domingo, 8 de fevereiro de 2009

SALVADOR ,CAPITAL DO BARULHO.

Valci Barreto
Editor do bikebook.com.br
colaborador do muraldebugarin.com



A Organização Mundial de Saude elegeu Salvador como a capital do barulho. O Correio da Bahia do dia 08.02.2009, traz ampla matéria sobre o tema que pode ser acessada, gratuitamente, pelo site www.correiodabahia.com.br.

Vindo do interior, logo que cheguei em Salvador surpreendi-me com a cultura do barulho em nossa capital, o prazer que as pessoas nutrem por som de elevados decibéis. Confesso que me incomodava muito quando em algum onibus presenciava um grupo de garotos , adolescntes, e até adultos , batucando, batendo nos equipamentos e até nos vidros daqueles veiculos. Achava, como, ainda acho, uma coisa , deselegante, desrespeitosa, incomodativa.Os olhares, reações de pessoas que ali estavam , diziam-me, claramente, que não era apenas eu o incomodado.Mas, como hoje, ninguem tinha coragem de fazer algum tipo de pedido para , pelo menos, diminuir a intensidade do som.

Como compensação via em algumas ocasiões ,naqueles mesmos veículos,grupos que batucavam em latas, pandeiros, equipamentos percursivos, fazendo sons harmonicos, emocionates até, sem maltratar os ônibus nem os ouvidos das pessoas. Recentemente assisiti a um destes, vindo do centro da cidade, em direção à Barra, que foi até aplaudido pelos passageiros, pela harmonia, musicalidade e respeito revelados na execução musical.

Aos poucos, fui lendo, ouvindo muitas falas elogiosas aos barulhos soteropolitanos, como coisa da "cultura baiana". Não havia ainda, nos carros, os equipementos, caixas de som que se assemelham aos usados em trios elétricos .

As coisas da Bahia, que são também minhas, me fascinam: mar, festas, Porto da Barra, ilhas, Caetano , Dorival Caimmy , João Gilberto , Chiclete com Banana, Durval Lelis, Carlinhos Brown , Jorge Amado, entre outros

Qualquer texto dos nossos viajantes que por aqui passaram, desde o início da fundação da nossa Capital, fala da beleza, encantos, ventos, sons e fontes que embelezavam um dos mais belos cantos do mundo. Então, nossa Bahia, apesar de tudo de ruim que aí está, não é bela apenas para os "bairristas baianos".

Para mim, pelo menos para mim, para ficar mais bela, um dos itens a ser dela afastado são estes equipamentos de som que fazem barulheira até em carrinhos de cafezinho.

Participo, com mais de mil pessoas, de um belo passeio ciclístico promovido pela ASSOCIAÇÃO DOS BICICLETEIROS DO ESTADO DA BAHIA, que sai, todo primeiro domingo do mes, às 09 horas, do Dique do Tororó.

Desde os primeiros que participei, incomodou-me a altura do som emitido pelo carro que acompanhava o passeio e pelas insistentes buzinadas de um bom número de ciclista.

A diretoria da ASBEB e outras lideranças que particiam daqueles passeios, lutam para diminuir a intensidade do barulho e muito já foi conquistado neste sentido. Buscamos evitar o mal estar que o barulho causa a pessoas que descansam em suas casas, que estão lendo, ouvido uma música ou mesmo doentes em hospitais e casas de idosos ou de crianças.

Pelo menos para mim, quanto menor a intensidade do som, mais interessante , mais alegre e belo será o passeio ou qualquer evento assemelhado.

Quando se baixa muito o som, naqueles passeios, começa toda uma movimentação em favor da sua elevação, com gritos de alguns pedalantes:

"SORTA" O SOM, FULANO"! Mal o som é aumentado, o pessoal delira de alegria, pedindo mais e mais.

Mudando o espaço e cenário, neste final de janeiro de 2009, fiz um passeio INEMA / ILHA DE MARE, em um daqueles inúmeros barcos que fazem a travessia continente/ilha. Logo ao entrar no barco, como sempre acontece, fico contemplando cada palmo daquele espaço de terra, mar agua, movimento de coisas e pessoas, sentindo ainda, apesar do sol, o vento nos acariciando em cada milimetro de pele. Há todo um clima para uma verdadeira viagem ao infinito da nossa imaginação, ao namoro, ao romance à paz. Sinto toda aquele beleza pedindo o silencio para a sua contemplação. Mas ninguém atende.
Ao contrário, mal o barco deixa o porto, alguem grita :"Sorta" o som marinhero". É a insistente senha pedindo a barulheira.Em seguida, bem em meus ouvidos foram descarregados não sei quantos decíbéis durante todo o trajeto com a pior qualidade de música que se pode ouvir em qualquer lugar do planeta.

