quinta-feira, 19 de junho de 2008

AJUDE, PODE SER BARATO E ATÉ DE GRAÇA

Valci barreto,advogadoeditor do bikebook.blosgspot.colaborador do muraldebugarin.com

Folha do Reconcavo.

Muitas pessoas, comovidas e estimuladas por apelos do programas de tv, sermões de religiosos e de membros de entidades filantrópicas, fazem doações a carentes que em outras circunstâncias jamais fariam. As cenas das carencias do nosso povo, apresentadas naqueles programas, sempre acompanhados de artistas famosos, sensibilizam a todos. Muita gente, no entanto, fora destas ocasiões, nem se lembram de que ao seu lado estão pessoas que também precisam de ajuda , muitas delas até mais necessitadas do que as mostradas na TV, que precisam e podem ser ajudadas até de forma mais fácil. Há pessoas que somente conseguem se desprender de algo, quando envolvidas por apelos televisivos ou sermões de entidades religiosas ou filantrópicas.
Há formas de ajudar muito simples que podem ser realizadas sem maiores sacrifícios físicos ou econômicos e que, no entanto, produzem efeitos maravilhosos.
Há pessoas que não possuem carencias economicas maiores, têm o que comer e onde morar tendo no entanto , outras carências geradas por limitações que não são essencialmente econômicas. Como exemplo, uma pessoa de boa condição econômica pode estar em um hospital necessitando apenas de algum consolo, carinho, visita de alguém.
No interior, há pessoas que se alimentam, vivem bem sem maiores dificuldades econômicas. Mas são carente, por exemplo , de livros. Para obter um ou mesmo uma revista usada, têm que se deslocar por vários quilômetros. Isto também acontece nas periferias das grandes cidades. Estas pessoas necessitam e merecem , também de ajuda . E podem ser ajudadas por meios simples, baratos , descomplicados.
A leitura poderá fazer a vida de muita gente mudar para melhor, independentemente de tornar-se ela rica economicamente; e qualquer pessoa, mesmo sem maiores condições econômicas, pode ajudar.
Uma forma simples, barata, é descobrir alguém , notadamente criança, adolescente,que gosta de ler e dar-lhe livros e revistas usadas.

Se a pessoa mora perto de sua casa, bairro, trabalho, leve pessoalmente. Deixe na porta, na janela, independentemente de ela saber de onde está vindo. Se souber, também não é problema.
Se a pessoa a quem você quer doar mora longe da sua casa, anote o endereço, com CEP. Os livros e revistas usadas que você iria jogar fora, podem ser encaminhadas pelo Correio. Para encaminhar pelo Correio, não precisa ser por Sedex, registrada, nem em caixas ou pacotes caros.
O pacote pode ser feito com qualquer papel, até de jornal velho. Por fora, cole papel liso, de qualquer cor(com letras ou propaganda às vezes o Correio rejeita).Mande como simples encomenda, sem registro, pois é muito mais barato. E se o pacote for desviado, o que é muito raro, não tem problema, outra pessoa vai ler. Pode ser para uma entidade, escola, prefeitura, associação de moradores, igreja de qualquer credo. Ou para uma criança qualquer que você apenas anotou o endereço.
No ponto de vendas de livros usados do senhor Alfredo, na Sete Portas, parte baixa da Ladeira do Funil, um livro ou revista usada pode ser adquirida por valores de um a cinco reais. A remessa de um livro, pelo correio, custa entre 3 a cinco reais, a depender do peso. Uma revistinha infantil custa menos ainda.Pegue uma revistinha infantil, ponha no seu carro, moto ou bicicleta e entregue em qualquer entidade, a exemplo do NACCI, em Nazaré, Salvador.A revistinha infantil pode custar até 0.50 centavos , usada. A que você tem em casa serve também.Pelo menos uma vez por mes, semana ou quinzena, sem atrapalhar meu dia a dia, tenho feito isto. As vezes ponho no Correio, às vezes deixo em frente a entidadades filantrópicas, igrejas, ou simplemente faço oferta a alguem que percebo ser interessada por leitura, de qualquer idade. Não é para ser "bonzinho", demonstrar espirito de caridade. Nada disso. É uma questão prática , pensada em favor do bem, sem sacrifício, sem incomodo, sem mudar meu rumo do dia a dia e sem precisar ver os necessitados nos programas de Tv. São muitas as coisas que as pessoas jogam no lixo, inclusive livros, revistas, brinquedos. Por tudo e tudo, é melhor doá-las do que jogar no lixo.

