terça-feira, 25 de dezembro de 2007

FALTA DE RESPEITO AOS CONVIDADOS OU INTERESSADOS.

Valci Barreto,
Editor do bikebook.blogspot.com,
do MEU ZINE e
colaborador do muraldebugarin.com

Em texto publicado no muraldebugarin.com, o ativista cultural ,Dimitri Ganzelevitch, protesta contra a falta de cumprimento de horário por parte de evento anunciado pela Conder.

Evidente que, para sermos justos, deveriamos ouvir a Conder, se quisessémos fazer algum julgamento. Acredito, no entanto, nas palavras do Dimitri porque o relatado pelo ativista está mais de acordo com a nossa "cultura".

Sou de Jaguaquara , interior baiano. Houvesse nascido em qualquer outro local, creio que seria cumpridor de horário, e faria de tudo para cumprir regras de bom viver e de respeito mútuo, mesmo quando relacionados a lazar, esportes, relações sociais.

Vindo morar em Salvador, gostando de estar em movimentos culturais, exposições, esportes, babas de práia etc. e bem jovem , de tudo queria participar, especialmente daqueles que não dependessem de por a mão no bolso.

Com o tamanho da minha Jaguaquara, então com com apenas cinco mil habitantes, chegava aos eventos esportivos, festas, em poucos minutos.

Tudo era mais fácil do que aqui, mesmo porque, até mesmo pelo " boca a boca," ficávamos sabendo se um evento iria ou não acontecer e em que horário. De todo jeito, não sentia tanto atraso como vim a conhecer em Salvador. Fiquei, um pouco disciplinado para cumprimento de horário.

Já com amizades em noosa Capital, e mantendo as dos meus conterrâneos que aqui estudavam ou trabalhavam, com uma certa frequência era convidado para lançamento de livros, exposições, teatros, ou mesmo festinhas, que não eram poucas, em casas de amigos.

Para as festinhas não havia horário rígido, como parece inexistir mesmo nos dias de hoje. Normamente se anunciava: Pode chegar a partir de......acrescido sempre do "mais ou menos", que atende ao hábito de qualquer retardatário contumaz.

Porém, para outros tipos de eventos, como casamento, babas, jogo de frescobol, lançamento de livros, exposições, palestras , aí o "bicho pegava". E ainda " pega" .... O pessoal avisava que seria tal hora e nada mais. Entendia que naquela hora realmente começaria, com as tolerâncias de eventuais pequenos atrasos.

Gostando de ler e tendo aqui chegado para estudar, fazer vestibular e trabalhar, tinha duas sensações muito ruins quando ia a um daqueles eventos e eles atrasavam:perda de tempo e falta de respeito a quem, atendendo ao chamado, chegava no horário.

Depois de umas experiências mal sucedidas, não querendo perder tempo com espera, deixei de ir , sem me arrepender: aos babas, lançamento de livros, exposições, palestras, shows de amigos em barzinho. Ontem, como hoje, se me interessar, vou ao bar, restaurante ou assemelhado para comer, bater papo, esperar ou não, sem compromissos, pelo evento.

