sábado, 4 de setembro de 2010

Resultado - 1º Desafio de Mobilidade de Salvador

Enviado por Lucas Jerzy Portela



Introdução

O 1º Desafio Intermodal de Mobilidade Urbana de Salvador ocorreu na última quinta-feira, 2 de setembro de 2010, tendo sua largada às 18h e 36min a partir da área de serviços do Salvador Shopping (estabelecimento que fica entre as avenidas Tancredo Neves e Governador Luiz Vianna Filho, conhecida como Paralela), tendo como destino a sede do Conselho Regional de Psicologia, instituição que organizou o evento, na Estrada de São Lázaro (Travessa Professor Aristides Novis), no bairro da Federação.

A escolha por estre trajeto, saindo da borda da Zona Rural da capital bahiana (o Salvador Shopping fica a ceca de 500m do entroncamento das rodovias BA-093 com a BR-324) se deu por ser aí onde se concentra cerca de 40% do fluxo de veículos e pessoas nos horários de pico dos dias úteis. Isso, de si, já denota a patologia que tem sido conhecida no urbanismo contemporâneo como "Efeito Salvador": similar ao "Efeito Los Angeles" (com grandes avenidas expressas levando a ocupação da periferia), na Capital Reconvexa isto se agrava pelo esvaziamento, baixo adensamento e baixa verticalização de seus Centros Histórico, Antigo e Expandido (lembrando que trata-se do maior Centro Histórico tombado das Américas), gerando infraestruturas de habitação, comércio e mobilidade sub-utilizadas (a exemplo do bairro do Comércio, até pouco tempo atrás esvaziado e ainda sem plano habitacional, o que leva ao Ascensor Plano-Inclinado do Gonçalves a não funcionar em fins de semana por falta de demanda - sendo este um dos principais modais de transporte da capital). O Efeito Salvador se agrava pela longa desindustrialização pela qual passou a cidade nos últimos 40 anos, bem como de toda a região conhecida como Recôncavo Histórico, e a concomitante hiper-industrialização do Recôncavo Norte (Mata de São João, Camaçari, Lauro de Freitas). Estas forças econômicas atraíram a população cada vez mais para o norte da península, por vezes para fora do perímetro urbano de Salvador, mantendo a cidade em si com baixa ocupação e baixa atiidade econômica. A situação se torna mais proeminente a partir dos anos 1970, quando os principais meios de transporte ligando a Capital Bahiana ao Recôncavo Histórico ("a guarda de honra da velha São Salvador", no dizer do geógrafo Milton Santos), como os navios a vapor para Cachoeira e Maragogipe e os trens de passageiros para Santo Amaro da Purificação e Alagoinhas, são desativados; estes transportes de massa interurbanos, ligando o Centro Antigo de Salvador a outras cidades suas coetâneas ajudava a adensar a cidade e concentrar a população no seu centro. Sem eles, não só a expansão terrestre e carrocêntrica para fora do recorte original e do recorte modernista da cidade se acirram, como esta passa a perder sua identidade cultural e topográfica (o que é muito bem relatado pelo Professor Antônio Risério em seu livro clássico "A Avant-Gard na Bahia"). Dito de outra forma, a Capital Bahiana funciona hoje como uma cidade dormitório para aqueles que trabalham nas cidades industriais vizinhas ao norte (inclusive a metrópole regional Feira de Santana, já no agreste baiano).

Assim, o trajeto do desafio cobre um raio de 10km, contemplando duas realidade de Salvador: a partir do Rio Vermelho, a última metade do trajeto, se está dentro do Centro Expandido da cidade, menos carrodependente, mas com as características subidas em escarpa da Roma Negra, difíceis de serem vencidas até mesmo por automóveis (no trajeto, são duas ladeiras de cerca de 50m de comprimento cada uma, e 45º médio de aclividade); até o Rio Vermelho, fora do Centro Expandido, as dimensões das vias e das distâncias se tornam pouco humanas e a carrodependência se acirra, por outro lado é um trecho totalmente plano e pouco acidentado, nada característico da velha Capital da Diáspora Negra.


Resultados e Análise de Dados

Participaram do Desafio de Mobilidade os seguintes modais, com os seguintes resultados no trajeto, ordenados abaixo do mais rápido ao mais demorado:
Motocicleta - 21min
Táxi com baldeação livre - 35min
Bicicleta - 38min
Automóvel - 41min
Bicicleta Dobrável + ônibus - 50min
Ônibus com baldeação livre - 62min
O desafiante que usou o modal motocicleta registrou um pequeno acidente no trajeto, envolvendo um motociclista que colidiu num carro a sua frente, num congestionamento. Além desta, não houve nenhuma outra intercorrência.

O desafiante de ônibus tomou até 3 linhas diferentes, tentando evitar esperas em pontos e paradas de ônibus (principal desvantagem deste modal). Juntando-se este fato com a demora maior da bicicleta dobrável do que da comum, podemos concluir que o acesso ao transporte coletivo é précario especialmente nesta região da cidade, o que leva o cidadão a optar por transporte individual. Dentre os transportes individuais, a bicicleta acaba sendo preterida especialmente neste trajeto, apesar de sua eficiência, por causa das colinas e morros que se precisa subir - diferentemente de outros bairros de Salvador, mesmo em topos de montanhas como Brotas, em que se nota um uso considerável deste modal para médias distâncias.


Conclusões e Encaminhamentos

Concluído o Desafio de Mobilidade, foi unânime a idéia de se testar o mesmo trajeto em sentido contrário (Centro - Paralela), talvez mais problemático do que o sentido Paralela - Centro. Aventou-se a possibilidade de se fazer um Desafio quetal este ano, contudo é provável que ele fique guardado para um próximo ano. Num tal trajeto, o uso de bicicleta dobrável se torna irrelevante posto que quase não há aclives e há boa oferta de pistas secundárias e auxiliares com baixa demanda de tráfego motorizado, e em baixa velocidade, havendo mesmo ciclovias segregadas - o desafiante de dobrável dificilmente sentiria necessidade de embarcar com ela num ônibus para concluir ou trajeto, ou não veria especial vantagem nisso.

Também se questionou a distância, embora ela seja consideravelmente menor do que o Desafio de Mobilidade feito no Rio de Janeiro (15km). Contudo, isso alerta para o fato de que talvez o Desafio Intermodal de Mobilidade de Salvador a ser realizado no próximo dia 18 de setembro, sábado, com o intuito de medir a mobilidade para lazer na orla da baía e no Centro Antigo, deva ser encurtado. Originalmente foi pesando para sair do Terminal Marítimo da Ribeira em direção ao Passeio Público do Palácio da Aclamação, cerca de 11km de distância. Sugiro que o Desafio do sábado dia 18 saia do Terminal Marítimo da Ribeira e se conclua na Praça Municipal de Salvador, na Sorveteria Cubana no topo do Elevador Lacerda. Este trajeto também foi escolhido porque nele se pode testar o mais peculiar modal de Salvador: os ascensores públicos na Escarpa da Montanha.


Lucas Jerzy Portela
http://ultimobaile.com

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