Mas muitas pessoas adoraram , cantando e dançando na maior euforia. Foi assim a ida o o retorno meu naquele passseio.

Fiquei imaginando: posso estar errado, mas será que a grande maioria das pessoas, nossos turistas querem isto? Será que este tipo de som não está causando doenças aos ouvidos dos que trabalham no barco? Os médicos que o digam.

Muitos podem reagir contrário a este texto, com os mais variados comentários: este cara é chato, é velho, seja lá o que for . E concluirão:
-é preconceito contra os pobres. Na Barra é igual ou pior e ninguém diz nada.-

Tudo errado.Em qualquer lugar de Salvador, de pobre ou de rico, normalmente a barulheira está presente.

Do mesmo jeito que ando com meus pedais em becos e barcos pobres de Salvador, já fui, e eventualmente vou, em outros onde estão pessoas de classe média e até alguns ricos, não sendo diferentes a intensidade dos sons. Muitas das vezes até a música é a mesma. Até em aniversário de criança é assim.

E não é só na capital. Os centros das cidades do interior, em barzinhos, o inferno é igual.

Estive no Vale do Jiquiriça recentemente. Não apurei, mas ouvi dizer que uma Promotora Pública atuou firme contra estes carros de som que infernizam a vida das pessoas.

Ótimo que as autoridades assim atuem. Mas é ainda muito pouco. Tem que haver uma mudança de estilo, de cultura, com ações educativas e, porque não, também policiais.

Se algo não for feito de imediato, logo logo tem que haver uma ação firme dos órgãos públicos para coibir os abusos que já começaram até nos carrinhos de cafezinho. Alguns passam em plena madrugada com sons altos e, igualmente aos carros, com as piores músicas, sem o mínimo de respeito por quem tem direito ao descanso ou nenhum desejo de ouvir tanto lixo musical.

De parabens o Correio da Bahia que hoje públicou ampla matéria sobre o tema. Talvez, quem sabe alguem comece a se preocupar e reagir contra estes abusos.

Pior ainda é que, dentro da minha própria casa, há mais de dez anos, tenho que pedir, implorar , atuar até mesmo como se eu fosse a SUCOM:multando, implorando para os meus proprios familiares diminuir o som da TV !

A situação é tão complexa que, muitas vezes, chego a pensar, será que o errado não sou eu?

Mesmo na duvida, quase todos dias saio de dentro de casa e vou ler em espaços silenciosos do meu prédio. Ainda bem que eles existem.

Óbvio que a barulheira não é "privilégio" de Salvador. Somos apenas os campeões, segundo a OMS. Um péssímo título, por sinal.

Tenho fiscalizado e comprovado que o som da tv da minha casa não alcança os ouvidos dos vizinhos. Mesmo assim tenho fugido dele recolhendo-me a espaços silenciosos do meu prédio. Mais ainda tenho fugido de barracas, bares, barcos, locais quaisquer que executem sons elevados. A sorte de quem não gosta da barulheira é que ainda dá para fugir.

O que tem mais me perturbado agora é um carrinho de cafezinho que passa nas madrugadas,nas proximidades da minha casa , fazendo estágio para trio elétrico.

Gosto de carnaval. E, onde ele acontece, como em Salvador, temos que entender. É do se espírito da festa o som elevado. Não há como ser diferente. E está dentro da lei.

Mas não podemos fazer de cada carro, bar, restaurante, apartamento,um trio elétrico.

Quando passo em frente das escolas, até de classe média alta, e ouço as "madames", buzinando bem alto para chamar os filhos, ensinando-lhes fazer o mesmo,ou o namorado, namaroda, usando a buzina para chamar o seu consorte no decimo segundo andar de qualquer prédio, confesso que não vejo melhoras , pelo menos para as próximas gerações.


valcibarretoadv@yahoo.com.br

editor do bikebook.com.br




Mas não é

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