Decidido pelo encerramento da minha "carreira" no futebol, festinhas, troquei-os pelo tênis , caminhadas, bicicletas. Nestes estou até hoje, especialmente por serem mais disciplinados com relação aos horários e por poderem ser praticados mesmo quando não havendo companhia. Se não comparecer algum companheiro, podemos "seguir em frente". O tênis pode ser praticado sem parceria, com bate -bola em paredões, comuns nos clubes destinados a este esporte. Bicicleta e caminhada, não tendo companhia ou a companhia atrasando, podemos, da mesma forma, dispensá-la. Pois bem, minha vida de frequentador de shows em restaurantes, bares, lançamento de livros, palestras foi encerrada, há muitos anos atrás, pelo menos como compromisso . Não deixei de ir. Nem deixarei, especialmente se for convidado por algum amigo . Amigo sempre merece algum sacrificio. E sendo amigo ficamos no direito de dar-lhe algumas "reprimendas". Convidado por algum deles, mesmo assim vou com duas armas poderosas: uma caneta , um cartão ou pedaço de papel para que , na hipótese de atraso insuportável para mim, deixar a minha marca: "Estive aqui. Não pude esperá-lo, desejo votos de sucesso." E assino.
Recentemente, aconteceu um fato que chegou a ser engraçado, já que eu não tinha compromisso, nem o artista comigo: Vi anúncio de show de um artista estrangeiro que aconteceria em um restaurante muito agradável no centro de Salvador, nas proximidades do Palácio da Aclamação. Covidei uma amiga para comermos , bebermos algo e resolvermos algumas questões profissionais. Aproveitariamos o momento para ouvirmos uma música, sempre presente naquele ambiente.
Li no realese do jornal que o show , happy hour , teria início, com o referido artista, às 18 horas. Sendo para nós impossível assistí-lo naquele horário, vez que nos reuniríamos às 22 , desistimos do show, mas não de estarmos no restaurante.
Chegamos lá às 22 horas. Ficamos até às 23.50. Às 23 adentro o artista que estava anunciado para as 18 horas, transportando seus equipamentos de som, instrumentos, etc. Curioso, pergunto ao garçom: É este o artista.....?(havia visto sua foto em jornais), obtendo resposta afirmativa. Prossegui perguntando se ele se o referido artista se apresentava naquele local mais de uma vez em cada noite, explicando-lhe que vira o anuncio do seu show para às 18 horas .
Respondeu, então, o atencioso garçom: "Não ; ele se apresenta em um só horário, que é as 18 horas. Mas é que ele às vezes atrasa um pouco."(?)
Eu e a amiga, em respeito ao garçom, prendemos o nosso riso. Se fossemos com intenção de ver o show às 18, certamente teríamos que prender a raiva!
Comentamos, então, como ficariam as pessas que leram a nota, sairam de longe para assistir o shou das 18 , que às 23.50 ainda não começara?
Claro que estes artistas, escritores ou editores de livros, discos, montadores de exposições, palestrantes, contumazes retardatários, não estão nem um pouco preocupados com os prejuizos causados aos outros ,com a falta de respeito ao seu público, muito menos quando se tratar de funcionários públicos.

Mais recentemente, recebi um convite de uma pessoa para uma exposição de pintura que teria lugar em uma bela casa no Morro do Gato. O evento teria início às 21 horas. Cheguei lá, como sempre procuro fazer, no horário. Igualmente ao caso do Dimitri, ninguém ali estava, exceto o caseiro. Não havia, sequer, sinal de que ali iria acontecer um evento daquele para o qual fora convidado. Perguntei então ao caseiro se eu estava no lugar errado ou se fora cancelada a exposição, respondendo ele que: " elas terminaram de arrumar os quadros agora ; foram para casa "se arrumar", "mas já estão chegando"!.....
Deixei meu bilhetinho com o caseiro. Não pude falar bem nem mal dos trabalhos dos artistas que expuseram suas artes. Até hoje não sei, nem tenho curiosidade de saber , se eram bons ou maus . Se elas não estavam se importando comigo, não poderia eu estar preocupado com êles. Não iria comprar nenhum quadro. Se fossem bons eu falaria bem. Se fossem ruins eu ficaria calado, o que seria um saldo positivo para os expostores, se me permitisse ver seus trabalhos.
Brinquei muito carnaval. Ainda brinco, embora de outra forma, e gosto muito. Muitos anos brinquei no Camaleão e nunca deixei de elogiá-lo pela disciplina do horário marcado para a saída. Não tenho lembrança de ter chegado ao local e não ter encontrado tudo organizado, pronto para sair , inclusive com seu astro maior, Bel Marques, com seu trio, e já pronto para o início da maior festa do planeta. O crescimento do carnaval da Bahia , pode determinar atrasos no horário da saída de qualquer bloco de carnaval. Mesmo assim , segundo me dizem, pois há vários anos não desfilo, no horario marcado toda a equipe do Camaleão está de prontidão para o início da folia. Eventos outros, fora do carnaval, organizado pela mesma equipe, que ainda tenho o privilégio de participar, não são diferentes. Primam pela organização, horário e respeito aos seus convidados.

