Valci Barreto
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Há muito adotei mochila como um dos equipamentos de uso diário, mesmo quando estou de paletó. Dentro dela não deixo faltar um livro ou revista , arma poderosa para enfrentar filas, demora de atendimento em nossos cartórios , espera por retardatários. Cumprida a minha tarefa, estando em retorno para casa, ou para o escritório, deixo sempre aquele livro ou revista como doação para alguém, perguntando antes se gosta de ler, se quer recebê-lo, pedindo que após a leitura, ou mesmo sem esta, transmita-o para quem goste de ler; e que jamais o descarte no lixo. Quase sempre, quem o recebe o faz com alegria e promete atender-me.
Recentemente fui matricular meu filho no curso de Alemão, no Campus de Ondina. Estando com alguns livros na mochila, prontos para doação e próximo à Biblioteca da UFBA, achei por bem ali deixar aqueles exemplares. Considerando uma desanimadora experiência anterior, quando tentei fazer doação de uns poucos livros a uma biblioteca pública baiana, algo me dizia que a dificuldade poderia ainda existir, vez que, em nosso imaginário, poucos órgãos públicos no Brasil mudam de prÁticas em menos de algumas décadas. Comentei com meu filho a experiência ruim, animando-nos, porém, a esperança de que tratando-se agora da UFBA, e tanto tempo depois, poderia a dificuldade anterior não se repetir. Pus os livros embaixo do braço e me dirigi à Biblioteca. Subi a primeira escada, atendendo-me uma moça que me afirmou não ter autorização para receber doações; orientou-me outro setor, outra pessoa. Tentei argumentar: a senhora não pode receber e passar para ela? Respondendo-me que não, dirigi-me à recomendada, a qual me indicou outra que estava em um andar superior. Não precisa dizer que eu e meu filho já esboçávamos um leve e descuidado sorriso... Subi, assim, mais uma escada e me dirigi a uma jovem que , abrindo um sorriso leve e simpático, permitiu-me igual tranqüilidade na comunicação. Apesar de me deixar clara a intenção de receber, informou-me, em outras palavras, que a pessoa responsável para o recebimento estava “naquela sala, ali em frente”, para quem me dirigi , encarando-a com a seriedade e firmeza que sua expressão parecia exigir de mim. Com movimentos e expressões que demonstravam estar muito ocupada, que, pelo menos naquele momento, preferia que ninguém a importunasse, dirigiu um olhar para a que me atendeu anteriormente, "mandando-a" receber minha humilde doação. Retornei para a simpática funcionária e , não me contendo, expressei-me, bem humorado : “ Não se preocupe, não estou aborrecido, entendi tudo.” “Entendi a sua situação”
Estava deixando para, em outra oportunidade, escrever sobre esta minha pequena peregrinação para doar um pouquinho de sabedoria em papel, não para a UFBA, mas para seus alunos . Porém, ao ler uma nota da antenadíssima jornalista Therezinha Cardozo, publicada em sua influente coluna, 7 Dias, edição do Jornal Á Tarde, de 04.04.2010, sob o titulo “Tem Jeito Não”, fui provocado pela notícia da tentativa frustrada da senhora Ieda Pedreira fazer doação para a mesma UFBA. No caso, preciosas edições de livros de Medicina.
Conclui a nota da jornalista:
“Quando souber desta heresia , o reitor Naomar de Almeida vai cuspir fogo”
O simpático Naomar não precisava ficar sabendo do meu caso porque, poucos livros, sem maiores valias, poderiam até ser recusados. E eu não faria qualquer esforço em retornar com eles debaixo do braço, como faziam os “marcusianos”, “leninistas “ e outros “istas” dos anos 60.
Após o caso da senhora Ieda, confesso que somente tentarei fazer alguma doação a biblioteca publica se eu “estudar” muito a que eu escolher; ou farei de tudo para acompanhar-me de jornalistas , de preferencia com câmaras de TV. Isto porque não tenho dúvidas de que estas coisas, para funcionar, tem que ter imprensa, ainda que na base de um SMALL BRODER, já que o BIG é patrimônio da TV Globo.
Dois casos, então, agora, de conhecimento do Reitor Naomar. Após a nota de 7 Dias, a UFBA os receberá, sem carimbos, formulários ou burocracias. E, espero, sem inquéritos para apurar quem denunciou a “heresia” para a imprensa, quais os funcionários envolvidos. Espero não condenem a senhora Ieda por não ter tentado uma peregrinação , ainda que breve ,como a minha; e muito menos o porteiro por ter recomendou o sebo como destino da precisa doação: outro poderia ter sugerido o lixo...
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Editores: VALCI BARRETO, Advogado, estudante de jornalismo. Fones: 9999-9221 (Tim), 3384-3419 e 8760-7969 (Oi). Email: valcibarretoadv@yahoo.com.br. Colaboradores: Itana Mangieri, Alberto Bugarin e Sérgio Bezerra. Todos blogueiros, cicloativistas e amantes de livros, fotos e videos - Interesses do Blog: reportagens, artigos, com destaque especial para passeios de bicicletas, livros, cultura em geral, cicloativismo, cicloturismo e educação para o trânsito. Colaborações serão sempre bem vindas.
Um comentário:
Caro Valci,
Sou bibliotecário da Ufba, e posso tentar explicar um pouco do que acontece com as doações. Primeiro, vale frisar que essa "burocracia" de quem se esquiva e empurra para o próximo determinada função, também é algo que me aborrece. Mas, vamos ao caso das doações. De antemão, temos que nos desfazer da ideia de que toda doação deve ser acolhida com bom grado, pois é falta de gentileza a recusa. O que as pessoas não sabem é a enormidade de pessoas, todas com as melhores intenções, chegam diariamente para fazer doações nas bibliotecas públicas. Por conta disso, e do inchaço que o recebimento indiscriminado de doações provoca, foi criada uma política de doação e intercâmbio, para que essa aquisição seja realmente de material indispensável para determinado acervo, observando-se alguns critérios. Caso, não seja adequado àquele acervo, a norma diz que seja indicada outra instituição para destino daquele material. Se a cultura do "cavalo dado não se olha os dentes" continuasse, nossas bibliotecas não suportariam a quantidade de livros. É uma medida que parece antipática - a recusa de doação - mas se faz muito necessária atualmente. Hoje em dia, as bibliotecas comunitárias se apresentam como o melhor destino para doações de livros e demais suportes de informação. Acho que consegui esclarecer um pouco, ainda que a questão mereça uma explicação mais detalhada.
Marcus Vinícius
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