MINI JABUTI SOLITÁRIO DO CARNAVAL DE 2008.
Valci Barreto
Editor do bikebook.blogspot.com
Não deixei de gostar nem de brincar carnaval. Estou dando uma trégua. E, não viajando, dou uma passadinha em algum camarote, já que “a avenida não me pertence mais”.
Não festejem os concorrentes; ainda não me aposentei. Estou inteiro para enfrentar uma caminhada, dentro do Camaleão, em todo o seu trajeto.
O que me impede , em verdade, é o sofrimento para entrar e para sair do Bloco, causado pelos “animais” que sempre estão na rua para fazer dela o ambiente para revelar sua má formação moral, roubar, assaltar, violentar, agredir.
Para mim, não vale a pena atravessar os verdadeiros “corredores poloneses “ dos marginais, que nos espreitam a cada metro da pista, mesmo que seja para ouvir o Chiclete que continua me emocionando, especialomente nos carnavais. Antes de escrever esta parte do texto, tive o cuidado de ouvir outras pessoas, a fim de me certificar se não estava acometido do “pânico de multidão”. Felizmente não é o caso: muita gente se afastou da festa, até mesmo pessoas novas, por este mesmo motivo.
Óbvio que não tenho mais vinte aninhos. Também não cheguei aos oitentinhas. E, como a vida oferece tanta coisa boa, mesmo fora do carnaval , principalmente para quem ama outras coisas, como esporte e leitura, preferi fazer um Jabuti nas manhãs de carnaval, inclusive nas antecedentes.
Ficando eu em Salvador, mesmo se for para a folia, sempre pedalo nas manhãs dos dias de carnval. E também sempre li e trabalhei, ainda que menos, nestes dias. E ,mais que tudo isto, sempre pedalei nas manhãs de ruas fechadas ao transito, desde a Praça da Sé até Ondina.
Normalmente saio sozinho, vez que é difícil agendar, fazer coincidir meus horários com os dos meus companheiros de pedal. E também porque nem sempre estou certo de que alguém vai querer pedlar, com ruas vazias de carro, em rítimo Jabuti; ainda mais na companha de uma bicicleta velha, enferrujada,sem marcha, como são as que prefrio nos meus jabutis urbanos.
Assim, pedalei nas manhãs de quinta , sexta e sábado, em Salvador, fazendo o percurso Barra/Rio Vermelho, com várias voltas pela região.
No dia dois de fevereiro, também no pedal, levei flores para Yemanjá, antes da chegada dos inimigos da paz, pedindo-lhe para deixar um pouquinho o azul do mar, nos visitar e nos proteger contra os tormentos que nos causam os motoristas, notadamente de taxi e ônibus.
Após, voltei para casa, retornando à tarde para a feijoada do vereador Everaldo Augusto, onde estavam seus eleitores, deputado Álvaro Gomes, o assessor Cleber , Gilson Cunha , Rafaela e seus filhos.
Aproveitei para dar uma olhada na rua, em frente à do vereador , onde estavam reunidas pessoas bem animadas, com charangas, intelectuas, políticos, muita gente de branco, fazendo a sua festa muito particular.
Despedi-me de tudo e no dia seguinte segui para Guarajuba. Tinha intenção de fazer um bikebook por lá. Logo que cheguei, em torno de 16 horas, fui à JK BIKE , na entrada de Monte Gordo, e aluguei uma bicicleta,dez reais a diária, o que sempre faço quando não levo a minha magrela.
Como não estava na companhia de George, que só pedala comigo se eu estiver com uma bicicleta acima de cinco mil reais, ainda que seja a dele, emprestada, aluguei a de sempre: simples, velha, enferrujada, mas revisada, rodando normalmente, sem marcha.
Já comecei meu Jabuti ali mesmo. Circulada por Monte Gordo, dei uma passada no KI PICOLÉ , do senhor Cláudio, logo na entrada daquele povoado, Guarajuba, chegando em casa, no Genipabu Summer House, às 19 horas, aproximadamente, cheio de alegria, bons pensamentos e certeza de que faria o mesmo no dia seguinte, para mais longe.
Era meu treino para o pedal que faria no dia seguinte para Práia do Forte ou Ymbassay.
Amanheci com mais vontade de ler do que de pedalar. Iniciei, então, a leitura de "Os Irmãos Karamázovi, Dostoiévski, Editora Nova Cultural, até o meio dia. Almoçei, e em seguida fui realizar uma experiencia: pegar um ônibus para Práia do Forte e ali fazer o meu Pedal. Pedalei um quilometro e meio até a frente da entrada de Guarajuba para pegar um ônibus da Linha Verde. Sem qualquer dificuldade o cobrador pos minha magrela no bageiro ,cobrando uma taxa de dois pela condução da bicicleta e mais um real e oitenta centavos da minha passagem. Desci em Práia do Forte e fui, pela Vila, pedalando, parando, conversando, jabuticando. Atraído por livros nas prateleiras, e pelo nome da loja, entrei na JARDIM DAS LETRAS-Artesanato, Tabacaria e Cultura,(36761323 99756340), recentemente instalada por um casal de paulistas, muito simpáticos e atenciosos que mantifestaram o desejo de continuar na Bahia. Dei as boas vindas, votos de sucesso, retornando ao pedal. Mais umas pedaladas, Sol menos intenso, iniciou o retorno para casa, no pedal. Pistas largas, com acostamentos, pouco movimento de carros, não senti qualquer perigo.
