quinta-feira, 19 de março de 2009

OS ANOS PASSAM E A CULTURA DO SEBO CONTINUA.

Valci Barreto.
Editor do bikebook.com.br
Colaborador do muraldebugarin.com



Logo que cheguei a Salvador, pretendia encontrar um lugar para adquirir livros usados. Sem qualquer esforço, subindo um dia a Ladeira da Praça, vi uma placa: “Banca do Loureiro – Livros usados”. Fui até ela. Observando que o estoque era pequeno, adquiri alguns e busquei informação onde poderia encontrar um lugar com mais variedades. O “Gordo”, figura simpática que por muitos anos a manteve, orientou-me o Sebo do Brandão, na Rua Rui Barbosa, nas proximidades do Cine Tamoio.

Não queria apenas conhecer um sebo, queria também comprar livros didáticos, romances e revistas por preços que o bolso autorizasse. Logo que adentrei na pequena loja , que ainda existe, fui contagiado pela simpatia do atendimento. O João Sobrinho não me enganava: era o que no interior chamávamos “um grande balcão”; pessoa que sabe cativar a clientela. Travados os primeiros contatos, fisgado o freguês, passei a freqüentá-lo com certa regularidade.

Em uma das visitas àquela pequena loja de livros usados, uma cena me encabulou: atende ao telefone o Sr. Eurico Brandão, fundador daquele Sebo:
“- Pois não, Dr. Luiz, tenho sim, vou logo providenciar. “Aqui jamais faltará livro para o senhor!”
E brinca:
“- Quando não houver, mando editar!...”. Terminando o diálogo, dirige-se para os seus poucos auxiliares e aumenta a voz para que todos os presentes o escutassem:
“ – Dr. Luiz Viana Filho quer tal livro. “Del, procure-o, dê um jeito, encontre o livro......, que doutor Luiz Viana Filho está precisando”

Estarrecido, não entendi qual o livro solicitado. Pensei: “ – Como é que um homem rico, poderoso, ex-governador do Estado, professor universitário, e outras coisas mais, vai ter tempo para ligar para uma pequena livraria de livros usados para comprar algo? Ainda mais em um pequeno sebo?”

Eu já sabia da existência de livros raros, esgotados, que alcançavam preços astronômicos pelos leilões do mundo inteiro. Mas não seria naquelas prateleiras simples que eles poderiam estar. Sòmente agora, muitos anos depois, através de material publicitário do Sebo do Brandão, sou informado de que o Dr. Luiz Viana, ex Governador da Bahia, estimulou a vinda do Brandão para a nossa Capital.

Por várias razões deixei de freqüentar com mais assiduidade o Sebo do Brandão. Mas nunca o abandonei completamente. Principalmente porque, sem qualquer dúvida, é a loja de livros usados de Salvador que dispõe do melhor e maior acervo.

Quando ingressei na faculdade de Direito, e mesmo por um pouco tempo depois, o bolso ainda não permitia que meus trocados fossem parar nas mãos do saudoso Dermeval Chaves, da Civilização Brasileira. Os livros novos da Saraiva, LTr, Revista dos Tribunais, com suas edições ricamente encadernadas, eram amores inatingíveis, platônicos, não correspondidos. De sorte que, uma parte do “sossega leão”, denominação atribuída ao crédito educativo, por razões óbvias da época, era destinada ao Brandão.

Muitos dos livros que adquiri, ainda os guardo. Outros trilham os caminhos tortuosos dos empréstimos vitalícios. Alguns colegas de trabalho e de faculdade, vendo-me com livros usados, alguns bastante maltratados, questionavam?

- “ E prestam, estes livros velhos? “ Parecem rascunhos da Bíblia...”
“- Mas possuem o mesmo conteúdo; basta ter atualizada a legislação”. Assim me defendia. E adiantava, advogando em causa própria: “- O conceito de propriedade vem desde os romanos, petição inicial, agravo, mandado de segurança são conceitos e institutos seculares, os meus livros têm apenas 15 anos, novíssimos, portanto...” .