No lançamento de um dos livros do jornalista e escritor Jolivaldo Freitas, vivi uma experiência muito positiva e animadora, demonstrando que nem tudo está perdido, que algo está melhorando. Marcado o lançamento para as vinte horas, lá estava eu , certo de que, sendo ele um rapaz "meio largadão", o que dá até um certo charme aos artistas de um modo geral, fui com as minhas municões preciosas, certo de que deixaria lá o meu bilhete. Para minha surpresa, lá já estava o escritor, de caneta na mão e já autografando para leitores mais pontuais do que eu: tres chegaram antes. Parabenizei os presentes e o escritor; e garanti: pode me chamar para todos os lançamentos dos seus livros que lá estarei. Desta vez, atrasados estavam alguns admiradores do Joli: foram chegando aos poucos, com bastante atraso, formaram uma grande fila . Para o escritor até que não foi ruim: levaram todos os exemplares.

Parece que os escritores baianos estão formando esta safra de cumpridores de horário no seus lançamentos. O mesmo tenho experimentado nos lançamentos de livros do nosso querido homem de TV , e escritor, Ruy Botelho. Por isto, avisado ou não, em lançamentos destes dois , estarei lá para receber a homenagem do autografo em suas obras .
Ninguém é perfeito. Atrasos podem ocorrer. Porém, fazer disto uma regra, desrespeitar horários marcados , sacrificar quem atendeu ao chamado, muitas vezes sem a mínima de satisfação, são atitudes com as quas não podemos conviver.
Por isto meu caro Dimitri, não farei como você, deixando de ir. Faço um "estudo" se vou ou não. Decididio pela ida, vou. Mas de papel e caneta, estas armas poderesos, e, se quem convidou não aparece, ou atrasa muito, deixo meu recado. Se ele não se importou comigo, não serei eu que irei me preocupar com ele. E nem vou ter a curiosidade de saber se meu bilhete vai ou não ser entregue. Ajo assim para manifestar o meu respeito a educação que eles não tiveram por mim nem pelos demais convidados.
Sem ser atleta, sou do mundo dos passeios ciclísticos. Todos sabem deste meu princípio. Convivo muito bem com ele. Não me importo se me acharem um chato. Prefiro ser chato e utilizar meu tempo em outra coisa do que ser bozinho e gastar na espera do retardatário. Também não peço que me esperem. Sem stress, sem dores, sem arrependimentos, sem perder o sono, marcado o horário, não chegando o parceiro, prefiro sair pedalando sòzinho por aí. Dos palestrantes, notadamente das "vedetes" que costumam atrasar, as quais normalmente conheçemos muito bem, meus olhos e ouvidos já estão protegidos contra elas há muitos anos. Dos pedalantes que não gostam de cumprir horário, já estou deles divorciado, dispensadas pensões e partilha de bens; e estamos muito bem assim : eles lá e eu cá.

Esperar, a não ser por amor, dinheiro, vantagens econômicas ou sentimentais, só abro exceções para um artista que merce, em qualquer circusntância , ser esperado: João Gilberto. Quando compro bilhete para um show anunciado deste artista, e ele atrasa , ou não comparece, sempre o perdôo; não me aborreço e nem deixo bilhete. A final, quem ama a arte do João já sabe que ele pode atrasar, ou simplesmente não comparecer. Nós, amantes da sua musicalidade, sempre observamos aos que não o compreende: Quem disse que eu comprei para ouvi-lo? Quero ir, comprei o ingresso, irei; mas ele não é obrigado a fazê-lo. Muito menos chegar no horárío. Estrela verdadeira, brilha sempre. A rotação da terra apenas esconde o brilho do sol, mas não o torna menos quente. João não é menor por ser esperado ou por não comparecer. Até o seu silêncio é uma sinfonia. Os ouvidos dos seus admiradores , como os meus, sabem disso. É a única estrela que merece uma espera . Por sote, a todos que fui, lá no palco ele esteve .Acho até que sabia da minha presença porque sequer atrasou. E nunca foi tão João nem tão Gilberto. Meus ouvidos tiveram a sorte de ouvi-lo , ao vivo, junto com uma das minhas filhas; e até hoje comentamos e comemoramos aquele dia...
Abriria exceções para outras entidades: Pelé, Garrincha e The Beatles . Como o primeiro deixou a bola , Garrincha e os Beatlles não mais existem, esperareei apenas por João Gilberto para seus shows, aos quais ele pode atrasar, comparecer...ou não...

No mais, prefiro deixar meu bilhetinho:
" Estive aqui para lhe ver, mas não dei sorte. Esperar não podia. Desejo a você e ao seus todo o sucesso do mundo. Valci."

Nenhum comentário: