E porque não?
Preocupo-me, no entanto, quando vejo alguém sem alegrias, sem motivações e tristes sòmente por não poder ter as roupas de marcas, carros carros, novidades caseiras da tecnologia , barcos, casas milionárias. A riqueza econômica jamais chegou ou chegará para todas as pessoas. É uma fatalidade da vida humana. Para quem não tem muito dinheiro, muitas alegrias podem ser experimentadas, vivenciadas, com pouco dinheiro. Muitas pessoas , cegas pela coação imposta pelo consumo a qulquer preço, simpelesemente não as echegam. Há pessoa que até enchegarm e tem vontade de experimentá-las. Não têm, porém, coragem para fazer algo um pouco diferente do que é imposto pela mídia consumista. Não desejo, nem mesmo quero pensar que alguém pode ser feliz, vivendo em miséria econômica. Porém, quem deu a sorte de ter poucos recursos economicos, mesmo sem as coisas que a industria do luxo e da vaidade produz, pode ter grandes alegrias.
Vou falar do nosso ambiente, dos passeios ciclisticos baianos porque nestes é que vivemos. E é um dos grandes exemplos de que coisas baratas tqbém abrem caminhos para grande contentamenteo.Há quem não pedala por não poder ter uma bicicleta nova ou cara. Há quem desiste de ser músico por não poder comprar um piano; Não percebem que uma flauta, que pode custar apenas cinco reais, pode produzir uma grande riqueza musical.Há quem, só podendo ter uma bicicleta simples, usada, enferrujada,prefere não ter nenhuma. Deixa de ir a um cinema ou festa por não poder usar uma roupa cara, "de marca"Tenho pena destas pessoas. Quem não tem navio, pode atravessar oceanos de caiaque. Claro que é preciso ter força, coragem para suportar as pressões sociais.
Tive um carro velho. Criaram-se estórias , brincadeiras curtidas até hoje em família e entre amigos. Era um Del Rey Guia , vermelho que foi se acabando em minhas mãos. À medida que ferrugem, amassos iam aparecendo, as cobranças dos vizinhos iam aumentado. Como "sofri"!.." _" Dr., o senhor , um advogado, com um carro deste?" Porém, já grandinho, considerando-me também fortinho, compreendendo, ainda que pouco, as bobagens, na minha ótica, dos outros, considerava, como ainda considero, fácil, a minha defesa.Bastava então responder: "não se importe ,meu caro, estou juntando grana para comprar um novo." Para alguns, não nego, eu gostaria até de responder, não com raiva, mas como forma de educar: " e o seu, qual é a marca, o ano, o preço?"; para, em seguida, questionar: "Porque você não compra um Jaguar?". "Este é o vcarro que melhor combina com voce" .. Mas seria cometer a mesma bobagem, descer ao mesmo nível da falta de entendimento de que, mesmo velho, enferrujado, não sentia eu falta de outro. Rodava bem, e cabia muita gente nele. E por connta da ancianidade, terminava sendo uma atração. Bem que gostaria de tê-lo conservado em minhas mãos até hoje. Seria uma peça interessante, antiga, com uma história. Não tinha traumas ao usado. E não os tive quando dele me separei.
Há muitos anos, logo que me formei em direito, já andava de motocicleta, paletó e gravata o que à época não era comum. Não eram mais que dois ou tres colegas que tinham o mesmo desprendimento, a mesma coragem de fazer o "diferente". Aí , novas cobranças:" Dr. o senhor, um advogado, de paletó, gravata e andando de e moto? " Compre um carro..." Passei a andar de mochila , paletó e gravata, em vez das horríveis , pesadas e desconfortáveis "pasta de executivo". Com esta indumentária já são os colegas de provissão a brincar, mas com muito bom humor, uma coisa meio alegre e folklorica,acompanhados de sorrisos e perguntas bem humoradas.Nada de sesura. Ao contrarios, muitos confessam o desejo de fazer o mesmo, afirmando, no entanto, não terem a coragem de fugirem ao "padrão do advogado" Preferem o peso das pastas, ainda que acompanhado das dores na coluna entre outros transtornos. Ultimamente vem deixando de ser novidade, perdendo, assim, a graça,principalmente depois que os novos advogados paulistas começaram a chegar em Salvador usando mochilas, normalmente muito chics, caras, "de marca".As minhas continuam sendo esportivas, de 20 reais, adquiridas em lojas de materiais esportivos ou mesmo de camelôs.
Entendia e entendo todos aqueles questionamentos. Acho, no entanto, uma cultura meio pervesa, porque inibe os mais fracos. Não por mim. Os livros , o bom humor deram-me caminhos para, desde cedo, entender as razões .A leitura me ensinou a enfrentar, sem sofrer , estes comentários, esta pressão social em favor do luxo, do caro, da marca. Mostraram-me, também, que o diferente, barato, simples, pode trazer alegrias. Aprendi a enfrentar, a imposição da cultura do consumo, que faz muita gente sofrer por não poder pagar o que deseja ter.
Há conradições curiosas , e até perversas, porque inidbidoras dos mais fracos, a exemplo:tem-se vergonha de comer uma banana ou jaca na rua, mas não se tem de comer um sanduiche cheio de gorduras saturadas e conservantes, sabidamente prejudiciais à saude. Quando a TV começou a mostrar o tenista Guga comendo banana nas quadras, estava ele prestando um grande serviço ao Brasil, além dos seus títulos conquistados para o nosso pais: deu coragem a muita gente para comer uma banana na rua. Eu , Bugarin, Itana, George Argolo já faziamos há tempos. E continamos a fazer em nossos pedais .
Pessoas há que, não podendo ter uma mochila de quinhentos reais, prefere não ter nenhuma.Não têm coragem de usar um embornal de pano, simples mas tem a firmeza de usar sacos plásticos, tão prejudicial ao nosso planeta. Mas se o "embornal", for de tecido cargo, desenhado por artistas famosos, usam-na como verdadeiro cartão de visita, troféu representativo de poder e vaidade.
Mas vamos às bicicletas. Tenho bicicletas velhas e novas. Tenho várias para emprestar a eventuais amigos que querem iniciar-se no pedal antes de comprar a sua .. Ficam aqui também para que as minhas filhas não tenham a desculpas de que não pedalam por lhes faltar bicicletas.
Porém , quase todos que as pedem para fazer suas primeiras experiencias, torcem o pescoço quando digo, e é verdade , que as melhores já foram emprestadas.Tenho algumas simples, uma cecisinha, todas elas sem marcha e "mirradinhas".Mas ninguém as quer;mesmo que para um simples passeio de quinhentos metros de distância. Os "endinheirados", felizmente, vão correndo para a loja comprar uma. Não admitem, mas vejo em seus gestos, que jamais pedalariam naquelas bicicletas.
A melhor, que tenho é uma GT Preta.`(A Tarja Preta, cuja estória será contada em outro momento)Todos só querem ela. Por isto mesmo sempe em mãos de um fregues , que praticamente monopoliza o empréstimo. E, como diz o ditado, ainda faz sombra com o chapéu dos outros, tomando-a de mim para emprestar a todos os seus convidados. Jamais este "cliente"quer uma cecisinha , barra forte ou assemelhadas; e ainda me provoca:"esta bike luxenta não combina com você...Vou pega-la para um amigo.." E vai mais:" Como voce só gosta da barra circular, não vou contrariá-lo. Fique com ela e eu levo a Tarja Preta para o amigo. Isto acontece, principalmente nos feriados mais longos. O pedido é sempre acompanhado de uma fatal expressão: só quero a Tarja Preta".. Já é dele....
