quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Para quem gosta (ou não) de ler

Fonte: Almanaque Brasil - revista de bordo




Para quem gosta de ler
Por Tom Zé

Quando você vê alguém lendo um livro, presencia uma pessoa às voltas com uma grande exigência. A palavra escrita o põe na parede: pede pra ele uma integração que manda às favas a passividade. A leitura fricciona a percepção; é a fricção de duas pedras – fiat lux !
Não, quem lê não está imóvel, é puro dinamismo e motor. É como uma barriga grávida, num acelerado tempo de prenhez.
A leitura enfia-se no presente, fabrica o que virá. Quem lê é um da Vinci, diagramando recursos recebidos, aplicando cor. E fazendo.
A importância primeira do ato de ler é essa negação da passividade, essa incondicional exigência de ação. É um ato de otimismo intrínseco.




Para quem não gosta de ler
Por Rubem Alves

Nada tenho a dizer aos que gostam de ler. Eles já sabem. Mas tenho a dizer a quem não gosta; “Você não sabe o que está perdendo”. Ler é uma das maiores fontes de alegria. Claro, há livros chatos. Não leia. Jorge Luis Borges dizia que, se há tantos livros deliciosos, por que gastar tempo com um que não dá prazer ?
Na leitura, fazemos turismo sem sair de casa. O “Shogum” me levou ao Japão do século 16; “Cem Anos de Solidão”, que reli faz meses, me produziu espanto e ataques de riso. Achei que Gabriel García Márquez deveria estar sob efeito de alucinógeno.
Lendo, você experimenta seu mundo fantástico sem precisar de “aditivos”. É isso: quem lê não precisa de alucinógeno.
Pena que você, não-leitor, seja castrado para os prazeres que moram nos livros. Mas, se quiser, tem remédio.

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