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Comentário: Paulo Coelho já não vende tanto e nunca terá prestígio acadêmico
SÉRGIO RIPARDO
editor-assistente da Livraria da Folha
editor-assistente da Livraria da Folha
Lavandeira Jr. -23.jan.10/Efe |
É mito achar que Paulo Coelho é sinônimo de best-seller. Foi no passado, mas hoje depende de factoides para ser lembrado |
Paulo Coelho não faz literatura brasileira. Seus personagens não são brasileiros. Ele vende muito livro porque se rebaixa e vai atrás do gosto médio de seu público, mero consumidor de autoajuda, esoterismo, superstições e magia.
Essa avaliação demolidora foi feita em novembro passado por um colega de Coelho, durante um evento literário em Minas.
"Paulo Coelho é meu amigo de Academia Brasileira de Letras, mas nunca li nenhum livro dele...para manter nossa amizade...(risos)", disparou Moacyr Scliar (que morreu em fevereiro deste ano) ao falar para a plateia da Literata, em Sete Lagoas, ao lado do escritor João Paulo Cuenca.
A rejeição intelectual à obra do mago voltou a ser assuntinho nesta terça (12), quando Coelhoreclamou, via Twitter, de não ter sido incluído na antologia "A História da Literatura Brasileira: da Carta de Caminha aos Contemporâneos", do poeta Carlos Nejar, seu colega na ABL.
"Ego de escritor é um negócio. Não sei se é pior do que o de médico" foi outra frase de Scliar (médico) no debate sobre literatura regional, apropriada para a atual fase de Coelho.
O que se convencionou chamar de "o escritor brasileiro mais lido no exterior" já não arrasa quarteirão tanto no Brasil como antes. É um erro achar que Paulo Coelho é sempre sinônimo de best-seller. No ano passado, "O Aleph" chegou a figurar no ranking dos mais vendidos, mas sumiu rapidinho. Não é exagero dizer que, em sua terra, Paulo Coelho já não é mais um fenômeno comercial imbatível. Em distribuidoras de livros baratos, há tanto encalhe do mago, muito além do que supõe nossa vã filosofia, mesmo assim ainda resiste o mito de sucesso.
Neco Varella/Folhapress |
"Paulo Coelho não faz literatura brasileira. Ele se rebaixa para vender livro", disse Moacyr Scliar em novembro |
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Qualquer editora sabe que factoides ajudam a promover um autor. Mais do que um "imortal" da ABL, Paulo Coelho é um marqueteiro, um nome do "jet set" internacional com apelo esotérico, xodó de personalidades que o identificam com o exotismo típico dos trópicos. Às vezes, ele erra feio na estratégia de se manter sob os holofotes. No começo do ano, saiu dizendo que o Irã censurou sua obra, desmentido depois pelas autoridades. No ano passado, se declarou pioneiro em permitir que sua obra vire e-book, aqueles títulos antigos que mofam em pilhas no chão das distribuidoras de livros baratos.
É natural que, nesta altura do campeonato, ele sinta necessidade de conquistar o reconhecimento de críticos, intelectuais, algo sempre almejado, mesmo que silenciosamente, por escritores bons de venda. É como se superasse um desafio, vencesse preconceitos e tivesse seu talento finalmente reconhecido por quem não se impressiona só com lucros por exemplar vendido. No caso de Coelho, dificilmente será respeitado por seus colegas de ABL ou por estudiosos da literatura nas universidades. É o seu destino de ser best-seller, de refém de clichês narrativos, descompromissado em elevar a língua a um patamar de arte. Maktub!
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