quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

JABUTIS NO VALE DO JIQUIRIÇA / PROJETO SEMENTE

- Clique nas fotos para ampliá-las
- No Blog http://www.muraldebugarin.com/ já estão postadas + de 300 fotos desta aventura


Texto: Itana Mangieri

Quando recebi o convite para participar desta cicloviagem pelo Caminho da Paz fiquei um pouco na dúvida, pois estou um pouco enferrujada, mas depois pensei: “no ritmo dos Jabutis eu agüento”. Então decidi ir.
Valci, eu e George fizemos uma reunião improvisada para organizarmos alguns detalhes, pegar algumas dicas com George que já tinha realizado a Estrada Real em MG de bike e dividir algumas tarefas. Rabisquei um jabuti numa bike e mandei imprimir em 5 camisetas para nos padronizarmos (rsrs) para esta aventura. Iniciamos o corre-corre de revisões nas bikes, alforjes, bagageiros, o que levar, ferramentas, acessórios, kit de primeiros socorros, passagens, etc... E às 5:00hs do dia 26 de dezembro estávamos na rodoviária de Salvador prontos para o embarque: Eu, Valci, George, Buga e Rose.
A viagem foi divertida saboreando tapioquinha molhada e passando por Sto.Antônio de Jesus, Cachoeira, São Feliz, Muritiba e finalmente Amargosa (ponto inicial do pedal).
Nossa preocupação inicial era com Buga que, além de ter esquecido de tomar seus remédios diários ainda os esqueceu em casa. Decisão unânime: só partiríamos com ele se ele comprasse seus remédios numa farmácia local e assim foi feito. Passamos na pousada do Bosque para pegar nossas credenciais com o roteiro do Caminho da Paz, arrumamos nossos bagageiros, enchemos os hidrates e caramanholas, comemos frutas, tomamos uma vitamina de banana e iniciamos nossa aventura pelo Caminho da Paz ! Foram 4 km de tranqüilidade entre paisagens bucólicas sob um sol castigante das 14 hs.
Paramos para tirar foto em cima de uma ponte e iniciar nossa primeira ladeira, digo, paredão ! Um susto ... interminável, de cascalho e inclinação de 45 graus ! ... coisa para “Dinos”. George (Dino) seguiu em frente e nos aguardou próximo do final. Fui a segunda a chegar e esperar. Quando avistamos o restante do grupo, Valci estava empurrando sua bike e a de Buga. Descemos para ajudá-los. Buga estava vermelho e minando de suor e, para nossa surpresa e tranquilidade disse: “Não vou forçar”. Descansamos um pouco e ligamos para nosso próximo ponto de apoio, no Alto da Lagoinha, e solicitamos um carro para buscar Buga. Ele ficou aguardando seu resgate e nós seguimos pedalando. Na quarta ladeira eu e Rose começamos a sentir enjôos e tonturas. Deitei no chão e aguardamos Buga passar para pegar carona no resgate. Em minutos ele chega com nosso anjo-da-guarda: Reny. Colocamos as bikes na caçamba do carro e seguimos para o Bar do Roque onde paramos para tomar um refrigerante e aguardar Valci e George para uma merenda (sanduíche de sardinha).
Seguimos para o Alto da Lagoinha. Um vilarejo pequeno e acolhedor. Tão acolhedor que fomos recepcionados com uma jaca docinha. Edson, que coordena os peregrinos da Paz, nos dividiu em grupos para acomodação em casas de moradores, pois lá não há pousadas. Fomos acolhidos pelas famílias de dona Nilda, Profª.Selma e dona Fátima. Eu e Rose estávamos jantando quando, Vagner (filho da Profª.Selma) entrou na cozinha e nos informou que George, Valci e Buga estavam nos convidando para jantar com eles, pois preparavam uma macarronada. Eu pedi à Vagner para não comentar que estávamos jantando (não queríamos magoá-los). Comemos pouco e seguimos para a casa da Profª.Selma para jantarmos (de novo rsrs) todos juntos.
Foi um jantar deliciosamente divertido entre o tempero Argolo, as poesias dos alunos da Profª.Selma, fotos e novos amigos. Em seguida seguimos para uma caminhada pela rua principal do Alto da Lagoinha, acompanhados de Vagner, sob um céu estrelado, ao lado das luzes de Natal que ainda piscavam e brilhavam na decoração das casas, noite serena e cantando Noel Rosa e Chico Buarque !