Vez em quando passo de bicicleta pelo NACCI, no bairro de Nazaré e deixo lá algumas revistinhas infantis. As crianças adoram. Quanto me custa isto? Já estou passeando por ali, estou pedalando, divertindo-me com o pedal;tenho livros e revistas que já não cabem em minhas prateleiras, porque não levá-lasr para aquelas pessoas?
Deixo também na bibiloteca do Calabar. Tudo isto sem mudar meu rumo e sem me acrescentar qualquer despesa.
Outro dia, lendo uma revista na fila do Elevador Lacerda, um rapaz não tirava os olhos da revista. Perguntei-lhe se gostava de ler. "Leio tudo. E meus irmãos também"´. -Leve esta para você, disse-lhe, ao que reagiu como se estivesse recebendo um grande premio. Agradeceu festivamente, no meio de todo mundo, como poucas vezes vi alguém assim proceder ao receber uma coisa tão simples e barata. Era uma revista semanal, usada.E acrescentou: "meus irmãos vão adorar!". Não sei quem é ele. Também não sabe quem eu sou. Nem faz isto qualquer diferença.
Pois é , no centro de Salvador, onde há revista por todos os cantos, um rapaz tinha carência de uma bem comum . Foi mais uma lição para mim que estou transmitindo por achar interessante, útil, alégre, barata.
Conheço duas pessoas que tiveram suas vidas modificadas por gesto simples, despretencioso feito por alguém. Um deles, ele próprio me contou a história, real, verdadeira:
Quando criança, diz ele, estava sentado em frente à sua casa quando passou um rapazinho com uma garrafa contendo um peixe vivo que pescara na praia . Este rapaz deu-lhe aquele peixe de presente que determinou, com o tempo, o prazer pela criação de peixes em aquário. Até hoje vive da criação de peixes ornamentais em Salvador, mantendo um grande interesse por cruzamentos e reprodução das mais variadas espécies, vendendo ainda aquários e rações.
O outro, não o conheço pessoalmente. Porém, primeiro vi seu depoimento na TV, relatando como começou o seu interesse pelo mar e pela navegação. Tudo começou, disse ele, com um simples óculos de mergulho que recebeu de um amigo.
Trata-se do navegador brasileiro, baiano, com ascendência russa, ALEIXO BELOV, cujas aventuras pelo mar, acompanhava eu , através das reportagens dos jornais da época.
De um simples óculos de mergulho que recebeu de um amigo, resultou na grande aventura que o transformou no primeiro navegador brasileiro a fazer a volta ao mundo em solitário.
Sua historia é contada em livro de sua autoria , A Volta ao Mundo em Solitário, impresso pela BIGRAF, em colaboração com a FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA, editado em 1981.
Morava eu em Barreiras, interior da Bahia, quando o livro foi lançado. Devia a mim mesmo a sua leitura. Encontrei-o no Sebo do Daniel, Rua da Ajuda ,número 3, esta semana. Vibrei com o achado. E vi, em suas páginas, o que já conhecia dos depoimentos do autor nos programas televisivos.

Diz Belov em seu livro:

