sexta-feira, 4 de setembro de 2009

ARTIGO 58 DO CTN, JOAO DAMASCENO COMENTA

> Prezado Dr. Valci, saúde!
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> O trânsito brasileiro é a representação nua e crua dos valores e da cultura social brasileira.
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> O comportamento dos brasileiros no trânsito é nosso extrato de como lidamos com o bem da vida, com os valores, com as nossas relações sociais.
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> Também me incluo sobre o que a seguir se alinha, mas devemos ressalvar as exceções, com todo respeito.O trânsito é onde eu posso agir com minha parcela de poder: o veículo, e sem dar muita satisfação aos outros. É nele que eu posso competir com um pouco mais de igualdade, nem sempre, mas posso competir.
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> Presente ainda o ânimo em desobedecer normas ou explicitar o supostodireito de não ser um anônimo.Não há nada mais insuportável para o brasileiro do que o anonimato, o
ser um comum.
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> Ninguém suporta ser tratado como um comum, pois, se abordado, fará a pergunta elementar de qualquer um que detém seja lá qual for a parcela do poder, mínima que seja, ou que apenas o represente: "você sabe com está falando?"
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> O trânsito representa uma ausência de valor em nossa sociedade que nos custa muito caro como País, pois sequer somos uma nação.
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> O valor ausente é o senso de coletividade.
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> Todos dirigem como se estivessem guiando apenas e tão somente sozinhos e
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> para si, como se não tivessem responsabilidade para com o próximo, ou como se não tivessem que agir no coletivo de veículos que é o trânsito.
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> Parece um paradoxo, mas não é e explico.
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> Se alguém pretender entender a sociedade brasileira, sob a perspectiva
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> sociológica e afins, basta analisar o trânsito.
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> No trânsito, ambiente de exercício da nossa cultura, com a ausência de um valor elevado que é o senso de coletividade, eu posso:
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> Não respeitar os pedestres, os outros veículos, as regras, as normas, a urbanidade, e a necessária abstração de norma de convivência social que é respeitar o próximo, pensar no próximo, agir em prol do próximo.
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> Assim, pergunta-se:
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> Respeita-se faixa de pedestres? Não Respeita-se local correto de estacionamento? Não
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> Respeita-se vagas destinadas? Não sinalizo com antecedência o pretendo fazer, para que o outro motorista
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> entenda e se acautele, como dar seta para virar a esquerda ou a direita?
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> Não (No máximo, sinalizo no próprio ato de fazer a curva, como se
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> estivesse avisando a mim mesmo que estou virando).
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> Preocupo-me em ter os faróis, lanternas, lâmpadas e outros elementos so manutenção, pela preocupação em fazer com que o meu veículo seja visto pelos outros? Não
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> Respeito vaga pré-fixada em condomínio? Não Repeito o veículo que já está em uma rotatória, pois a preferência é dele, visto que, em uma urgência, ele não teria muita área de escape e nem forma adequada de virar a direção para um lado ou outro? Não Bom, as questões seriam muitas por causa dos maus exemplos diários.
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> É muito engraçado como todo mundo sabe disso, e parece que só serve para passar no exame "água" do Detran, pois, nas ruas, a situação é totalmente inversa.
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> É assim que convivemos. E cada dia vivo, depois do trajeto no trânsito, é uma vitória e uma dádiva.
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> O trânsito acaba funcionando, ainda que em caos, porque sou forçado a respeitar o outro veículo, o maior, o ônibus, a carreta, etc. Ceder, ser
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> educado, ser urbano, jamais... É da nossa cultura exigirmos ética do outro, mas nos auto apiedarmos com nossas falhas.
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> É da nossa cultura sermos extremamente formalistas e exigentes na elaboração e prescrição das normas, mas não obedecê-las em sua
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> totalidade. Na nossa cultura, é constrangedor o lesado, o que teve o direito violado, pleitear ou lutar por seus direitos. Tais pessoas não são bem vindas, bem aceitas, não são recomendadas, é um problemático. ..
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> O que mais me impressiona na sociedade brasileira é ainda a herança da
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> cultura trazida pelos portugueses em valorizar o que é ou que vem do exterior Todas as pessoas que viajam para os chamados países desenvolvidos voltam
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> embasbacadas com o respeito das pessoas de lá quanto as regras públicas e de coletividade.
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> Ora, o engraçado é que essas mesmas pessoas que viajam, e criticam o Brasil, elogiam o exterior, são os mesmos que no dia-a-dia cometem os mesmos crimes de desobediência civil que tanto critica. Isso sim é um paradoxo.Estou ultimando um artigo para postar no blog quanto a minha falta de fé
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> em que um dia seremos uma nação.
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> É bem provável que iremos bem na economia, mas teia social, repeito ao próximo, coletividade, prestação de serviço público digno...? Jamais.
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> Certamente é coisa para, além de um milagre, mais 500 anos ou mais.
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> Enquanto nossa educação de valor social for pautada pelo individualismo e pelo sucesso imediato, teremos uma sociedade distorcida em todos os ambientes que você imaginar, e trânsito é apenas uma delas.
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> Ser benevolente com uma pequena mazela, entorpece o senso quando se necessita analisar outra de grau mais elevado ou perigoso Penso que discutimos muito isso quanto ao sucesso do vídeo da professora libertina.
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> Voltando ao trânsito, seria muito bom se os ciclistas, ou, todos aqueles que circulam de bicicleta pelas ruas, respeitassem também o CTB, não andassem na contra-mão, pregando-nos sustos ao volante, ou disputando lugar com o carro, como se carne pudesse ser mais forte que o aço.
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> Além da ausência de educação e valor social, nossa sociedade no quesito de administração pública padece de outro mal gravíssimo, qual seja: ausência, desejo, seriedade e competênica para fiscalizar.
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> Os países elogiados não o são somente porque o povo respeita isso ou aquilo, mas porque são seriamente fiscalizados, e, se necessário, seriamente punidos.Você encontra esse senso aqui no Brasil? Eu desconheço, pois sempre se
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> dá um jeitinho de abrandar o castigo. Vide os crimes oriundos de acidente de trânsito que vitimam pessoas.
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> Ainda se discute se a lei seca é constitucional ou não. Na verdade, na prática, poucos são os que possuem senso de respeito para com a mesma.
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> Respeitar o art. 58 do CTB? Isso é o de menos...
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> Fraternalmente, João Damasceno.
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