domingo, 4 de abril de 2010

PEREGRINAÇÃO PARA DOAR LIVROS.

Valci Barreto

Bikebook.com.br

Folhadoreconcavo.com.br


Há muito adotei mochila como um dos equipamentos de uso diário, mesmo quando estou de paletó. Dentro dela não deixo faltar um livro ou revista , arma poderosa para enfrentar filas, demora de atendimento em nossos cartórios , espera por retardatários. Cumprida a minha tarefa, estando em retorno para casa, ou para o escritório, deixo sempre aquele livro ou revista como doação para alguém, perguntando antes se gosta de ler, se quer recebê-lo, pedindo que após a leitura, ou mesmo sem esta, transmita-o para quem goste de ler; e que jamais o descarte no lixo. Quase sempre, quem o recebe o faz com alegria e promete atender-me.



Recentemente fui matricular meu filho no curso de Alemão, no Campus de Ondina. Estando com alguns livros na mochila, prontos para doação e próximo à Biblioteca da UFBA, achei por bem ali deixar aqueles exemplares. Considerando uma desanimadora experiência anterior, quando tentei fazer doação de uns poucos livros a uma biblioteca pública baiana, algo me dizia que a dificuldade poderia ainda existir, vez que, em nosso imaginário, poucos órgãos públicos no Brasil mudam de prÁticas em menos de algumas décadas. Comentei com meu filho a experiência ruim, animando-nos, porém, a esperança de que tratando-se agora da UFBA, e tanto tempo depois, poderia a dificuldade anterior não se repetir. Pus os livros embaixo do braço e me dirigi à Biblioteca. Subi a primeira escada, atendendo-me uma moça que me afirmou não ter autorização para receber doações; orientou-me outro setor, outra pessoa. Tentei argumentar: a senhora não pode receber e passar para ela? Respondendo-me que não, dirigi-me à recomendada, a qual me indicou outra que estava em um andar superior. Não precisa dizer que eu e meu filho já esboçávamos um leve e descuidado sorriso... Subi, assim, mais uma escada e me dirigi a uma jovem que , abrindo um sorriso leve e simpático, permitiu-me igual tranqüilidade na comunicação. Apesar de me deixar clara a intenção de receber, informou-me, em outras palavras, que a pessoa responsável para o recebimento estava “naquela sala, ali em frente”, para quem me dirigi , encarando-a com a seriedade e firmeza que sua expressão parecia exigir de mim. Com movimentos e expressões que demonstravam estar muito ocupada, que, pelo menos naquele momento, preferia que ninguém a importunasse, dirigiu um olhar para a que me atendeu anteriormente, "mandando-a" receber minha humilde doação. Retornei para a simpática funcionária e , não me contendo, expressei-me, bem humorado : “ Não se preocupe, não estou aborrecido, entendi tudo.” “Entendi a sua situação”

Estava deixando para, em outra oportunidade, escrever sobre esta minha pequena peregrinação para doar um pouquinho de sabedoria em papel, não para a UFBA, mas para seus alunos . Porém, ao ler uma nota da antenadíssima jornalista Therezinha Cardozo, publicada em sua influente coluna, 7 Dias, edição do Jornal Á Tarde, de 04.04.2010, sob o titulo “Tem Jeito Não”, fui provocado pela notícia da tentativa frustrada da senhora Ieda Pedreira fazer doação para a mesma UFBA. No caso, preciosas edições de livros de Medicina.

Conclui a nota da jornalista:

“Quando souber desta heresia , o reitor Naomar de Almeida vai cuspir fogo”

O simpático Naomar não precisava ficar sabendo do meu caso porque, poucos livros, sem maiores valias, poderiam até ser recusados. E eu não faria qualquer esforço em retornar com eles debaixo do braço, como faziam os “marcusianos”, “leninistas “ e outros “istas” dos anos 60.

Após o caso da senhora Ieda, confesso que somente tentarei fazer alguma doação a biblioteca publica se eu “estudar” muito a que eu escolher; ou farei de tudo para acompanhar-me de jornalistas , de preferencia com câmaras de TV. Isto porque não tenho dúvidas de que estas coisas, para funcionar, tem que ter imprensa, ainda que na base de um SMALL BRODER, já que o BIG é patrimônio da TV Globo.

Dois casos, então, agora, de conhecimento do Reitor Naomar. Após a nota de 7 Dias, a UFBA os receberá, sem carimbos, formulários ou burocracias. E, espero, sem inquéritos para apurar quem denunciou a “heresia” para a imprensa, quais os funcionários envolvidos. Espero não condenem a senhora Ieda por não ter tentado uma peregrinação , ainda que breve ,como a minha; e muito menos o porteiro por ter recomendou o sebo como destino da precisa doação: outro poderia ter sugerido o lixo...
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Não jogue livros nem revistas usadas no lixo. Faça doações. Veja onde, no bikebook.com.br

Um comentário:

Marcus Borgón disse...

Caro Valci,

Sou bibliotecário da Ufba, e posso tentar explicar um pouco do que acontece com as doações. Primeiro, vale frisar que essa "burocracia" de quem se esquiva e empurra para o próximo determinada função, também é algo que me aborrece. Mas, vamos ao caso das doações. De antemão, temos que nos desfazer da ideia de que toda doação deve ser acolhida com bom grado, pois é falta de gentileza a recusa. O que as pessoas não sabem é a enormidade de pessoas, todas com as melhores intenções, chegam diariamente para fazer doações nas bibliotecas públicas. Por conta disso, e do inchaço que o recebimento indiscriminado de doações provoca, foi criada uma política de doação e intercâmbio, para que essa aquisição seja realmente de material indispensável para determinado acervo, observando-se alguns critérios. Caso, não seja adequado àquele acervo, a norma diz que seja indicada outra instituição para destino daquele material. Se a cultura do "cavalo dado não se olha os dentes" continuasse, nossas bibliotecas não suportariam a quantidade de livros. É uma medida que parece antipática - a recusa de doação - mas se faz muito necessária atualmente. Hoje em dia, as bibliotecas comunitárias se apresentam como o melhor destino para doações de livros e demais suportes de informação. Acho que consegui esclarecer um pouco, ainda que a questão mereça uma explicação mais detalhada.

Marcus Vinícius