terça-feira, 17 de janeiro de 2012

MANIFESTAÇÃO SEM FOCO DEFINIDO

Texto: Itana Mangieri
Ultimamente as manifestações e reivindicações estão mobilizando grande número de simpatizantes. A bola da vez agora é sobre a construção de camarotes para o carnaval 2012 na Praça de Ondina. Os ânimos estão alterados e o objetivo da reivindicação é válido mas não está claro. Há leis e regras que devem ser respeitadas e mensuradas para que todos possam usufruir do uso do solo público com coerência. A praça de Ondina estava abandonada, largada, imunda, degradada e sendo utilizada por cidadãos corajosos que ali procuravam um espaço para lazer e banho de mar. Até então ninguém, ou a massa, se manifestaram publicamente para obras de reforma e/ou melhores condições e estrutura da praça. Veio então a Prefeitura de Salvador e a reformou e, arbitrariamente, negociou parceria com empresários carnavalescos para utilização da praça na construção de camarotes privados. Porém (sempre os poréns ... rsrs), essa energia dispensada à manifestação popular é momentânea ou se repercutirá durante todo ano para expor à todos os cidadãos quais os efeitos da festa do carnaval na capital baiana ? Que é um incômodo a construção de camarotes na cidade, isso todos sabemos, pois nem ao espaço exclusivos dos passeios e calçadas temos o direito de utilizar enquanto as estruturas estão montadas. Mas e o “depois” do carnaval ? Essa nossa mania de problemas ou incômodos sazonais é que temos que mudar. Podemos e devemos visualizar o depois, o amanhã, os meses e anos seguintes. O carnaval da Bahia atrai turistas do mundo todo ? Sim. O carnaval da Bahia gera renda e empregos ? Sim. O carnaval da Bahia é lucrativo ? Sim. Mas e os cidadãos soteropolitanos que moram em Salvador, brincam ou não no carnaval, trabalham durante o ano todo, pagam seus impostos e usufruem dos serviços públicos, utilizam somente a Praça de Ondina como local de lazer ? Já que as últimas manifestações e reivindicações são por melhorias na cidade e para melhor qualidade de vida dos cidadãos soteropolitanos e demais, acho justo exigir o respeito da prefeitura para oferecer serviços e estruturas dignas à população, mesmo que, em parceria com empresários do setor privado. Mas não só em momentos sazonais, como a exemplo do carnaval, e sim para necessidades diárias e constantes como manutenção e conservação do Elevador Lacerda, Estação de transbordo da Lapa, metrô, Estação ferroviária, UPAS e Hospitais, segurança pública, capacitação profissional e dignidade social aos professores, ciclovias, asfalto e iluminação pública e transporte público suficiente para a demanda nos horários de pico. O foco deve ser visualizado além dos camarotes porque estes serão desmontados após o carnaval, mas se o foco ficar no carnaval, então sugiro reivindicar para uma necessária mudança de comportamento social de cada cidadão folião rico ou pobre, pois estes deixam de herança para Salvador, logo após o carnaval, surtos de conjuntivites, muita gravidez indesejada, lama de xixi em todos os cantos e muros da cidade, recém-nascidos abandonados no mês de novembro, praias imundas, proliferação de doenças sexualmente transmissíveis, monumentos depredados e uma lista extensa de outros prejuízos. Manifestar e reivindicar é preciso ! Mas com foco no amanhã. Nas necessidades básicas e na qualidade de vida.

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