Ilhabela - Estrada de Castelhanos
Um pouco sobre Ilhabela
Vista do canal entre São Sebastião e a Ilha de São Sebastião (à direita), retirada do siteKitesurf Mania
Ilhabela é o único município-arquipélago marinho do Brasil e sua ilha principal, Ilha de São Sebastião, possui um relevo bem acidentado, com pontos culminantes de até 1379 metros. O arquipélago tem área superior à 340 km². A vegetação predominante é a Mata Atlântica e ainda está bem preservada. São 36 km de praias, sendo algumas acessíveis apenas por mar. As cachoeiras são abundantes. Suas características e belezas naturais são um convite para a prática de esportes náuticos ou de aventura. A região ainda reserva um bom número de histórias, mistérios e lendas envolvendo piratas, escravos, naufrágios, almas penadas e discos voadores. Entre os naufrágios ocorridos em Ilhabela está o maior da América do Sul – O transatlântico espanhol Príncipe de Astúrias naufragou em março de 1916 tirando a vida de 477 pessoas.Para o leitor que quiser se aprofundar sobre as histórias do arquipélago, ou sobre os naufrágios, pode encontrar maiores informações nos livros "Ilhabela - Seus Enigmas" de Jeannis Michael Platon e "Príncipe de Astúrias" de José Carlos Silvares e Luiz Felipe Heide Aranha Moura.
A viagem até São Sebastião
Eu e uma amiga partimos bem cedo de Campinas. De carro, com as bicicletas amarradas no suporte e equipamento de camping no porta-malas, seguimos pela rodovia D. Pedro I. Até Jacareí foram 135 km, incluindo um pedágio no município de Itatiba. Os 23 km seguintes foram pela rodovia Carvalho Pinto, passando por mais um pedágio. Até este ponto o caminho foi tranquilo devido as ótimas condições das duas rodovias, fazendo valer os pedágios pagos. Continuamos a viagem, agora acompanhados pelo carro de outro amigo, pela rodovia dos Tamoios, estrada com poucos pontos de ultrapassagem e de mão-dupla. Não há nenhum pedágio nos 75 km até Caraguatatuba entretanto as condições da via não eram tão boas quanto as encontradas nas rodovias anteriores. Os últimos 25 km seguimos pela Rio-Santos, até São Sebastião, onde faríamos a travessia de balsa, até Ilhabela.
Informações de 2001, portanto desatualizadas.
Vencendo o medo
Meu primeiro desafio do passeio foi antes mesmo de começar a trilha, já na travessia da balsa, pois tenho fobia de grandes concentrações de água. Os minutos de espera pela balsa foram tensos. Eu procurava me acalmar mas experimentava um sentimento misto, de ansiedade e medo. Iniciado o embarque, respirei fundo e conduzi o carro até o local indicado para o estacionamento. Procurei me distrair, conversando com os amigos, o que me ajudou muito.
Preparativos
Chegamos em Ilha Bela e nos dirigimos para o camping. Já no camping, começamos os preparativos para a trilha: equipamentos de proteção, protetor solar, lanche, água potável, anti-histamínico - é, além do medo de água ainda enfrentaria um dos meus maiores inimigos, o borrachudo. Quando criança já precisei ir ao hospital devido a uma reação alérgica à picada deste inseto, abundante em algumas regiões do litoral paulista.
Força, amigo!
Com as bicicletas à postos, partimos em direção à Castelhanos, praia do lado leste da ilha. A estrada é de terra e bem arborizada, o que impedia os raios solares de alcançarem o solo, deixando-o bem úmido. O primeiro trecho é uma subida contínua, chegando a pouco mais de 700m acima do nível do mar. Na portaria do parque estadual de Ilhabela, ainda no começo da estrada, fizemos uma pausa para tirar algumas fotos, fazer um pouco mais de alongamentos e abastecer as caramanholas. O trânsito de veículos motorizados na estrada é bem pequeno. Não é qualquer carro ou motorista que consegue transpor todos os obstáculos encontrados ao longo do percurso. A subida foi relativamente tranquila, sem contratempos, afinal, todos ainda estavam com muita energia.