Dei uma entradinha e circulada no povoado de Barra do Pojuca , onde se organizava a saída do que seria uma “caminhada da cidadania, ou caminhada da paz”, coisa assim, com carro de som e alguma pessoas fantasiadas dos mais variados personagens.
Parei em um supermercado para comer uma bananinha, madurinha, acompanhada de uma “rapadura de caju”, que não conhecia. Antes de degusta-la, li, o que sempre faço para saber a orgiem da indústria. Como era do Ceará, provei. Não era uma coisa gostosa. Mas também não era repugnante. Não morri , não tive dor de barriga, de sorte que ali voltarei para degustá-la mais vezes, na companhia de mais uma bananinha.
Dia seguinte, vou visitar casa de amigos em Guarajuba, com Ró. Aí não pode ser de bicicleta. Lá tive a surpresa de encontrar meu amigo de infância, de colégio, conterrâneo Carlos Eduardo Nery, médico e fazendeiro bem sucedido em Vitória da Conquista.
A conversa não poderia ser outra: bicicletas e livros, amigos, Jaguaquarenses, São João, apesar de estarmos no reinado do magro momo. Carlos Eduardo, Dudu, é um leitor voraz. Quando o encontrei, estava na rede, com os olhos pregados em As Mil e Uma Noites, afirmando que está lendo ou relendo os clássicos da Literatura Universal.
Entre os proveitos da conversa, ouvi as suas experiências de viagens que fez a Europa e Estados Unidos, a respeito de bicicletas:
Um lugar que escolheria para morar: OXFORD, na Inglaterra: quase todo mundo, de todas as idades, vão para todos os lugares de bicicleta.
Um brasileiro, filho de alemães, que se casou com uma sobrinha dele,
atualmente morando na Alemanha, vai todos os dias para o trabalho de bicicleta. ( e não é gente pobre não, viu, leitores?), pedalando , 40 km para chegar ao trabalho e mais 40 para retornar para casa.
Querem algo mais?
Tanto as bicis de Oxfort quanto a que o sobrinho de Dudu usa como meio de transporte, na Alemanha, são enferrujadas, velhas, e não têm marcha; acrescentou Dudua, depois da queixa que fiz do amigo George Argolo: "Diferente de seu amigo, ninguém lá exige que seu companheiro de pedal tenha uma bicicleta nova, de marcha, nem lhe " olha atravessado" por usar uma bicicleta comum."
Tendo alugado uma bicicleta comum, sem marcha, enferrujada, não teria coragem de chamar amigos meus, como George Argolo, para pedalar comigo em Salvador nem pela Linha Verde neste Carnaval, mesmo que lá eles estivessem. Todos iriam , como fazem a grande maioria dos nossos conterrâneos baianos, “me olhar atravessado”.
Por isto, mais um pedal solitário em Salvador, nas manhãs de carnaval, Guarajuba, Monte Gordo e Práia do Forte. E não foi a bike , velhinha, que me impediu de chegar a Ymbassay; porém a dedicação do resto do tempo, para a leitura, contemplação, a escrita desta pequena resenha, o aprendizado com o amigo Dudu que me deu ainda uma bela notícia: A Cidade Serrana, está com milhares de bicicletas sendo usadas como lazer e , principalmente, meio de transporte. Com ou sem marcha, caras ou baratas, as bicicletas estão ajudando as pessoas a viver melhor naquela cidade. Citou ainda, que o mesmo está acontecendo em Feira de Santana, Jequié e Cruz das Almas,cidades pelas quais passa ou visita, como exemplos maiores. Festejei a notícia. E pensei: nosso planeta agradece.
Quanta coisa boa acontecendo fora das cordas do carnaval, graças a livro, boas amizades e pedal, mesmo em bicicleta usada, velhinha e sem marcha!
Comprem e usem de todos os preços, mas não olhem “atravessados” para minhas “magrelinhas”. Elas me fazem muito bem. O mesmo que me faz os livros usados, velhinhos, do "Seu Alfredo", da Sete Portas.
E continuo amando, também, carnaval, Camaleão , Chiclete com Banana e Zeca Pagodinho. “Deixa a vida me levar,”... pelos caminhos dos livros, da bicicleta , da saúde , da paz e das amizades!
Só faltou uma coisinha: Não teve foto!
Publicado no muraldebugarin.com
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