No dia seguinte, subimos até o Morrinho de São José (680 mts altitude). Eu, Rose e Buga de carro com Reny, Vagner e Netinho. Valci e George subiram pedalando. Os dois chegaram ! E nesse momento decretamos que Valci não é mais um Jabuti. Passou para a categoria “Dino” rsrs !
O visual lá de cima é magnífico ! Paisagens verdes à perder de vista e um silêncio ecológico relaxante !
George desceu “avionado” as ladeiras do Morrinho observado pelas plantações de cacau e nós ainda paramos numa nascente para beber água cristalina e potável.
Já eram 11 hs e o sol estava alto e quente. Adiantamos o pedal eu, Buga e Rose e combinamos de nos encontrar na cidade de Jiquiriçá. Valci e George ainda ficaram e almoçaram com a família da Profª.Selma. O calor e as ladeiras nos obrigavam a empurrar as bikes. Cada parada era acompanhada de um bom papo com algum morador da região ou algum motoqueiro de passagem. Numa destas paradas para um pequeno descanso, parou um rapaz para papear conosco que vinha do sentido oposto. Era o Júnior, diretor da escolinha do Alto da Lagoinha. Conseguiu-nos alguns telefones de pousadas em Jiquiriça e até se ofereceu para levar nossas mochilas caso estivéssemos no mesmo sentido que ele. As estradinhas de terra eram recheadas de ladeiras, curvas e coloridas abundantemente por jacas, cacaus, cajus e mangas. Nosso próximo destino era em Mutuípe e quando chegamos na estrada de asfalto o pneu de Buga furou. Enchemos com a bomba um pouco e conseguimos chegar até Mutuípe. Lá fomos á uma borracharia para o conserto e locamos a van do motorista Leandro para nos levar até Jiquiriçá, pois eu estava preocupada com o sol forte e o esforço de Buga. Ao chegar, procuramos algumas pousadas para nos hospedar e, por causa de um casamento estavam todas lotadas. Nosso anjo-da-guarda, desta vez, foi o Seu Pedro que nos indicou a pousada da Dona Zeninha e Seu Tavinho que nos acolheu com muito prazer. No final da tarde, chegaram George e Valci contando as peripécias do percurso deles, como a descida numa ladeira cheias de bois onde George desceu correndo e Valci, com receio de escorregar no cascalho e com medo dos bois, retornou ladeira acima empurrando sua bike à passos ligeiros (rsrs).
Depois de todos reunidos e banho tomado fomos para o centro de Jiquiriça procurar um restaurante para almoçar (ops ! jantar) ciceroneados pelo menino Nicholas, neto do Seu Tavinho. O garçon Ailton nos serviu carne ensopada com feijão tropeiro, arroz e a indispensável salada de tomate para Valci. Depois saímos à procura de uma lan-house para descarregar nossas fotos dos cartões de memória. George me emprestou seu minúsculo pen-drive para gravar as fotos lá, mas a lan já estava fechada. Fomos então, eu e Valci, tomar um picolé na locadora de vídeo de Rodrigo e batermos um bom papo sobre filmes. Ao chegarmos na pousada do seu Tavinho, pedi a Valci que devolvesse à George seu minúsculo pen-drive que estava num bendito saquinho hermético.
No dia seguinte, acordamos cedo, arrumamos nossos alforjes (os alforjes de Valci foram apelidados de caçuá, pois era mais prático perguntar à ele o que ele não havia levado lá dentro além do básico Kit Jabuti: caneta, carimbo, blocos de papel, capa para livros, chapéu de mexicano, chinelo havaiana, ... até um pacote com 4 rolos de papel higiênico lá tinha (por precaução na estrada) rsrsrs) e fomos tomar café no mesmo restaurante onde jantamos na noite anterior. De repente ouvimos um grito: “Valci ? É você ?”. Era um colega de Valci, Dr.Nery, também advogado e filho de Jiquiriça que por lá estava para as festas de final de ano. Acompanhou-nos no café da manhã entre um bom papo matinal. Fomos atendidos novamente pelo garçon Ailton que cedeu à Valci tomates para ele preparar sua indispensável salada de tomate (mesmo no café da manhã rsrs). Decidimos seguir de bike pelo asfalto até Ubaíra. Lá, Buga pegaria um transporte até o Projeto Semente e nós seguiríamos de bike pela estrada de terra. Ligamos para Antônio Presídio para comunicar nossa chegada na pousada e seguimos, acompanhados pelas crianças de Jiquiriça, até a saída da cidade. Paramos para muitas fotos na estrada e para conhecer o Horto Maria Flor.

