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sexta-feira, 6 de julho de 2012
MÍDIA MUTANTE
(texto: Itana Mangieri)
O comodismo é tanto que, quando altera-se um horário, uma rotina, um hábito ou qualquer coisa que nos faça pensar, antes de mais nada, reclamamos !
Chega a ser engraçado, e até hipócrita, a quantidade de telespectadores que reclamam da inutilidade cultural dos realityshows e dos programas dominicais, dos deselegantes narradores esportivos, da futilidade dos programas femininos, das cenas inapropriadas para menores de 10 anos em filmes e novelas e dos apelos violentos ou sexuais de diversos outros programas da televisão brasileira, sejam eles, ou não, copiados da criatividade comercial de emissoras internacionais. Se o objetivo é ter ibope, o importante é ter alguém parado na frente de uma TV cerebralmente imobilizado.
No ultimo dia 25 de Junho/12, uma emissora mudou sua programação matinal, que a mantinha com desenhos animados há mais de 40 anos, e houve uma enxurrada de contestações e reclamações revoltosas.
Motivos para tal mudança não faltam, porque o horário reservado, até então, às crianças não gera retorno financeiro esperado aos anunciantes, pois seus telespectadores-mirins ainda não decidem por compras efetivamente, mas seus pais sim. O problema é que seus pais, em maioria, estão distantes da TV, neste horário, para serem influenciados ao consumo. O horário matinal é neutro comercialmente para a maioria dos adultos, mas muito utilizado como “babás-virtuais”.
A faixa etária infantil (nicho de mercado) se manterá nas manhãs de sábado quando os pais desejam ou possuem mais tempo para acompanhar seus filhos na frente da TV.
Desenhos animados são importantes para o desenvolvimento imaginário, criativo e lúdico de qualquer criança, mas para ser utilizado como babás-virtuais, continuarão disponíveis em alguns outros canais de TV aberta e em vários canais fechados, exclusivos para crianças. O serviço de babá-virtual está sendo comercializado tanto quanto já é o serviço de babá-real.
Essa nova programação também foi motivada pela mudança de hábitos dos consumidores que não assistem mais TV em grupo / em família (a não ser quando se trata da transmissão de um jogo de futebol em final de campeonato), pois cada filho ou cômodo da casa possui uma TV para interesses diferentes (quando economicamente acima do índice de pobreza/miséria).
Uma conceituada âncora foi a escolhida para dar vida à este conceito de informação simples todas as manhãs. Informações cotidianas e banais debatidas e discutidas por diferentes pessoas e públicos. A fórmula do programa é simplória, mas trata de assuntos de uma maneira educada e coerente até para que crianças compreendam diferentes aspectos, do que está sendo informado com lógica e atualidade. E como a maioria dos assuntos de “gente grande” não prenderá a atenção da maioria das crianças, essas se distanciarão da TV e até procurarão seus brinquedos, livros, amiguinhos e seus pais para dividirem e esclarecerem suas descobertas e dúvidas infantis.
Será que esta novidade está causando indignação pela simplicidade do molde dos assuntos abordados neste programa ou porque muitas mães perderam suas babás-virtuais e terão que dedicar-se mais aos seus filhos pessoalmente pela manhã ?
Há opções de desenhos animados em outras emissoras ou vídeos-games ou matricular seus filhos em escolas em período integral.
Mexer na zona de conforto das pessoas, arraigadas a uma rotina de décadas, é mais estressante do que analisar as mudanças no comportamento social e adaptar um novo conceito de informação, mesmo que isso leve anos de pesquisa e possa alterar costumes morais e gerais da população sobre uma profissional competente na apresentação de informações para a massa.
Independente se o programa terá sucesso ou não, um “empurrãozinho” foi dado para que crianças aproveitem as manhãs brincando e praticando suas incalculáveis criatividades imaginárias e positivas longe das TV’s.
Fico imaginando qual será a reação do telespectador adulto se as emissoras extinguirem os realityshows, os programas de domingo a tarde, os humorísticos noturnos de risadas duvidosas ou as transmissões ao vivo dos jogos de futebol dos campeonatos estaduais ou o Brasileirão ? Greve geral ?
As emissoras não estão preocupadas com as reclamações ou reação do telespectador na frente da TV (mesmo porque, se ele se revoltar, pode quebrar sua TV ou sua casa e não trará prejuízos aos estúdios de gravações), mas os anunciantes, que patrocinam a indústria da mídia que analisa o telespectador/consumidor, esta sim, está interessada no seu comportamento e consumo após ser influenciado pelos anúncios, propagandas, insinuações, incitações, ....
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