Percebendo que de nada adiantavam os meus argumentos , citava o caso do Dr. Luiz Viana Filho e lhes dizia: “se livro usado não prestasse e fosse “coisa de pobre”, o Dr. Luiz Viana não comprava”.

Consegui convencer alguns amigos, ainda que sòmente aqueles que já gostavam de livros, para que fizessem uma visita ao Sebo do Brandão. Hoje, quando os encontro em alguma loja de livros usados, sei que ali não estão pela força dos meus argumentos. Pergunto, então, porque se convenceram que livro usado também merece ser lido. Eles respondem com o natural bom humor:

“- Se serviam para o Dr. Luiz Viana, ex-governador, ex-senador, festejado professor universitário, porque não servirão para nós?” Não há contra-argumentação!

Há poucos dias fui matar a saudade daquele sebo. Fiquei entusiasmado com o que vi: uma simples loja na rua Rui Barbosa transformou-se em um acervo de milhares de livros. Dificilmente alguém ali não encontrará o livro de que necessita. Felicito o João Sobrinho, que administra a loja de Salvador, pelo que vejo. Ele me agradece e adianta:

“- Coisa melhor está por vir; uma grande loja, com estacionamento, sala de pesquisas e de bate-papo, com cafezinho e outras mordomias para os intelectuais da Bahia.” Sonho que, segundo João, não demora a ser realizado. E prossegue: “Enquanto isto não acontece, informe aos seus leitores que estamos dispondo de farto material sobre Canudos, inclusive edições antigas de Dantas Barreto, primeiras edições de autores brasileiros como Machado de Assis, José de Alencar e Jorge Amado.”

Encerramos nossa visita recebendo de João um breve histórico de sua loja, que resumimos para os leitores do FIFÓ 21:

A livraria Brandão foi fundada em 1957, por Eurico Bezerra Brandão, em Recife. Em 1969, com o apoio do Dr. Luiz Viana Filho, nasceu a primeira filial, em Salvador, com administração de João Brandão Bezerra Filho. Em 1980, abriu uma filial em São Paulo. Atualmente freqüenta as páginas da internet. Para os que acreditam, como o grande cronista baiano Raimundo Reis, que “deve ser triste uma velhice sem livros”, e não têm o preconceito de adquiri-los usados, por preços mais acessíveis, informamos o endereço e fone do Sebo do Brandão e de outros sebos e Salvador.


SEBO DO BRANDÃO-Rua Rui Barbosa, 15B, CEP: 40.020-070. Internet: http://www.brandaosebo.com.br E-mail: lbsebo@stn.com.br

CANTINHO DO SEBO- Vende, compra, aluga e troca livros usados-Loja 1: Rua Minas Gerais,515, Pituba_Loja 2-Rua Barão de Loreto, , 380, Av. Centenário.

O LIVREIRO, em frente ao Ministério Público Estadual, esquina da Av.Joana Angélica com a Rua da Poeira.

SEBO DO SENHOR JUVENIL-Terminal da Lapa, ao lado de uma Loja de Tecidos, após subir as escadarias do mesmo terminal.

PAPYRO, primeiro ponto de ônibus, antes de chegar ao Terminal da Lapa.

Senhora Alfredo, Ladeira do Funil, em frente a empresa Resul, Sete Portas, abrindo, inclusive, aos domingos pela manhã. Dias de chuva não funciona pões são expostos ao ar livre.

Professora Nilza: Rua Lima e Silva, 567, Liberdade-Lapinha.
Casa dos Livros Usados, Ladeira da Praça, Viaduto da Sé.

DIADORIM, Rua Forte de São Pedro , 157, Galeria Plaza, Loja 16.
Berinjela, Terminal de ônibus da Rua Chile, térreo.
Sebo do Daniel, terminal de Ônibus da Rua Chile, próximo a Gidi Antiguidades, pequena banca, ao lado do Cine Astor.
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Não jogue livros no lixo. Faça doações. Veja endereços neste site.

Valcibarretoadv@yahoo.com.br

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