Hora do Downhill
Superado o trecho de aclive chegou a vez do downhill. O começo da descida foi bem divertido, com muita velocidade. As curvas e barrancos começaram a exigir um controle maior da velocidade das bicicletas. A grande quantidade de lama, buracos, pedras, e o receio de veículos no sentido contrário começaram a nos exigir uma atenção maior ainda. Logo as mãos, punhos, braços, ombros e pescoço começaram a doer, devido ao esforço contínuo de acionamento dos freios e à tensão causada pela dificuldade da trilha. A única coisa que eu desejava no momento era um freio a disco.
Apesar de desgastante estávamos curtindo bastante a descida, quando de repente surge um grito do nada: "SAI DA FREEEEENTE!". Com um pedido tão educado, retirei-me para o canto da estrada, e então passou um vulto, vestido de ciclista, um Downhiller. Passado o susto, continuamos a descida por locais onde até um jipe tinha dificuldades de passar. Um pouco mais à frente cruzamos com uma pick-up. Dentro dela estavam: o motorista e o downhiller que tinha passado por nós. O downhiller estava com o equipamento de proteção completo, de dar inveja a qualquer cavaleiro medieval. Na caçamba da camihonete ... uma bela máquina de duas rodas. Continuamos nossa descida e não demorou muito para o silêncio ser quebrado novamente: " A FREEEEENTE!". Lá se vai o downhiller descida a baixo, mais uma vez.
Finalmente chegamos ao final da descida. Nossa próxima tarefa: atravessar um rio raso, de água cristalina e gelada, e com fundo preenchido de pedras lisas. Na outra margem estava um grupo de cavaleiros. A tentação de atravessar o rio pedalando foi tão grande que não resistimos. Pegamos um bom embalo e entramos no rio. No meio da travessia os pedais estavam submersos e pedalar nesta situação exigia um esforço muito grande. Não tinha como continuar, então a outra metade do rio foi transposta com a bicicleta no ombro. Pelo menos ninguém caiu. Depois de conversar um pouco com os cavaleiros, seguimos o passeio. Foi então que encontramos uma poça de água da chuva, enorme. "Desviar pra quê?", pensamos. Passamos por dentro dela em alta velocidade, indo parar lama até dentro da orelha.
Enfim, Castelhanos
Chegamos! A paisagem era fantástica e nos fez esquecer que ainda teríamos que enfrentar o esforço do retorno. Um quiosque de sapê, no meio da praia, nos forneceu abrigo contra o sol. É claro que não poderia faltar um bom banho no mar, até porque precisávamos tirar todo aquele barro do corpo. Ainda vislumbrados pela beleza da região, fomos recebidos para um banquete, pelo menos para os borrachudos. Eles estavam se deliciando com nosso sangue e nos lembravam que estava na hora de partir. Infelizmente não tivemos tempo de explorar toda a praia, que merecia pelo menos um dia inteiro.
Subida a pé
Estávamos ainda no início do retorno quando escorreguei com o pneu da frente em uma pedra. Não consegui desencaixar a sapatilha do pedal e levei um tombo. Ainda no chão, tentava desencaixar a sapatilha mas não conseguia. Eu usava um modelo de pedal de encaixe da Shimano que era muito fechado e acumulava muita lama. O resultado não podia ser outro, tinha tanta lama acumulada que o sistema de desencaixe travou. Só consegui me levantar após ter recebido a ajuda de minha amiga para desencaixar a sapatilha. A queda me deixou com a coxa um pouco dolorida, mas só.
Pouco tempo depois foi a vez da minha amiga. Após o pneu traseiro girar em falso sobre uma pedra lisa, a bicicleta escorregou de lado, levando-a de encontro ao chão. A queda foi severa com ela e deixou várias escoriações na perna e muitas pedrinhas cravadas no joelho. Com o joelho doendo muito, ela não conseguia mais pedalar. Tivemos que fazer a subida a pé. Nesse momento já não tínhamos mais contato visual com o 3º integrante pois ele tinha ido na frente. Foram pouco mais de 10 km de subida a pé e empurrando a bicicleta, em terreno enlameado e com muita pedra. Tivemos que parar por vários momentos por causa das dores que a minha amiga estava sentindo. O odômetro da bicicleta progredia muito devagar e o desânimo, muito depressa. A situação ainda estava piorando, estava esfriando, a fome começava a ficar intensa e o cansaço não nos dava trégua. Nosso objetivo principal era terminar a subida pois poderíamos fazer a descida montados na bicicleta, visto que a amiga não precisaria pedalar. Muito tempo depois conseguimos alcançar o final da subida e re-encontrar o nosso amigo. A conclusão da subida foi muito comemorada, precipitadamente.
