MEU QUERIDO
PIO XII,
Relutei, até
o momento, para lhe dizer algumas palavras neste dia tão significativo para a
nossa história. Ao
seu lado, como vizinho, discípulo, amigo, convivi antes e depois de meu ingresso como
seu aluno.
Morando no
bairro da Muritiba, sendo assim seu
vizinho, já batia , em seu campinho de terra batida pelos nossos pés descalços, as saudosas peladas da minha infância.
Em 1965, não
me esqueço, era levado pelo meu pai e recebido com amável sorriso para um teste
de admissão, então existente, pelo frei Serafim, seguido mais tarde pela doçura do frei Mariano
de Inhambupe, dos quais guardo grandes saudades.
No seu
interior, como aluno, vivi um dos mais emocionantes períodos da minha vida. Já
fisgado pela leitura que fazia de livros, jornais, revistas em quadrinhos,
desde meus tempos da Escola Rural da Casca, isto se transformou em uma grande paixão que
até hoje cultivo, estimulado que fui, juntamente com todos os meus colegas, por
todos os professores de então, elegendo como representante deles a querida professora, Tereza Nery.
Da certeza
da Matemática da querida professora Esmeralda, aos questionamentos políticos , literários de outros mestres como , Tereza
Nery , Carmélia Amaral, Roquenilda
Oliveira, Eliana Schaun, tenho procurado
não me esquecer.
É comum associarem conhecimentos aos ganhos econômicos. Ótimo quando os dois se juntam.
Neste sentido, nem todos os seus discípulos tiveram resultados iguais. Porém,
dos que por aí passaram, inclusive eu, da minha geração, nenhum deixou de
receber as mais caras lições, válidas até hoje, e sempre, do valor que se deve dar à busca de
conhecimento , Ética e Moral.
Meu caro PIO
XII, agradeço tudo que você me deu e me ensinou.
Relutei em
escrever-lhe porque o que mais queria era fazer-me presente aos emocionantes festejos
do seu Cinquentenário.
Ontem,
recebi um telefonema de um dos mais queridos amigos com o qual convivi em suas
salas, Alfredo Cerqueira que, juntamente
com José Acurcio, os irmãos Marcelo, Adofo e
Joaquim Nery Filho, José Sérvulo, Edvaldo Cerqueira, Moacir
Cerqueira, formávamos um animado e
comprometido grupo de apaixonados pelos seus ensinamentos e eternos
saudosistas. O telefonema de Alfredo dizia-me que não poderíamos faltar à sua festa.
Somente
agora, nesta manhã de sábado , dia 19.11.2011, quando ainda perduram os
festejos dos seus cinquenta aninhos, foi que tive a coragem de lhe dizer que
infelizmente não poderei , fisicamente, estar em nossa querida Toca da Onça.
Para minha
sorte, aí estarão as pessoas que comigo conviveram em seus corredores, a
exemplo de Alfredo, que comigo instalou ,
acredito eu ,a primeira biblioteca do Pio, com livros que arrecadamos junto aos
alunos e comunidade da nossa terra.
Afastado
fisicamente dos seus corredores, em nenhum momento lhe esqueci. E se de algo a
memoria tivesse me afastado, teria sido relembrado pelas doces palavras
escritas pelo nosso querido Sergio Belezza, na sua autobiografia, Caminhando com
Walkiria, e em relatos recentes que li dos nossos queridos, professor Lígio e
senhor Ciríaco, os quais falam de você e do seu nascimento.
Quando, no
último São João, fui abordado pela querida
colega da época, hoje sua professora, Sonia da Guarda, dando conta dos festejos, tinha certeza de que a eles não faltaria.
Infelizmente, porém, assim não aconteceu. Asseguro-lhe, no entanto, meu querido
Pio, que um dos motivos para minha ausência, está relacionado a uma das lições que
de você recebi: “estude, não falte às aulas” . É exatamente isto que estou indo
fazer agora. Não para justificar a minha ausência, mas para lhe deixar menos
zangado por não estar no dia de hoje,
comendo o bolo do seu aniversário.
Estou ,
neste momento, fazendo mais uma viagem
às suas entranhas e por demais feliz,
apesar de ausente, por saber que pessoas que sentaram ao meu lado, nas mesmas
salas e cadeiras, estão ai, daqui a pouco, cantando Parabéns Prá Você, como as minhas
queridas Maria Petáccia e Sonia da
Guarda.
Quem sabe, a
insistência do Homem em prologar a sua
vida na terra, não me permita estar no
seu Centenário? Você me disse não ser isto impossível.
Não deixei ,nem deixarei de comemorar , daqui de
onde estou. Por uma destas grandes coincidências, esteve ontem em minha casa,
minha querida Mestra , Carmélia Amaral, e passamos mais de uma hora conversando
sobre nosso tempo em seus corredors.
Longa vida
para você. E receba o meu mais afetuoso abraço. Elejo, para me representar, os meus queridos Alfredo
Cerqueira, Sergio Belezza, José Acurcio, Sonia da Guarda e Maria Petaccia, que
têm em seus corações a ternura que você nos ensinou a cultivar.
Valci
Salvador,
19.11.2011
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