Chegando em Ubaíra, mais fotos no casarão colonial, na praça da Igreja Matriz com seu coreto e paramos na Pousada da Dona Lúcia. Ao entrarmos fomos recebidos com um sorrisão largo e o convite para fotografarmos seu jardim e presépios. Fomos convidados para entrar e conhecer a pousada estabelecida num casarão antigo com pé direito alto e móveis coloniais.
Ela ligou para Neto, que tem um caminhãozinho, para ele vir buscar Buga, mas Neto, com seu poder de persuasão, convenceu à todos que o trajeto de bike na estrada de terra seria muito difícil devido às ladeiras e que deveríamos ir todos juntos no caminhão. Topamos !
Ao chegarmos ao Projeto Semente, Zé Filho veio nos recepcionar pedindo desculpas pois imaginava que chegaríamos no final da tarde e os quartos ainda não estavam preparados e que o restaurante não tinha como preparar o almoço para nós. Devido à tanta gentileza e preocupação, culpamos (rsrs) Neto por nos convencer a ter vindo de carona com ele e que o percurso até o Projeto Semente foi ameno e com somente com duas ladeiras. Entre as brincadeiras, insinuações de processo por propaganda enganosa da estrada e malabarismos que os meninos da cidade, que nos acompanharam no caminhão, faziam em nossas bikes para demonstrar suas habilidades e descansando sob a sombra de um enorme fícus na entrada da fazenda, descobrimos que Neto também possui um restaurante e encomendamos nosso almoço que foi-nos entregue por um motoqueiro no meio da tarde.


Projeto Semente


Zé Filho foi correndo chamar dona Maria para arrumar os quartos para nos acomodar e ela chegou com lençóis nos braços perguntando em quais quartos nós gostaríamos de ficar. Enquanto isso, fomos tomar uma ducha e ficamos brincando na piscina até o almoço chegar.


O último a pular na piscina foi Valci e, segundos depois, Buga acha um saquinho boiando na água e pergunta o que é isso ? Eu gelei ! Era o minúsculo pen-drive de George que estava no bolso da bermuda de Valci e que ele não lembrou de devolvê-lo à George na noite anterior.
Resultado: George me olhou atravessado, deu-me uma bronca, disse que a culpa e responsabilidade eram minhas, nhén-nhén-nhén-nhén ... Mas, para minha sorte (rsrsrs) fui salva e perdoada pelo bendito saquinho hermético que estava bem fechado !!! (ufa ! rsrs).


Almoçamos todos juntos ao lado da piscina e depois fomos dar um cochilo pelas diversas redes espalhadas pelo jardim – lugar e ambiente perfeitos para uma “desligada” física e emocional. Após um cochilo e fotos, fomos para a piscina curtir o finalzinho da tarde.


Eu, Buga e Valci estávamos curtindo o solzinho fraco, o silêncio, a leitura e os pássaros.
De repente .... “práprápráprá...”
Olhei para os lados. Ninguém se moveu e continuei a curtir aquele momento relaxante.
Minutos após, de novo: “práprápráprá...”
Olhei para Buga e perplexa comentei: “Pô Buga ! que intimidade é essa ? Fazem só 3 dias que estamos pedalando juntos e você não reprime mais seus gases ao meu lado ?”
Kkkkkkkkkkkkkk...
Neste exato momento chega George, deita-se numa chaiselong ao meu lado e, sem cerimônia, repete o gesto de Buga: “Práprápráprá...”
- “Pô ! Desse jeito estou me sentindo o recheio de um sanduíche gasoso”
Kkkkkkkkkkkkkk...
Então, entre as gargalhadas, Zé Filho avisou-nos que já havia ligado a sauna para nós. Corremos para lá e relaxamos por cerca de 1 hora conversando sem parar, contando causos e filosofando entre nuvens e aroma de eucalipto. Saímos da sauna direto para um pulo refrescante na piscina.
Já de noite, enquanto aguardávamos o horário do café, fomos eu, George e Buga para o templo, orar, refletir, relaxar e meditar acompanhados de música new age e incensos. Foi um momento mágico de silêncio interior, equilíbrio emocional e espiritual sob o brilho das estrelas que nos observávamos através do vidro das janelas.
Esse momento de comunhão silenciosa terminou após uma hora quando o relaxamento total de Bugarin, físico e muscular nos alertou com seus sonoros “práprápráprá...” (rsrsrs).
Seguimos para o restaurante onde saboreamos um café gostoso com aipim, banana cozida, leite, pão caseiro, bolo etc ... Entre fotos e conversas, George comunicou que iríamos embora no dia seguinte e Buga quase pirou: “O quê ? ... deixar um local abençoado desse para voltar pra Salvador ? Eu me programei pra ficar aqui até dia 30 e amanhã são 29. Eu não quero ir“. Rsrs
Pra dizer a verdade, ninguém queria mais ir embora, mas os compromissos profissionais e plantões nos aguardavam.
O Projeto Semente é tão acolhedor que, quem conhece, sente-se adormecido como um bebê no colo. E quem é que não necessita de um relaxamento tão puro assim ?
Após o café, subimos para a piscina novamente e ficamos lá, ao lado de uma fogueira, batendo papo até que, Zé Filho nos emprestou um violão (uauaua) e, finalizamos nosso dia às 23 hs numa noite serena, aquecidos pelo calor de da fogueira, saboreando licorzinho de passas, cantando e tocando violão numa solidária serenata.
Buga acordou cedo e saiu pela fazenda para fotografar. Em seguida levantei e fui com ele comer acerola no pé. Encontramos Valci, já lendo seu inseparável livro emprestado, a auto-biografia do ciclista Lance Armstrong e, em seguida acordou George.