Descida a pé
Explicado todos os acontecimentos para o amigo e aliviados por ter conseguido alcançar o topo da trilha, apressamo-nos a iniciar a descida. E então uma nova descoberta exauriu por completo nossos ânimos. Meus freios não funcionavam mais. As sapatas tinham sido integralmente consumidas na descida anterior – O desgaste havia sido acelerado pela grande quantidade de lama. Sem freios, só tinha uma coisa a fazer, descer a pé. Depois de ter feito mais de 10 km de subida a pé e empurrando a bicicleta eu não conseguia acreditar que teria que fazer mais 10 km de descida, também a pé. E o pior de tudo é que já estava escurecendo. Não tínhamos levado farol ou lanterna pois saímos muito cedo e prevíamos um retorno antes do entardecer. Minha cabeça era inundada por um único pensamento: "O que estou fazendo aqui?".
Antes que o pânico tomasse conta de nós tivemos que pensar em um plano emergencial. Decidimos que o Amigo seguiria de bicicleta, sozinho, para buscar o carro e nos resgatar. Eu desceria a pé e a Amiga me acompanharia de bicicleta. Plano em ação, logo a escuridão tomou conta de tudo e não enxergávamos além do próprio passo. Estávamos sozinhos, em uma ilha, numa região erma, cercados de Mata Atlântica por todos os lados. Apreensivos, os sentidos começaram a funcionar melhor, ou pior. Começamos a enxergar e escutar coisas estranhas. Num lugar com tantos mistérios começamos a acreditar que tudo era possível. Tornou-se difícil identificar o que era real e o que era imaginário. A passos largos, tropeçando no escuro e sem saber o que nos rodeava, chegamos à portaria do parque. Vimos faróis em nossa direção mas ainda estávamos apreensivos. Não tínhamos mais forças para nenhuma nova surpresa. Em dúvida se aquilo seria nosso resgate ou nossa perdição resolvemos arriscar e nos aproximamos do veículo. Ainda um pouco incrédulos e eufóricos reconhecemos o João, já com o carro para nos resgatar.
Basta por hoje
Enfim ... o camping. Preparamos um macarrão semipronto, com o sabor incrementado absurdamente pela fome que sentíamos. O banho de água morna em box de concreto parecia uma hidromassagem de um hotel 5 estrelas. O chão da barraca – frio, duro, irregular – não nos impediu de ter uma noite sensacional. Nunca tive tanto prazer em saciar necessidades tão básicas.
Depois de tanto sofrimento, uma pessoa normal ficaria um bom tempo no conforto da civilização, mas não foi o nosso caso. Uma semana depois já estávamos planejando a aventura seguinte, mas não antes de comprar um bom freio com sapatas reserva para ambiente molhado e de trocar meu pedal Shimano por um Time.
Vencendo o medo
Meu primeiro desafio do passeio foi antes mesmo de começar a trilha, já na travessia da balsa, pois tenho fobia de grandes concentrações de água. Os minutos de espera pela balsa foram tensos. Eu procurava me acalmar mas experimentava um sentimento misto, de ansiedade e medo. Iniciado o embarque, respirei fundo e conduzi o carro até o local indicado para o estacionamento. Procurei me distrair, conversando com os amigos, o que me ajudou muito.
Preparativos
Chegamos em Ilha Bela e nos dirigimos para o camping. Já no camping, começamos os preparativos para a trilha: equipamentos de proteção, protetor solar, lanche, água potável, anti-histamínico - é, além do medo de água ainda enfrentaria um dos meus maiores inimigos, o borrachudo. Quando criança já precisei ir ao hospital devido a uma reação alérgica à picada deste inseto, abundante em algumas regiões do litoral paulista.
