UM DIA DE MADRASTA
Moro nas imediações da Sabino Silva e tenho como vizinha uma Delicatessem, duas escolas de Inglês, uma casa de eventos infantis , um Pet Shop, uma farmácia , mais algumas lojas e mercadinho. É tudo que qualquer sociólogo, psicólogo, padre, educador precisa para estudar a falta de educação do nosso povo quando está ao volante de um carro. Para um estudo mais apurado, só precisava ser acrescido ,no mesmo espaço ,uma faixa para pedestre e um semáforo para mostrar como deve ser difícil para muitos saberem qual a função deles.
Mas o que tenho é suficiente para, todos os dias, testemunhar como é prevalente a falta de respeito proporcional ao preço dos seus veículos, que portam motoristas de um modo geral.
Faço anotações bem simplificadas, vez que decorrentes de observações quando das minhas passagens pelo local.
Hoje, vou contar apenas um caso porque ocorrente em um dia calmo, com muito pouco veiculo na rua, ter sido cometido por uma mãe, no DIA DAS MAES.
Após uma pedalada pela região da Barra, entrava na rua onde moro, já empurrando a bicicleta, do lado direito da pista, quase colado ao passeio, como manda a lei de transito, e a boa educação , deixando a pista totalmente livre para a passagem de carros.
Confesso que , dificilmente sei nome de carro, moto ,avião ou barcos. Meu conhecimento a respeito deles está no limite dos que possuem meus familiares. Distingo veículos que transportam muita gente; que transportam, muita ou pouca carga e gente. A estética, o preço, o tamanho, nada, absolutamente nada me dizem respeito senão na medida da sua utilidade. Dispenso até o conforto e acessórios pelos quais gente até morre e corre riscos, como é o caso de caixas de som, rádio , ar condicionado, TV que tanto inspiram assaltos e arrombamentos. Sei mais ou menos o que é um veículo caro porque normalmente combina com o look e de quem dirige.
Por isto, arrisco a dizer que vou falar aqui de um carro caro, de passeio, e bem confortável.
Ao ultrapassar-me, buzinando agressivamente, percebi que se tratava de uma senhora que se dirigia para estacionar em frente à Delicatessem Apião, que naquele momento ,tinha uma bicicleta de criança, deitada, em uma das vagas destinadas a estacionamento . No próprio local onde descansava a bicicleta, poderia ser acomodado o carro daquela senhora , sem qualquer prejuízo para a locomoção de pedestres ou carros. Havia ainda mais duas vagas ao lado, “coladas” ao da bicicleta, suficientes para mais dois veículos .
Ao ver a bicicleta deitada em sua frente, a motorista, ignorando tudo isto, buzinou ainda mais agressiva e insistentemente , dando sinais de que aquele não era local para estar uma bicicleta e sim o seu veiculo. O pai da criança, um mais queridos, educados freqüentadores daquele espaço, gentilmente , como é do seu perfil, apanhou a bicicleta, dando mais espaços para a motorista estacionar “do jeito que ela queria”.
Após, desceu a motorista, portadora de um certo charme nos vestir , com jeito de quem não via nada além do seu nariz empinadinho de mais de quarenta aninhos, suficientes para ter aprendido algo de civilidade e entra na Apipão sem, sequer, um muito obrigado para quem retirou a bicicleta, ou um bom dia para os circunstantes.
Como é comum nas minhas passagens por por ali, dei uma parada para comentar , com a “Confraria da Apipão”, do meu passeio ciclístico e bater aqueles papos,comuns em tais ambientes, como chuva,sol, futebol, um pouco de política e, hoje, do Dia das Mães.
Como não poderia deixar de ser, iniciamos um “pequeno e educado fuxico”, a respeito daquela senhora, tendo ocorrido o seguinte papo:
-Vejam o seguinte: Onde estava a bicicleta, cabia, folgadamente, o veículo daquela senhora. E havia mais duas vagas ao lado, onde poderia estacionar ,sem precisar, sequer, dar uma ré. Mas parece que só queria “ aquela vaga”.
-Não sei se vocês viram , a buzinada, no mínimo, deselegante quando por mim passou. Perguntei.
-Vimos, sim, disseram eles.
-Será que há jeito para nossos motoristas? será que vamos vencer esta brutalidade, esta falta de educação, esta “cegueira” deste tipo de motorista?
O comentário se estendeu para o seguinte : há proibição de som alto em carro. Mesmo assim, o pessoal põe suas máquinas de fazer barulho em qualquer lugar. E só atendem pedido de parar se for feito por soldados empunhando metralhadoras.
Aí, veio o questionamento: será que há uma solução?
-Não há jeito , disse um.-Há jeito, sim: muita coisa já melhorou; o pobre , o preto, o sem teto, o sem carro, a periferia, já fala. Vai demorar, mas há jeito, sim, disse outro.
-Se depender desta senhora ,vamos ter que esperar muito. A esperança poderá estar em seus netos ou bisnetos; nos filhos, jamais, pois estes estão mais próximos das péssimas lições que já aprendem em casa.
- Se, em vez da bicicleta, estivesse uma carreta, um veículo mais caro do que o dela, será que buzinaria daquele jeito?
Não se teve resposta para tudo. Porém, pelo menos uma certeza se extraiu: a falta de educação não respeita preço de carro, diploma universitário, bons salários, idade, roupa nem DIA DAS MÃES.
Confesso, honestamente, que eu não teria retirado a bicicleta. Deixá-la-la-ia no risco do sacrifício , do seu esmagamento, e nada diria para aquela senhora, mesmo com receio de ela me processar para pedir danos econômicos e morarias pelos arranhões que poderiam ser causados ao seu veículo. Processá-la pela perda da inocente bicicleta, jamais. A tentativa seria de dar-lhe um momento de reflexão.
Naquele momento, pelo código de trânsito, pela lei de vizinhança e, sobretudo, pelos princípios éticos, morais e de educação, o espaço era da bicicleta e não do carro. Também não era hora, dia e lugar para buzinadas tão altas e tão arrogantes. Tenho certeza de que não agiu aquela senhora por espírito de perversidade. Ela tem a certeza de que errados são os outros, de que bicicleta atrapalha o carro; de que a buzina é uma extensão da sua voz e o seu veiculo da sua natural arrogância.
Havia tudo ali para um bom dia, um muito obrigado: um apoio à criança com sua bicicleta; um FELIZ DIA DAS MÃES. Aquela senhora preferiu transformar tudo aquilo e pensar que naquele momento se comemorava um infeliz DIA DA MADRASTA.
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