Resolvemos subir no morro vizinho para conhecer e fotografar um casarão antigo em ruínas. Na cancela da fazendo encontramos com Zé Filho que nos acompanhou até lá em cima, no casarão em ruínas, junto com uma chuva fina e refrescante, e foi nos explicando sobre as propriedades locais, fábrica de queijos, atividades sociais do Projeto Semente, escolinha de atletas, coral infantil, catando mangas e cajus e rindo das nossas trapalhadas pelo caminho.


Ao descer nos reunimos no restaurante para um delicioso café da manhã e decidimos ir pedalando pela estrada de terra até o asfalto para lá, aguardarmos um ônibus para Bom Despacho. Ali, Buga ainda reclamou por não querer ir embora (todos sentiram o mesmo) e ameaçou “abrir o gás” rsrsrs ... Entre tantas gargalhadas, definiu-se a nova empresa concorrente da Liquigás e Brasilgás ... a BioBuga ! rsrs. Ainda tivemos tempo de fotografar o Roseiral, à convite de Zé Filho, onde tinham alguns pezinhos de morangos (fui ao roseiral e comi todos os morangos que fotografei ... rsrs), arrumamos nossas bikes e alforjes, carimbamos nossas credenciais e ganhamos um Certificado de Peregrinos do Caminho da Paz, assinamos o livro de visitas com mensagens de que voltaremos, nos despedimos da família Projeto Semente com um aperto no coração, passamos na lojinha para comprar camisetas e seguimos nossa ultima pedalada, tendo crises de risos ao lembrar nossas alegrias nesse lugar mágico !
Ao chegarmos ao asfalto, aguardamos uns 15 minutos para embarcarmos num ônibus até Bom Despacho. Pegamos o Ferry-Boat e retornamos para nossos lares em paz, íntegros e espiritualmente mais leves (principalmente o Buga )!

Nossos agradecimentos especiais à Antônio Presídio, Maria e Djalma Leandro pelas informações técnicas, suporte e atenção durante nosso percurso, à Zé Filho e Maria pelo acolhimento e sensibilidade como nos receberam, à todos que compõem a família Projeto Semente e à todos os amigos que fizemos pelo Caminho da Paz: Day, Edson, Reny, Roque, Edson, Nilda, Dona Fátima, ProfªSelma, seu filho Vagner e sua família, Leandro (da van), Seu Pedro, Seu Tavinho e seu neto Nicholas, Dona Lúcia e Neto (do caminhão).

4 comentários:

Gabryella disse...

Nossa show de relato! Sabe que me deu até vontade de ir.
Deve ter sido maravilhoso, as fotos estão ótimas.
Itana, fiquei com inveja de ler você comendo morango no pé! Hum....quem dera tivéssemos isso por aqui, rsrsrsr....
Beijos.
Gabryella Rodrigues

Silvio Gustavo disse...

Só tenho uma coisa a dizer: SHOW!

Muito bacana essa expedição... Gostei demais das fotos... Parabéns!! E meu amigo George? Se comportou bem?? ehehehehe

Grande abraço pra todos!

Sérgio Bezerra disse...

COVARDIA MARCAR UMA VIAGEM DESSAS JUSTO QUANDO ESTOU COM A MÃO ARRUINADA!!!!!!

BUÁÁÁÁÁÁ!!!!

Anônimo disse...

QUE MARAVILHA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Ficamos babando só de ver as fotos e ler o relato.

A todos aventureiros, nossos Parabéns.

Beijos no coração de todos e a certeza que 2009 já começou com a roda direita, rsrsrs. Muitas viagens cicloturísticas para todos nós.

Beijocas
Aléssia e Alexandre