sábado, 14 de julho de 2007

Bom Jesus da Lapa e Santiago de Compostela

Valci Barreto
Editor de MEU ZINE,
link do site www.amigosdebike.com.br



Todos os anos, o Município de Bom Jesus da Lapa, no Oeste da Bahia, recebe milhares de romeiros que buscam as graças divinas, fazem pedidos, pagam promessas, tentando aliviar as suas dores com as esperanças no Senhor Bom Jesus da Lapa, alimentados pela fé católica. De caminhão, moto, bicicleta, jumento, cavalo, a pé, barco, canoa, afluem de todos os cantos da Bahia e até de outros estados. Há também os que, religiosos ou não, para lá se dirigem movidos por interesses artísticos, políticos, econômicos.

No meio desta gente toda, há um grupo formado por centenas de motociclistas que, todo último domingo do mês de agosto, partem do Município de Sapeaçu, da localidade denominada BAIXA DA PALMEIRA, acompanhando os caminhões e carros que levam os romeiros para aquele município baiano.
Muita gente sai do Brasil, de todos os cantos do mundo, para fazer o caminho de Santiago de Compostela. Não entro na discussão qual o melhor dos dois : Se o baiano ou o espanhol.
Em relação à religiosidade, não tenho dúvida de que a escolha deve ser em favor do Bom Jesus da Lapa.
Afinal, não creio que os santos espanhóis sejam mais fortes do que os nossos. Mesmo porque, têm eles a mesma origem e muitas vezes as mesmas histórias, havendo ainda o mesmo santo que apenas tem nomes diferentes, de acordo com o povo ou região que o cultua. E, dentro do cristianismo, de um modo geral, o senhor BOM JESUS, da LAPA, ou de qualquer outro local, goza de hierarquia maior, merecendo orações e louvores, até mesmo de cristãos não católicos.
O que faz, então, os ricos, classe média baiana, brasileira, ir a Santiago de Compostela e sequer querer conhecer Bom Jesus da Lapa?
A religiosidade deve ficar afastada, cristãos de toda ordem, católicos ou não, têm o Senhor Bom Jesus como o verdadeiro Deus a ser adorado, festejado.
Quanto à beleza do lugar, certamente há lugares mais belos em alguns trechos do caminho espanhol do que o do baiano. Há trechos aqui, no entanto, que possuem beleza maior do que os de lá. Deus não iria ser injusto com nenhum dos dois.
Porque, então, Santiago e não Bom Jesus da Lapa? Quem leu Nelson Rodrigues, vai, pelo menos, ter uma dúvida, será que não é a mania de inferioridade do brasileiro?
Como os que podem, classe média, novos ricos (ricos de verdade não ligam para estas coisas: Lapa e Santiago é tudo igual.) vão preferir, por muito tempo, os caminhos de lá, e fazer a defesa mais simplificada: “Santiago tem estrutura”. Quem puder fazer os dois caminhos, melhor. Quem estiver na Bahia, e não puder ir a Santiago, vamos fazer o da Lapa, enquanto não existem as tais estruturas. Isto porque, quando elas vierem, com hotéis, campos de aviação , pousadas luxuosas, estacionamentos caros, poderá não haver mais espaços para os pobres. Aí, os pobres baianos não mais terão acesso à LAPA, senão como já acontece com o bacalhau: depois que o pessoal do dinheiro tomou gosto pelo salgado norueguês, vindo de Portugal, o preço foi lá pra cima, só é servido em local de “muita estrutura” e pobre só o vê do mesmo jeito que o Caminho de Santiago: pela televisão.
Quem tiver religiosidade, curiosidade, gostar de moto e vontade de ver maravilhas: dança de côres dos céus baianos , caminhos de asfalto, pedras, cachoeiras, o ainda majestoso Rio São Francisco, tudo ao som dos cânticos de romarias, apesar de toda a pobreza, vale a pena o passeio até a Lapa, com ou sem religiosidade. Eu vou pensando em Deus e em todos os santos, católicos ou não, que acompanham os baianos e os espanhóis nos caminhos da fé.
Em muitos locais da Bahia são formados grandes grupos de ciclistas que se dirigem, na mesma época, para a Lapa, percorrem grandes distâncias, inclusive grupos que saem da região sul e sudoeste do nosso estado. Santiago de Compostela é também aqui. Pobre, mas santo, igualzinho ao da Espanha. O de lá é apenas mais caro, para quem está aqui. O daqui é apenas mais caro para quem lá está. Ambos, porém, são belos, sagrados e merecem a fé e sincera contemplação dos homens.
Paulo Coelho preferiu Santiago. Nada de errado. Mas quem não tem o escritor consagrado, tem nós: motoqueiros, romeiros, religiosos, bicicleteiros, amantes dos caminhos do Bom Jesus da Lapa; e Meu Zine, que estará em Sapeaçu, no último domingo de agosto, deste ano, pelo menos para ver a saída dos crentes em direção ao SENHOR BOM JESUS DA LAPA.

Publicado no Meu Zine, link do site www.amigosdebike.com.br e no Muraldebugarin.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Pai, é só para marcar presença mesmo!

TE AMO,

BEIJOS,
MARI