sábado, 4 de dezembro de 2010

CIDADE BICICLETA

CIDADE BICICLETA

Valci Barreto
Bikebook.blogspot.com
Muraldebugarin.com




Não pude ainda comparecer às reuniões da Faculdade de Arquitetura da UFBA que tratam do Cidade Bicicleta. Dei minhas justificativas aos companheiros de pedal, inclusive à minha querida amiga, pedalante, professora de Arquitetura da UFBA, Rosa Ribeiro.

Foi com muita alegria, emoção até, que vi e ouvi os depoimentos nos vídeos, atestadores de que as mudanças em favor das bicicletas nas ruas já começaram a acontecer.


Embora sempre entendendo que melhor do que ciclovia e ciclofaixa é a educação do nosso povo, para que alguém de carro, moto , bicicleta ou jumento respeite o seu semelhante , temos que aplaudir estas iniciativas como sementes de ações que , querendo ou não, terão que ser implementadas. Mais do que o próprio projeto, anima-me a preocupação revelada pelos professores Kalil, Rosa Ribeiro e demais participantes do evento. A atuação da  Conder que jamais antes “pensou “ em bicicleta , apesar de ter participando de tantas obras , muitas delas com vultosos investimentos, como vias asfálticas, viadutos, Plano Inclinado da Liberdade, é por demais representativa dos novos tempos.

Coincidentemente, esta  semana a TV brasileira nos trouxe grandes mensagens do que estão fazendo países europeus, como a Itália, para dizer às pessoas: chega de tanta pressa e de tanto carro.

O Cidade Bicicleta, que aplaudo, deve ter em seu bojo o mais importante de todos os itens , : a educação dos motoristas e a redução da velocidade dos carros nos centros urbanos, como bem colocou a senhora que se apresenta como aposentada em um dos vídeos postados no bikebook.blogspot.com.

Além da briga com os motoristas , da necessidade de uma ampla campanha educativa, da necessidade de diminuir a velocidade dos carros nas ruas, teremos que enfrentar os que lucram com as atividades ligadas ao transporte urbano, especialmente proprietários de empresas de transporte de passageiros, taxis e ônibus, especialmente,  sempre bem protegidos por interesses econômicos e políticos que nos  impõem um  transporte urbano caro e perverso. Por isto, os ciclistas , a população deverá se posicionar , escolher entre o caos imposto pelos veículos automotores, e as outras possibilidades que já experimentam cidades européias que optaram pela bicicleta como um dos melhores meios de transporte  urbano. Não somos contra os carros, óbvio. Somos contra a forma violenta, estúpida, incivilizada , atrasada, excessiva,  como o carro é usado e como o poder público o privilegia , em detrimento de outros meios como metrô, ônibus e a bicicleta, esta sempre mais de acordo com nossos tempos para trajeto de até dez quilômentros nos grandes centros urbanos.

Apesar de todos os obstáculos, fiquei feliz com os depoimentos de todos , por  ver a participação dos amigos pedalantes Rosa Ribeiro, Guerreiro, Bugarin, Gilson Cunha Ary Gil, Guy ,sobressaindo o da senhora aposentada  que fala dos motoristas que  atropelam, matam, “fabricam” paraplégicos, deficientes físicos , e alguns dias após sua ação violenta, voltam ao volante como se nada houvesse acontecido. Esta parte não pode ser esquecida no Cidade Bicicleta ;e ao meu ver, é a mais importante a ser inserida no projeto. Como disse aquela senhora , muito pouco proveito terão  outros itens sem as medidas educativas e de diminuição da velocidade dos veículos em nossas cidades. Reportagem do Globo Repórter divulgou que esta parte já está implantada em algumas cidades da Itália. A matéria do Globo Repórter de 03.12.2010 , entre outros temas, obriga-nos a comparar estilos de vida de lá e de cá: Lá , um prefeito vai para casa/ trabalho em bicicleta. Aqui, um prefeito de qualquer pequena cidade do interior, para ir à  Prefeitura, a quinhentos metros de casa ou a um banco , é em uma enorme e cara camionete preta, transportando um monte de “assessores”. E quando vem para a Capital acrescenta à sua comitiva alguns “seguranças”. E quanto maior a cidade, maior o comboio de acompanhamento e maior o carro, tem ele reconhecido o seu poder, a sua influencia política, mesmo que não há uma escola construída em seu município. Esta cultura, onde o valor do carro mede a importância do seu proprietário, e não o serviço público prestado, tem que ter mudança e ser observado também no projeto por que idolatria ao carro tem nela embutida a falta de educação do nosso povo em relação ao uso do carro. Nas cidades modelo da Itália, só para citar aquele país , objeto da reportagem, pessoas de idade levam as crianças a pé para a escola. Aqui, mesmo que uma mãe more a 500 metros da escola, seu filho tem que ser conduzido em carro dos pais, ,motoristas servindo estes como atestado de “superioridade” , de que merece respeito e atenção, quando , em verdade, socialmente trazem mais perdas do que lucros. E o   filho, que ali aprende o mesmo processo, inclusive as buzinadas, jamais se lembrará de que é possível ir de bicicleta comprar o pão na padaria vizinha.

