quinta-feira, 25 de março de 2010

CICLOVIA CRUCIS

Cidade Publicada: 22/03/2010 00:08| Atualizada: 21/03/2010 23:30 Fonte Tribuna da Bahia

Jornalista Elielson Barsan

As pedaladas pela vida, para ele, ganharam mais impulso há 12 anos. Encanador e eletricista, Jorge Guerreiro Agostinho, 43, desencantou da ideia de utilizar o sistema de transporte habitual e, eletrizado pela bicicleta, resolveu adotá-la como meio de locomoção. Casado e pai de dois filhos, o ciclista que leva o nome de dois santos enfrenta uma guerra diária para sustentar a família. Do bairro de Tancredo Neves onde mora, ele atende a qualquer solicitação de serviço, claro, sem dispensar a magrela.

“Tem que ter sangue no olho. Vou a qualquer lugar de bicicleta”, afirma o Guerreiro que presta seus serviços em qualquer lugar de Salvador, Lauro de Freitas, Simões Filho, Camaçari... “Minha mulher me chama de maluco, mas não tem importância. Quando o assunto é ciclismo, a gente anda na contramão. Já os meus filhos não dizem nada”, conta.

Pelas trilhas de Jorge, economia, ecologia e atividades físicas pegam carona na garoupa. “É muito mais econômico. A despesa do transporte ‘convencional’ já não existe. Só manutenção. E na ponta do lápis é bem menor. Também não polui o meio ambiente e faço exercícios físicos”, enumera o ciclista que pesa 120 quilos. A bike do santo homem que resolve problemas elétricos e de encanamento sem medir distâncias, foi desmontada e adaptada para resistir a seu peso.
Mas no caminho de Agostinho há várias pedras.

“O asfalto não ajuda, as ciclovias estão em estado deplorável e os conflitos no trânsito são constantes. Mas, se eu for pensar no risco nunca vou andar de bike”, relata. Os motoristas de ônibus são o “calo” dos ciclistas.

“Eles não respeitam. Se tiver passando num ponto, jogam o veículo para cima d’agente. São os donos da rua. Tem motorista que pedala junto com a gente e fica indignado com os colegas de profissão”, revela.

Chefe de si, Guerreiro lamenta ter que depender da intervenção de outros para circular livremente com a sua paixão. “Em vários cantos da cidade vemos obras sendo realizadas, mas o ciclismo não é valorizado. É lamentável ver uma construção como a Via Expressa Bahia de Todos os Santos e não se ouvir falar em faixas para tráfego de ciclistas”, reflete.

Em contraponto, Jorge Guerreiro Agostinho comemora o fato de jamais ter sofrido um acidente. “Sou ciclista, pedalo com prudência. Faço questão de andar respeitando as normas de trânsito. Quem age assim, apesar da falta de estrutura, nunca tem um problema maior”, argumenta. Problemas mesmo, para ele, são as promessas não cumpridas. “Já participei de várias audiências públicas sobre a questão das ciclovias, mas nunca se resolve nada. E quando chega ano de eleição volta a tal história de que vai fazer, mas nada acontece”, critica.

Associação pedala por melhorias

Pedala junto, o presidente da Associação dos Bicicleteiros do Estado da Bahia (Asbeb), Maurício Cruz. “Há projetos na prefeitura, mas nós ainda não tivemos acesso a eles. Ouve-se falar em uma ciclovia no Corredor Verde que vai ser construído no trecho do metrô, na Avenida Bonocô”, diz. Ele avalia a situação das ciclovias existentes na capital baiana. “Só temos estes espaços para passeios, não para usar a bicicleta como meio de transporte para o trabalho, e parecem ter sido feitos por pessoas que não conhecem o assunto. Na orla, as faixas são paralelas à pista de cooper e isso atrapalha muito. É comum ambos os espaços serem ‘invadidos’”, analisa.

Segundo Cruz, a forma como as ciclovias foram construídas só atrapalha. “Não são trafegáveis. A (ciclovia) de Amaralina, por exemplo, acaba em um ponto e começa em outro. A que mais se assemelha é a do Jardim de Alah até a altura do Aeroclube, pois foi construída abaixo do passeio, em separado”. O presidente da Asbeb aponta a necessidade de integração das vias de Salvador para este tipo de transporte. “Precisa-se de ciclovia que saia da Estação Mussurunga até o Iguatemi, interligada ao Bonocô, até a Estação da Lapa. O ciclista que vai trabalhar precisa de ciclovia reta com duas mãos”, sugere. Em relação à topografia da cidade, ele define: “O ciclista gosta de aventura. Andar numa cidade plana seria monótono”.

Maurício Cruz ressalta que a Associação tem trabalhado em prol de melhorias para a integração da bicicleta ao sistema de transporte. “Realizamos passeios mensais para mostrar à sociedade que existimos e chamar a atenção para a necessidade de garantir condições de tráfego”.

O presidente da Asbeb afirma que a Associação orienta, ainda, sobre o comportamento de ciclistas no trânsito de Salvador e alerta para a questão dos equipamentos de segurança. “Fazemos passeios noturnos diariamente. Quem participa reconhece a maneira correta de tráfego e não circula sem os acessórios indispensáveis”, pontua.

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