NO PEDAL PARA A COLINA SAGRADA.
Valci Barreto
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-Até 1976, quando trabalhava em um banco, no bairro do Comércio, via passar o cortejo da festa do Bonfim com as suas carroças enfeitadas, muita gente bonita queimada pelo sol da Bahia, charangas que todos conhecem. Quem podia participar, de verdade, da festa eram: estudantes, turistas, funcionários públicos, professores, desempregados ou autônomos, figuras carimbadas das praias do Porto da Barra , Pituba e de todas as festas de largo da nossa Capital. Isto porque, mesmo naquela região, o comércio abria normalmente.-As pessoas que trabalhavam em banco, casas comerciais, só poderiam seguir o cortejo se estivessem na condição de proprietários, gerentes, se o patrão fosse muito bonzinho e os liberasse “um pouquinho”. Superiores, bem superiores hierárquicos, como muitos dos que eu conhecia, seguiam meio escondidos, como a dizer ou dizendo: “vou resolver coisas na rua”. No caso dos bancos, os gerentes tinham desculpas mais convincentes para uma ligeira fuga: “visitar clientes potenciais”. Os mais arrojados, que tinham a coragem de assumir que estavam indo “apenas dar uma olhadinha”,normalmente voltavam logo “para dar exemplo” aos seus subordinados.Para os sem "sem cortejo", aquilo era mais tortura do que prazer; porque tinham que se contentar apenas em ver,em olhar os “abençoados.” Acostumados, ninguém se queixava tanto.-Muita gente perdia emprego em carnaval e festa do Bonfim naqueles tempos. Para quem não tinha a mesma coragem, a vingança só poderia acontecer após o expediente e nos sábados e domingos seguintes. Até que eu não sofria tanto em ver tudo aquilo. Sendo do interior, não conhecendo nem tendo participado daquelas caminhadas, não conhecia o fascínio que exercia sobre as pessoas. Comigo isto veio acontecer mais tarde: foi só participar da primeira.
-Depois do banco, entrei para a Faculdade. Havendo aula naqueles dias , preferia deixar a festa para a noite ou para o final de semana.-A composição oficial da festa envolvia um grupo de ciclistas com suas bicicletas enfeitadas de papéis, tecidos, bandeiras, plásticos nos aros e raios, panos brancos , miçangas, fitinhas do Bonfim, com as cores da Bahia. Era o grupo que abria o cortejo, que seguia na frente. E era onde eu desejava estar um dia. Aquele desejo, mesmo moderado, jamais saiu de mim.-As bicicletas deixaram de compor a parte oficial do cortejo. Porém ,teimosas, jamais deixaram de seguirem até a colina. Em todas, individual ou em grupos, os ciclistas sempre apareceram para fazer a sua festa. É assim que também tenho feito.É bom participarmos com outras pessoas de emoções, prazeres que a vida oferece, muitas vezes a custo econômico baixo. A bicicleta me proporciona isto. E não estou só neste viver/pedal. Por isto, há muitos anos, anuncio, marco com amigos, um encontro às 8 horas, em frente ao Elevador Lacerda para seguirmos pedalando até a Colina Sagrada. Oito horas é um compromisso comigo mesmo. E é também para amigos que queiram fazer um encontro, ainda que breve, para seguirmos. Aparecendo ou não pessoas, sigo em frente. Mas ainda não aconteceu de ir sozinho. Sempre aparece alguém; e grupos vão se formando espontaneamente, com pedal educado e muito divertido.Comumente, durante o pedal, alguém do grupo toma a iniciativa de arrecadar, entre os ciclistas agregados, centavos, reais, destinados a compras de alimentos que são entregues no Hospital Irmã Dulce.-Tive como parceiro, por vários anos, o Professor de Direito, Deraldo Brandão. Ultimamente não nos tem acompanhado.Depois tive, e ainda tenho, a companhia do Lázaro , do NATURABIKEAÇÃO . Muitos outros ali também aparecem. --No ano passado, apareceu a nossa querida , professora/cicloativista Luzia Teles. Estava sem poder pedalar, mas estava em condições de seguir a pé. Pedi licença ao pessoal da bike, deixei a minha na Lanchonete do Edson e, solidário Luzia, seguimos a pé, com mais uma amiga. Gosto de participar de qualquer jeito desta festa. Mas não achei ainda outro melhor do que ir afagando a magrelinha. Se ninguém aparecer, vou só. Mas nunca isto aconteceu. Há sempre alguém para fazer o mesmo.
É como irei, todas as vezes que estiver em Salvador, não estar doente ou não ter quem me substitua no trabalho. Tenho sido abençoado pelo senhor do Bonfim: Há muitos anos que a sorte me tem beijado nestes dias. Espero que assim seja todos os anos, enquanto viver e poder pedalar.Quem achar que precisa de convite, sinta-se convidado: estarei, às 8 horas, em frente ao Elevador Lacerda, Monumento de Mário Cravo, no dia da Festa do Bonfim . Posso até chegar antes. Mas 8 horas da manhâ é o meu compromisso. Se eu não aparecer, algo aconteceu. Mas não será motivo para você não manifestar a sua fé, da melhor forma que sempre achei de ir à colina sagrada: no pedal. Tanto para ir, como para voltar!“QUEM TEM FÉ, VAI E VEM NO PEDAL!É como irei e voltarei, mais uma vez neste janeiro de 2008.
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publicado no muraldebugarin.com e no bikebook.blogspot.com
Editores: VALCI BARRETO, Advogado, estudante de jornalismo. Fones: 9999-9221 (Tim), 3384-3419 e 8760-7969 (Oi). Email: valcibarretoadv@yahoo.com.br. Colaboradores: Itana Mangieri, Alberto Bugarin e Sérgio Bezerra. Todos blogueiros, cicloativistas e amantes de livros, fotos e videos - Interesses do Blog: reportagens, artigos, com destaque especial para passeios de bicicletas, livros, cultura em geral, cicloativismo, cicloturismo e educação para o trânsito. Colaborações serão sempre bem vindas.
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