Os participantes do evento, pessoas e entidades, deram-nos  sinais de que as mudanças poderão vir em menos tempo do que muita gente pensa. Mas enquanto não vêm,continuaremos pedalando, com ou sem ciclovia, ciclofaixas e enfrentando a brutalidade, falta de respeito, incivilidade dos nossos motoristas de carro para quem as ruas foram feitas somente para eles.

Obrigado à nossa querida e admirada  Rosa Ribeiro, por lembrar de nós e dos nossos sites. Estaremos sempre juntos e me farei presente na próxima segunda feira  no Palácio Rio Branco, para assistir à anunciada apresentação do Cidade Bicicleta.

Esperamos, como bem disse o nosso Guy, do Itapagipe é do Pedal, que não se pode pensar em um Cidade Bicicleta sem espaços para bicicletas da região tão encantadora, que vai do Comercio até o extremo da Suburbana. As bicicletas não podem ficar de fora desta região. E não precisa construir ciclovia: é só aproveitar as vias asfálticas já existentes, diminuindo o número de áreas dos carros, e sua velocidade,  proibindo estacionar em passeios, privilegiar o transporte público de massa e a bicicleta. Pensar em um Cidade Bicicleta e deixar aquela região de fora, o projeto sob discussão pode ter seu nome de BECO BICICLETA, Metros Bicicleta; Cidade Bicicleta, jamais. Comercio até a região suburbana. E que as ciclovias não sejam apenas os pequenos parques que estão sendo implantados na cidade com o nome de ciclovia. Estas são importantes para o lazer, para pessoas aprender a andar de bicicleta, mas para seu como meio de transporte, não.

Se as ciclovias que nos prometem foram do tipo das implantadas na Centenário, Garibaldi, iremos nos sentir,mais uma vez, enganados. Torçemos para que a ciclovia , ciclofaixa seja algo que nos permita andar, respirar, trafegar em nossa bela capital sem precisar descer a todo momento da bicicleta para esperar milhares de carros passar como únicos e verdadeiros proprietários da cidade. Isto, já adiantamos nem de longe é o que desejamos nem é o que o nosso povo merece e precisa.


Para começar, nem precisa de ciclovia: basta tirar os milhares de carros estacionados durante todo o dia em regiões como a do Comércio, na qual  um motorista passa um dia todo dentro do escritório enquanto seu carro está estacionado nas vias públicas , de graça, ou mediante paga simbólica a um “guadador de carro” as quais devem ser usadas como ciclovias ou vias para pedestre. A região do Comércio, Pituba, Avenida Sete, só para citar estes,  são os piores exemplos do que se poderia chamar uma cidade civilizada: carros parados o dia todo, até em cima de passeios, aguardando oito, dez horas até que o seu proprietário termine seu expediente e volte para casa. Uma operação simples, como a retirada dos carros que transportam uma pessoa só e que passam o dia todo estacionado em ruas como Comercio, Barra, Avenida Sete, já seria um grande espaço viável para bicicleta, sem gastar um centavo em construção de ciclovias . A questão é de políticas públicas que sempre privilegiaram o carro, de uma cultura que o idolatra, que marca território e privilégio do seu proprietário para quem todo o espaço é pequeno nas hora de mostrar  seu poder e prestigio, mesmo sacrificando o social que a todos pertence. Mais importante do que construção de ciclovias, sempre bem vindas, é buscar mudança de comportamento e de mentalidade que privilegie o social, o espaço público que a todos pertencem e não apenas a proprietários de veículos automotores.

Os primeiros passos já estão sendo dados. Caminhemos juntos, participando, sugerindo, reivindicando, tentando mesmo de forma simples, nos educarmos e educar a nossa gente para pensar o carro como um objeto útil e não como símbolo de poder , força, dotado de tanta agressividade de acordo com quem dirige.

 Cabe-nos participar, sugerir, reivindicar, levar nossas mensagens em favor da civilidade, a pé, de carro, moto  ou  bicicleta e dizer a cada motorista pelo menos isto: a rua não é só do carro.

valcibarretoadv@yahoo.com.br
advogado e estudante de jornalismo.
 99999221 - 34913233, das 14 às 17 horas.

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