VENCENDO PRECONCEITOS
Valci Barreto.
Bikebook.blogspot.com
Muraldebugarin.com
São muitos o preconceitos a vencermos. Um deles é relacionado ao tipo de bicicleta: em alguns passeios, se formos com uma “bicicleta de pobre”, “neguin” olha atravessado, torce o nariz e só falta dizer:" aqui não é o seu lugar." Neste ambiente , você chegando com uma daquelas que já estão aí na rua de 15 mil reais, o abraço e a paparicação é certa. A inveja , o ciúme; a admiração também.
Porém, em quase todos os ambientes dos pedalantes baianos, mesmos nas tribos menos beneficiadas pela grana, ou seja, pobre de dinheiro, há uma rejeição às bicicletas: “de mulher”(quadro baixo arredonando, tipo Ceci); que tenha bagageiro, cestinha, espelho , descanso. E em relação a qualquer uma que tenha cestinha, bagageiro, retrovisores. Estes acessórias, para a maioria dos nossos bicicleteiros, é coisa de mulher, de pobre ou de tabaréu.
Não vou dizer que enfrento qualquer agressão preconceituosa. Porém, quando elas estão relacionadas às minhas bicicletas, respondo fácil: foi a única que tive dinheiro para comprar. A cesta é para carregar frutas da feira para casa; o descanso é para não sujar as paredes dos outros e os espelhos porque, além de ser obrigação da lei, são importantes para a segurança.
Vencer preconceito não é tão fácil. Seja ele qual for, porque está relacionado a uma cultura ou falta dela. Daí muita gente a eles se renderem notadamente os mais fracas.
Já fui vitima de muitos preconceitos, um dos mais sérios, por incrível que pareça, esteve relacionado a um fusca e a um del Rey Guia. O primeiro por causa da placa do interior. O segundo por causa de uns arranhões. Comprei este ultimo , usado , mas em muito bom estado. Usando sempre moto na semana e bicicletas nos finais, tendo-o apenas para transportar feiras e minhas filhas , ainda crianças, que moravam com a mãe, terminou o carro se transformando em um verdadeiro ferro velho: enferrujado, baratas fazendo ninho e, segundo um amigo, este sempre na base do bom humor, dizia "até pé de cana tem dentro"
Mas o que, confesso, me incomodava não eram as brincadeiras relacionadas ao estado deplorável a que deixei o carro chegar, por descuido e muita ocupação , à época. Viajava em carros do estado para o interior, passando às vezes 15 dias , um mês, e o carro lá tomando sol, chuva, vento e servindo de ninho de barata de um lixo próximo ao condomínio onde morava. Servia também como acento da meninada do Vale das Flores , parte alta, onde eu morei por alguns anos.Ficou famoso o Del Rey, não pela beleza de quando o comprei, mas pelo estado a que deixei o bichinho chegar. Mas rodava e isto me bastava.
Pois bem, quando saia, havia brincadeiras , as quais eu “entrava no clima”: “vou jogar no lixo e comprar uma Ferrari.” Dizia.
Mas havia aquelas formulações preconceituosas, agressivas no tom, na forma de olhar, no desprezo, no sarcasmo de alguns. Sempre os há. Mas, pelo menos para estes sempre me considerei forte para enfrentá-los. Se não o suficiente para vence-los, mas pelo menos manter a “distancia regulamentar” . Assim, foi e é fácil enfrentar os mesmos prenconceitos em relação às “minhas bicicletas” que, para passeios urbanos , tem que ter cestinha e retrovisor; pelo menos.
Escrevi um texto “as minhas bicicletas” que pode ser lido no Google, muraldebugarin.com e bikebook.blosgspot.com.
Itana fez um texto: “Minha bicicleta tem Cestinha”, que é um clássico em nosso meio em Salvador, pelo menos para os mais antigos bicicleteiros , o qual fez pessoas olharem com mais respeito o diferente, que é o comum em países civilizados, mas que não se enquadram no padrão imposto por grana e poder, em outros, que se refletem até no pito de uma bicicleta.
Pode ser até que este preconceito perdure em nossa comunidade baiana. Mas será por muito pouco tempo; porque as “meninas ao vento”, junto com os “meninos ao lado delas”, “junto a elas”, vieram para as ruas com as suas bicicletas, não apenas para pedalar,mas também para levar a civilidade, o respeito, a beleza e praticidade no uso da bicicleta , que não será a mesma sem cestinha; retrovisores ; descanso , bagageiro e buzina trin trin.
A certeza disso é ver uma Clarissa Borges festejando seu reencontro com a sua cecizinha . Antes, nem mesmo mulher queria usar “bicicleta de mulher” nas ruas de Salvador . Muito menos com cestinha, bagageiro ou retrovisor (este último, obrigado por lei)
Estou vibrando com a limpeza que estão ajudando a fazer em carros, motos, barcos, bicicletas e, sobretudo, nas cabeças das pessoas.
Em relação a barcos, assisti a uma palestra de Amyr Klink que anotei:
“conheço um navegador frances que tem um barco todo roto. As velas todas emendadas por ele mesmo com agulha e pano usado. Talvez no bolso não tenha cem dólares; mas pouca gente navega tanto e tanto faz pela navegação como ele, ensinando crianças a navegar pelo mundo."
Tenho um amigo , apaixonado pelo mar, que tem casa em Cayru e que põe um motor em um canoa de madeira , daquelas bem simples e nela se transporta para viver emoções que , quem escutá-lo chegará a conclusão de Roberto Carlos, importante são "as emoções".
Vi um relato de uma moça que navegou em um caiaque, do Rio de Janeiro a Santos, passou a noite de Revellion navegando, quanto o povo fazia a festa na praia de Copacabana. Este livro me mostrou o que eu não sabia, nem ela antes de da aventura: há pessoas navegando pelo mundo em caiaques.
Tudo a ver com “as minhas bicicletas” e com a cecizainha de Clarissa. Encomedei duas para Regis, uma será para Ana Eliza que também se apaixonou pela bicicleta que tem tudo a ver com o novo momento das bicicletas nas ruas de Salvador.