Força, amigo!
Com as bicicletas à postos, partimos em direção à Castelhanos, praia do lado leste da ilha. A estrada é de terra e bem arborizada, o que impedia os raios solares de alcançarem o solo, deixando-o bem úmido. O primeiro trecho é uma subida contínua, chegando a pouco mais de 700m acima do nível do mar. Na portaria do parque estadual de Ilhabela, ainda no começo da estrada, fizemos uma pausa para tirar algumas fotos, fazer um pouco mais de alongamentos e abastecer as caramanholas. O trânsito de veículos motorizados na estrada é bem pequeno. Não é qualquer carro ou motorista que consegue transpor todos os obstáculos encontrados ao longo do percurso. A subida foi relativamente tranquila, sem contratempos, afinal, todos ainda estavam com muita energia.
Hora do Downhill
Superado o trecho de aclive chegou a vez do downhill. O começo da descida foi bem divertido, com muita velocidade. As curvas e barrancos começaram a exigir um controle maior da velocidade das bicicletas. A grande quantidade de lama, buracos, pedras, e o receio de veículos no sentido contrário começaram a nos exigir uma atenção maior ainda. Logo as mãos, punhos, braços, ombros e pescoço começaram a doer, devido ao esforço contínuo de acionamento dos freios e à tensão causada pela dificuldade da trilha. A única coisa que eu desejava no momento era um freio a disco.
Apesar de desgastante estávamos curtindo bastante a descida, quando de repente surge um grito do nada: "SAI DA FREEEEENTE!". Com um pedido tão educado, retirei-me para o canto da estrada, e então passou um vulto, vestido de ciclista, um Downhiller. Passado o susto, continuamos a descida por locais onde até um jipe tinha dificuldades de passar. Um pouco mais à frente cruzamos com uma pick-up. Dentro dela estavam: o motorista e o downhiller que tinha passado por nós. O downhiller estava com o equipamento de proteção completo, de dar inveja a qualquer cavaleiro medieval. Na caçamba da camihonete ... uma bela máquina de duas rodas. Continuamos nossa descida e não demorou muito para o silêncio ser quebrado novamente: " A FREEEEENTE!". Lá se vai o downhiller descida a baixo, mais uma vez.
Finalmente chegamos ao final da descida. Nossa próxima tarefa: atravessar um rio raso, de água cristalina e gelada, e com fundo preenchido de pedras lisas. Na outra margem estava um grupo de cavaleiros. A tentação de atravessar o rio pedalando foi tão grande que não resistimos. Pegamos um bom embalo e entramos no rio. No meio da travessia os pedais estavam submersos e pedalar nesta situação exigia um esforço muito grande. Não tinha como continuar, então a outra metade do rio foi transposta com a bicicleta no ombro. Pelo menos ninguém caiu. Depois de conversar um pouco com os cavaleiros, seguimos o passeio. Foi então que encontramos uma poça de água da chuva, enorme. "Desviar pra quê?", pensamos. Passamos por dentro dela em alta velocidade, indo parar lama até dentro da orelha.
Enfim, Castelhanos
Chegamos! A paisagem era fantástica e nos fez esquecer que ainda teríamos que enfrentar o esforço do retorno. Um quiosque de sapê, no meio da praia, nos forneceu abrigo contra o sol. É claro que não poderia faltar um bom banho no mar, até porque precisávamos tirar todo aquele barro do corpo. Ainda vislumbrados pela beleza da região, fomos recebidos para um banquete, pelo menos para os borrachudos. Eles estavam se deliciando com nosso sangue e nos lembravam que estava na hora de partir. Infelizmente não tivemos tempo de explorar toda a praia, que merecia pelo menos um dia inteiro.
Subida a pé
Estávamos ainda no início do retorno quando escorreguei com o pneu da frente em uma pedra. Não consegui desencaixar a sapatilha do pedal e levei um tombo. Ainda no chão, tentava desencaixar a sapatilha mas não conseguia. Eu usava um modelo de pedal de encaixe da Shimano que era muito fechado e acumulava muita lama. O resultado não podia ser outro, tinha tanta lama acumulada que o sistema de desencaixe travou. Só consegui me levantar após ter recebido a ajuda de minha amiga para desencaixar a sapatilha. A queda me deixou com a coxa um pouco dolorida, mas só.
