Texto: Itana Mangieri
Há algum tempo venho acompanhando as manifestações sobre mobilidade urbana e, cada vez mais, fico surpresa com determinados radicalismos de todas as partes: cidadãos, ciclistas, motoristas e governo.
Antigamente o sistema ferroviário permitiu a chegada do desenvolvimento à muitas regiões do país transportando produções agrícolas, máquinas, pessoas .... Infelizmente esse meio foi perdendo espaço para estradas que escoavam produções com maior agilidade. Isso gerou o crescimento na industrialização e popularização de veículos, ônibus e caminhões. Passado algum tempo, as estradas já não eram mais suficientes ou trafegáveis para tal quantidade de quaisquer veículos com segurança, pois a pressa e prazo, tornaram-se prioridades sociais.
E todos sabemos que, com pressa, nada é feito com planejamento, adequação ou qualidade.
Para isso basta sairmos de casa as 6:30 hs da manhã e participarmos de um trânsito caótico com ruas e avenidas travadas, ônibus entupidos, motoristas irritados, cidadãos apressados e atrasados.
A necessidade e construção de mais ruas e avenidas, viadutos, corredores de ônibus e revezamentos de placas são medidas paliativas diante do crescimento do número de veículos. E o mesmo acontecerá com ciclovias e calçadas/passeios, pois a população cresce num ritmo maior.
Mesmo que, estas demandas, fossem equivalentes, continuaremos num círculo vicioso porque falta o básico para que qualquer projeto sobreviva, ou seja, educação.
É tão comum, e se tornaram banais, cenas do nosso cotidiano em que poucos cidadãos ainda se comovem com a falta de respeito pelos espaços e ruas públicas como motoristas de ônibus que não param em pontos porque tem horários a cumprir, não utilizando-se das vias exclusivas do lado direito, motoristas em geral que não respeitam faixas ou quaisquer sinalizações, dirigem ziguezagueando em alta velocidade, bêbados, exibindo som alto, jogando latas de cerveja e todo tipo de lixo pelas janelas, que não respeitam motociclistas e ciclistas, ou motociclistas sem capacetes, “costurando” nos corredores entre as faixas demarcadas (quando existem) nas ruas e/ou voando sobre veículos, acidentando-se cada vez com mais violência e traumas físicos, ciclistas pedalando também sem capacetes, do lado esquerdo das ruas e avenidas ou na contra-mão, pedestres que se recusam a compreender o real objetivo das faixas de pedestres, das passarelas e dos poucos minutos que os semáforos dividem de tempo para passagem entre veículos e pedestres.
Dirigir qualquer veículo é fácil. Aprender e respeitar regras no trânsito é que está difícil !
A irresponsabilidade no trânsito é geral. Todos cometem negligências e são coniventes: motoristas, motociclistas, ciclistas, pedestres e governos públicos (municipal, estadual e federal)
Sem educação ninguém sai do lugar !
Não adianta criticarmos governos e passeatas para construções de mais ruas, avenidas, viadutos, metrôs, corredores exclusivos, ciclovias, passarelas, faixas, etc ... se não houver conscientização de como utilizar uma obra pública com respeito, educação e solidariedade por todos.
Infelizmente, hoje o que impera, é a lei do “esperto” e, a multa por infringi-la, é grátis.
E nem o “terrorismo” ecológico vai mudar a situação caótica do trânsito (com ruas construídas com asfalto de pneus reciclados), pois ainda necessitamos da compreensão da população sobre a real diferença entre necessidade X conforto. Ainda existem seres humanos que tiram seus carros da garagem para exibi-los nas ruas com o objetivo de comprar meia dúzia de pães numa padaria a 100 metros de distância de sua casa contribuindo assim para o egoísmo social e saúde “Zero”.
Se muitos motoristas não respeitam as leis de trânsito e dirigem bêbados, também não devemos ser ingênuos e acreditar que a distância de 1,5 metros, que um veículo por lei deve se manter de um ciclista ou pedestre, vai assegurar e garantir sua vida.