Não me aborreço. Ao contrário, fico até contente: as velhas e enferrujadas estão aquecendo o mercado das novas e levando mais gente para os nossos pedais. Estão funcionando como marketing de compra das novas.Quando pedalo sozinho, a minha preferência, de verdade, é sem marcha, cesinha ou monareta, antiga, quase sempre enferrujada. Não é só por temer assalto. É porque, para simples passeio, qualquer bicicleta serve; desde que rode. Como posso ter uma melhor, tenho. Mas aí , confesso, é só para não me afastar dos amigos em passeios mais longos; que também gosto de fazer. E se ficar nas "pobrezinhas" serei por eles rejeitado. E não quero perdar as amizades "do lado de lá".(do luxo!).
Felizmente, minhas filhas nunca se importaram em pedalar em nenhuma das simples. Sofro porque deixaram de pedalar. Claro, o bom e caro é melhor. Mas porque só serve bonita, nova, cara?
Coisa de cultura. Ou falta dela. Não sei bem.
Se eu pudesse falar a todas as pessoas que deixam de pedalar somente porque não podem comprar uma bicicleta nova ou cara, sinceramente eu diria: voces são bobos; não sabem o que estão perdendo. Desde quando bacalhau era coisa de pobre, eu comia, sem nehum medo. E achava, como acho,até hoje, o melhor prato, a melhor carne do mundo. Passou a ser de rico, continuo comendo, felizmente. Não por ser rico. Mas por fazer um sacrifico que não me endivida. Nasci comendo jaca ,a melhor fruta que conheço.Como banana, melancia , em qualquer barraca da rua, desde que haja lugar para lavar as mãoes. Especialmente quando estou pedalando, prefiro parar nas barracas de frutas do que esperar a melhor comida pelos "15 ,minutos de garçom". para o almoço. Prefiro usar este tempo no pedal. A comida pode ser na barraca, ou em pontos de comida a peso.Tenho amigos como Bugarin, Itana Mangiere, Lazaro, Tony, Gilson Cunha , que comungam com este comportamento. Pedalando pelas ruas, paramos em barracas e degustamos as nossas deliciosas frutas.
Nem por isto deixo de gostar das coisas caras, boas, bonitas que eu possa pagar. Mas desde que sem sofrer. E e jamais sofrerei em pedalar com uma caloi barra circular, enferrujada, com bagageiro, em meus passeios jabutis solitários.
Qum não puder comprar um bicicleta cara, nova, tenha qualquer outra que rode e pegue a estrada. Voce será feliz do mesmo jeito que se pode ser comendo uma banana, uma jaca, uma melancia quando se gosta .
A final, não é somente nas quadras de tenis de Wembley(Guga), que se pode comer banana.
E , em uma bicicleta Opel, sem marcha, tipo barra forte, foi que um baiano pedalou de Salvador até Nova York. Levou dois anos pedalando. Será que, com uma de marcha, cara, fazendo em bem menos tempo, teria sidomelhor a viagem? Para mim, tal discussão não tem qualquer sentido. Tempo e conforto ficam de fora destas especulações sem fim. É coisa de cada um.
Que todos sejam radicais, para o caro ou para o barato.Eu sou do meio. Gosto do caro. Mas se não posso ter, ou não quero ter, não me envergonho das minhas sandalias; bananas;jacas e mochilas, ainda que de camelôs.Depois que as Havaianas foram usadas por Giele, o bacalhau passou a ser de cem para cima, do bom, aí todo mundo quer usar e comer. Não esperem acontecer o mesmo com as bananas e jacas. Nem o tempo passar para andar em suas bicicletas "de pobre".
A felicidade está no sabor da fruta e no que a bicicleta oferece de bonito. Jamais no seu preço.
No bikebook.blogspot.com há um texto nosso "AS MINHAS BICICLETAS. "Gosto de todas :caras e baratas. Por isto, nem tão alternativo. Mas o luxo, o caro, só por causa dos outros, jamais.Na vida e na bicicleta atrapalha quem não tem coragem de ser feliz por medo de comentários inibidores, mesmo inocentes de quem pertence ao " mundo do gastar" a qualquer preço.
Por isto, a publicação do texto abaixo, que achamos de grande significação.