Pouco tempo depois foi a vez da minha amiga. Após o pneu traseiro girar em falso sobre uma pedra lisa, a bicicleta escorregou de lado, levando-a de encontro ao chão. A queda foi severa com ela e deixou várias escoriações na perna e muitas pedrinhas cravadas no joelho. Com o joelho doendo muito, ela não conseguia mais pedalar. Tivemos que fazer a subida a pé. Nesse momento já não tínhamos mais contato visual com o 3º integrante pois ele tinha ido na frente. Foram pouco mais de 10 km de subida a pé e empurrando a bicicleta, em terreno enlameado e com muita pedra. Tivemos que parar por vários momentos por causa das dores que a minha amiga estava sentindo. O odômetro da bicicleta progredia muito devagar e o desânimo, muito depressa. A situação ainda estava piorando, estava esfriando, a fome começava a ficar intensa e o cansaço não nos dava trégua. Nosso objetivo principal era terminar a subida pois poderíamos fazer a descida montados na bicicleta, visto que a amiga não precisaria pedalar. Muito tempo depois conseguimos alcançar o final da subida e re-encontrar o nosso amigo. A conclusão da subida foi muito comemorada, precipitadamente.
Descida a pé
Explicado todos os acontecimentos para o amigo e aliviados por ter conseguido alcançar o topo da trilha, apressamo-nos a iniciar a descida. E então uma nova descoberta exauriu por completo nossos ânimos. Meus freios não funcionavam mais. As sapatas tinham sido integralmente consumidas na descida anterior – O desgaste havia sido acelerado pela grande quantidade de lama. Sem freios, só tinha uma coisa a fazer, descer a pé. Depois de ter feito mais de 10 km de subida a pé e empurrando a bicicleta eu não conseguia acreditar que teria que fazer mais 10 km de descida, também a pé. E o pior de tudo é que já estava escurecendo. Não tínhamos levado farol ou lanterna pois saímos muito cedo e prevíamos um retorno antes do entardecer. Minha cabeça era inundada por um único pensamento: "O que estou fazendo aqui?".
Antes que o pânico tomasse conta de nós tivemos que pensar em um plano emergencial. Decidimos que o Amigo seguiria de bicicleta, sozinho, para buscar o carro e nos resgatar. Eu desceria a pé e a Amiga me acompanharia de bicicleta. Plano em ação, logo a escuridão tomou conta de tudo e não enxergávamos além do próprio passo. Estávamos sozinhos, em uma ilha, numa região erma, cercados de Mata Atlântica por todos os lados. Apreensivos, os sentidos começaram a funcionar melhor, ou pior. Começamos a enxergar e escutar coisas estranhas. Num lugar com tantos mistérios começamos a acreditar que tudo era possível. Tornou-se difícil identificar o que era real e o que era imaginário. A passos largos, tropeçando no escuro e sem saber o que nos rodeava, chegamos à portaria do parque. Vimos faróis em nossa direção mas ainda estávamos apreensivos. Não tínhamos mais forças para nenhuma nova surpresa. Em dúvida se aquilo seria nosso resgate ou nossa perdição resolvemos arriscar e nos aproximamos do veículo. Ainda um pouco incrédulos e eufóricos reconhecemos o João, já com o carro para nos resgatar.
Basta por hoje
Enfim ... o camping. Preparamos um macarrão semipronto, com o sabor incrementado absurdamente pela fome que sentíamos. O banho de água morna em box de concreto parecia uma hidromassagem de um hotel 5 estrelas. O chão da barraca – frio, duro, irregular – não nos impediu de ter uma noite sensacional. Nunca tive tanto prazer em saciar necessidades tão básicas.
Depois de tanto sofrimento, uma pessoa normal ficaria um bom tempo no conforto da civilização, mas não foi o nosso caso. Uma semana depois já estávamos planejando a aventura seguinte, mas não antes de comprar um bom freio com sapatas reserva para ambiente molhado e de trocar meu pedal Shimano por um Time.
Percurso
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