Coluna de Claudomiro Bispo
Nosso compromisso foi o editorial da Folha do Recôncavo há 35 anos
Não faz muito tempo, parece que foi ontem, 3 de agosto de 1975. O Brasil ainda respirava cinzas da Ditadura Militar e Candeias enquadrada na Área de Segurança Nacional. O prefeito da cidade era escolhido por uma junta militar formada por generais. O governador da Bahia escolhia três nomes ligados aos seus interesses políticos, enviavam para Brasília e após uma semana saia o nome do “Intendente” quer dizer, o prefeito, que iria administrar o município de Candeias.
O felizardo escolhido pela lista tripartite enviada pelo governo da Bahia para a disposição dos generais teria que ser um cidadão acima de qualquer suspeita de contestação ao Regime Militar e com uma recomendação expressa: se fugir da linha, poderá dormir prefeito e acordar cidadão. E antes mesmo de tomar posse no município, passava por uma sabatina palaciana para tomar conhecimento dos seus deverem político-administrativos. O primeiro nomeado para essa empreitada política, foi o engenheiro José Inaldo, que após alguns dias da sua posse voltou atrás e devolveu o cargo ao próprio governador.
Uma nova batalha política entre as lideranças aliadas do Regime Militar entra em ação para outro processo seletivo na indicação de um substituto. Dessa vez, o processo de indicação e nomeação dispensou todos os atos de burocracia, já que o município estava sem prefeito. Através de uma liderança política aliada do palácio de Ondina, sacou no sul do estado, precisamente na cidade de Itabuna, o jovem engenheiro Matheus Fainhsten para ocupar o cargo. Matheus, chamado as pressas pelo Palácio de Ondina, segundo confessou a este jornalista, recebeu a seguinte recomendação: meu jovem, você vai administrar o município de Candeias e assegurar os meus, os seus e os nossos. Sem rumo, sem prumo e sem projetos o novo prefeito resolveu guardar o dinheiro em banco, evitando gastar o erário público à toa. Mais tarde isso lhe custou à demissão do cargo sem aviso prévio. Foi demitido às 14hs. E a transmissão do cargo seria às 16hs.
Naquela época, existia apenas um serviço de alto falante, de propriedade do fotógrafo Isac, com algumas bocas de alto-falante na Praça Dr. Gualberto. Foi aí que um grupo de intelectuais do segundo grau, sentado nas escadarias do então Colégio Nossa senhora das Candeias, após aulas, discutia o lançamento de um jornal na cidade. Uma reunião foi marcada para a escolha do nome. Cada um poderia levar dois nomes. Vivia-se sob um regime forte; no entanto, também era vivido um espírito de revolta e protestos principalmente pelos estudantes, políticos da esquerda e trabalhadores. As sugestões de nomes foram os mais variados: O Arrazão, Fogo Fático, O pensamento etc. Claudomiro Bispo levou dois nomes: Folha do Recôncavo e Tribuna do Recôncavo que não foram aprovados pelo grupo. A reunião foi transferida para outra oportunidade,sem chegar aos finalmente.
Claudomiro, que já era correspondente do jornal da Bahia para as cidades de Candeias, São Francisco do Conde e Simões Filho, já com experiência no ramo jornalístico, resolveu enfrentar, sozinho, o lançamento de um jornal em Candeias e em três de agosto de 1975, foi lançada a Folha do Recôncavo em Candeias. Existiram outros jornais mas se extinguiram. A Folha ficou exclusiva e fez a festa junto à classe política, comerciantes e trabalhadores. A Folha já nasceu ousada, impressa em offset, papel de primeira qualidade, periodicidade quinzenal, com oito páginas e uma linha editorial independente, porém vigiada pelos olheiros do regime. Publicidade da prefeitura, nem pensar. Simplesmente porque dava espaço aos políticos de oposição e aos trabalhadores. A Folha divulgava as atividades administrativas do município, mas não poupava críticas irônicas e gozativas que o próprio prefeito ria da sua cara.
Após mais de uma década do regime de exceção, Candeias ganhou o direito de eleger seu prefeito ver restabelecida a democracia, porém, para poucos. A Folha, motivada pela sua linha de independência , sem se curvar diante dos prefeitos que se diziam democráticos, continuou ausente da mídia oficial. Da era darwiniana para cá, com exceção da prefeita Maria Maia, a Folha sempre foi excluída da publicidade oficial. Hoje, mesmo, com a Lei de Responsabilidade Fiscal, a velocidade das notícias pelo mundo virtual e outros instrumentos que monitoram a vida administrativa e dos políticos, muitos deles ainda tentam " se dá bem" bem com o dinheiro público e ficar no anonimato.
Nestes 35 anos de existência, apesar das dificuldades enfrentadas no dia-a-dia da Folha do Recôncavo, temos muito que comemorar. Na sua boda de prata, lançamos a Revista Leia Bahia, já na sua 12 edição. E ao comemorar o 35º aniversário de fundação nossa Folha, estamos lançando o site WWW.Folhadoreconcavo.com.br, o qual, agora no mês de julho, foi acessado em 51 países com 45 mil visitas no Brasil.
Durante todo esse período procuramos pautar pela independência, fazendo um jornalismo sério, dinâmico, objetivo, independente e preocupado com os problemas da cidade e de toda a região. Enfrentamos diversas dificuldades, é verdade, contudo, jamais desanimamos. Às vezes fomos incompreendidos; porém, a verdade sempre prevaleceu. Por essas e outras é que, com muito orgulho e satisfação, estamos comemorando o 35º aniversário. O Nosso compromisso está sendo cumprido!
Claudomiro Bispo dos Santos
Editores: VALCI BARRETO, Advogado, estudante de jornalismo. Fones: 9999-9221 (Tim), 3384-3419 e 8760-7969 (Oi). Email: valcibarretoadv@yahoo.com.br. Colaboradores: Itana Mangieri, Alberto Bugarin e Sérgio Bezerra. Todos blogueiros, cicloativistas e amantes de livros, fotos e videos - Interesses do Blog: reportagens, artigos, com destaque especial para passeios de bicicletas, livros, cultura em geral, cicloativismo, cicloturismo e educação para o trânsito. Colaborações serão sempre bem vindas.
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