Pelalando nas magrelinhas baratas, se não encontrar a felicidade não será, com certeza, por causa do seu preço.
A proposito, o texto abaixo que reproduzimos de site que postaremos o nome em outro momento:
"
Vejo muito o pessoal citando equipamentos caríssimos, dizendo que já fizeram toda série do Audax com uma Specialized, que viajaram 3 mil km com carro de apoio e massagista, botando empecilhos em tudo que é "comum", dizendo que é impossível viajar com bike de menos de 2 mil, que nada presta, que bla bla bla... falando muito e agindo pouco.
Por outro lado, vejo xirus locos que realmente transmitem inspiração, que fazem longas viagens com poucos recursos e bikes comuns, que fazem audax/rigonax/fodax com qualquer camelo, mostrando que o importante é aquilo que está acima da bike e a determinação que está na mente do xiru.
Deixo aqui então os meus sinceros parabéns a todos os mulambikers/ciclomendigos/cicloloucos e toda galera underground de raça!
Mulambiker que é xiru loco mesmo...
... não dá bola pra "estética" da magrela;
... não é assaltado, pois até os ladrões sentem pena dele;
... é rei do improviso e gambiarras;
... tem bike cafão e acompanha na raça os "Specializeds" e "Scotts";
... usa pedal de 10 pila ao invés do clip de R$ 250;
... pedala de havaianas/sandália/tênis, ao invés de sapatilha de R$ 350;
... usa bermuda comum e camiseta regata...
... pede água nas casas ao invés de comprar "gatorade" em posto;
... come paçoquinha, bolacha recheada e leite em pó, ao invés de gel e power-bar;
... detesta pacotes e passeios prontos de operadoras;
... leva sua barraca ao invés de reservar hotel com antecedência;
... se não tem chuveiro, toma banho de rio;
... se não tem rio, toma banho de torneira/mangueira;
... jamais cogitou a possibilidade de ter carro de apoio.
Grande abraço pra todos os ciclo-jaguaras!!!
Texto de Daniel.
Por Keko às 12:02 "
publicado no blog.............."
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Comentários
qua, 04/06/2008 - 10:55 — Anônimo
Mulambike
Não sei que é esse cidadão mas concordo com ele, as bike de Valci são excelente inclusive vi o filho de Bugarin com uma delas, e quanto a Bugarin comer na rua é a cara dele, quando ele saia da capoeira no SESC acompanhado de todos inclusive de King o profesor, compravamos uma galinha interia e varas de pão e saiamos comendo pela rua na maior farra, ele dizia que ele já era uma bactéria e não pegaria outra, recentimente ficou 7 dia internado com a dita cuja no corpo, mas o cabra é forte.
Meu caro, a bicicleta que o filho de buga pedalou, citada por voce, é uma das "chics" que separai para ele! Por favor , não misuture.rrss. obrigado pelo comentario, mais tarde postarei nome de quem escreveu e o blog genial. valci
Anonimo Tood
dos bons tempos, lembra Bug?
responder
qua, 04/06/2008 - 10:53 — Anônimo
Mulambike
Não sei que é esse cidadão mas concordo com ele, as bike de Valci são excelente inclusive vi o filho de Bugarin com uma delas, e quanto a Bugarin comer na rua é a cara dele, quando ele saia da capoeira no SESC acompanhado de todos inclusive de King o profesor
Editores: VALCI BARRETO, Advogado, estudante de jornalismo. Fones: 9999-9221 (Tim), 3384-3419 e 8760-7969 (Oi). Email: valcibarretoadv@yahoo.com.br. Colaboradores: Itana Mangieri, Alberto Bugarin e Sérgio Bezerra. Todos blogueiros, cicloativistas e amantes de livros, fotos e videos - Interesses do Blog: reportagens, artigos, com destaque especial para passeios de bicicletas, livros, cultura em geral, cicloativismo, cicloturismo e educação para o trânsito. Colaborações serão sempre bem vindas.
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