-"lembro-me muito bem. Jadiel Oliveira, um amigo nosso, resolveu estudar no Itamarati. Assim sendo, mudou-se naquele tempo para o Rio de Janeiro e, entre as coisas que resolveu não levar e distribuir com amigos, me coube um óculos de mergulho. Isto foi em 1957, creio que fora a primeira vez que tive a oportunidade de ver uma máscara de mergulho. ....
....jamais imaginei aonde estes óculos um dia iriam me levar. ""
Afirmou Belov, no programa de TV, que está construindo um navio escola para que crianças possam descobrir os segredos do mar, dizendo ele querer devolver a elas o que de graça também recebeu.
Pelo que li, embora não declarado pelo autor, não foram apenas os óculos que o levou tão longe. Creio queb muitas leituras, antes e durante a viagem , prestaram-lhe grande ajuda.
Alguém pode perguntar: e você, o que tem a ver com isto?
Como diria Caetano e Gil, juntos:" tudo... ou nada...."
Em vez de óculos de mergulho, e garrafa com peixes, tive eu, de graça, de meu pai e dos meus avós de consideração, moradores da pequena localidade do Alambique, em Jaguaquara, as revistas O Cruzeiro. Elas me levaram e ainda me lavam, a grandes viagens sem sair de casa e sem os riscos das tormentas enfrentadas por Belov.Doar livros e revistas , é infinitamente mais barato do muitos outros gestos filantrópicos. Alguns doam barcos , tijolos, comida, óculos de mergulho. Qualquer um pode doar livros e revistas usadas. E não são menos importantes.
Caetando Veloso costuma dizer que queria mesmo era fazer cinema. Foi para a música porque era mais barato.
Talvez por isto, e por falta de talento para viver deles, tive que escolher livros ,revistas, bicicletas usadas e baratas , mesmo tendo tido muita vontade de também navegar por aí, até mesmo em canoa; jogar na seleção brasileira; fazer cinema, cantar com os Beatles, namorar Brigitte Bardot e suas concorrentes da minha adolescencia. Despertando em mim aprendizados e sensações gostosas, sempre que posso quero partilhá-las com outras pessoas. Tenho lido, andado de bicicleta e estimulado as duas práticas, apenas como diversão gostosa e barata. O mesmo faço com doações de livros e revistas usadas.
Terezinha Costa é uma pessoa muito querida minha. Minha primeira infância foi entre o Alambique, onde ela ainda mora, e a localidade de Agua Doce, pequeno povoado que não mais existe. Por ela gostar de ler, frequentemente mando-lhe um livro, uma revista, através do Correio. Está ela avisada de que, se algum não for do seu gosto, ou não tiver onde guardaar, está autorizada a entregar em qualquer ônibus escolar que passar em frente da sua casa, ou a qualquer criança que demonstrar interesse por livro.A festa de crianças por revistinhas infantis acontece em qualquer lugar do planeta. Aí está o endereço de Terezinha Costa, para quem quiser mandar livro ou revista, que vão terminar, depois das leituras, nas mãos das crianças que passam em ônibus escolares em frente da sua casa:
TEREZINHA COSTA, Av. Otavio Mangabeira, 98, CEP 45.345.000 , JAGUAQURA-BAHIA. Este é endereço de sobrinhos dela que moram na cidade. Onde ela mora o Correio não chega.

No São João de 2008 hospedei-me no Hotel Vaz, em Jaguaquara, onde descobri um funcionário daquele hotel que me revelou o gosto pela leitura, dizendo ele sonhar em ter uma biblioteca. Trta-se de Moisés Miranda, para quem podem os leitores interessados mandar livros pelo correio. Promete ler , guardar e também repassar para as crianças do bairro da Casaca , onde mora e onde também o correio não chega.

MOISES MIRANDA,
Hotel Vaz, Av. Dom Pedro II, Muritiba,
Jaguaquara Bahia , CEP 45.345.000-Jaguaquara Bahia.

Há milhares de locais no mundo, até mais difíceis, onde podem chegar suas doações de brinquedos, livros e revistas usadas, sem ter que desviar seu rumo para casa , escola, trabalho, lazer. E pode começar logo. Não precisa esperar os pedidos e apelos da TV e dos sermões.

Fazendo assim, quem sabe não estamos ajudando a formar cientistas, literatos, construtores, ou simplesmente levando emoções para as pessoas?
Amyr Klink afirma que não foram barcos os primeiros a lhe despertar o desejo de navegar. Diz sempre que foram os livros que lhe mostraram os caminhos. As histórias dos navegadores que lia em sua infância foram os grandes inspiradores. Mineiro, sem mar ,foi com seus livros parar em Paraty. Para Belov, bastaram os óculos; o mar estava aos seus pés, na Ladeira do Paiva, em Salvador. Ambos contando belas histórias, começadas com coisas e gestos tão simples, ao alcance de qualquer um : livros e óculos usados.
Muitas coisas usadas que voce não quer mais, podem mudar vidas. O livro é uma delas. Não os jogue no lixo; faça doações a bibliotecas comunitárias; Igrejas, de qualquer credo, ou simplesmente entregue a alguém na rua, como fez o rapaz com o peixinho trazido da práia; e o Jadiel que transformou a vida do Aleixo.Espalhem esta idéia, esta prática. Vai ajudar a muita gente; se não a ganhar dinheiro, descobrir remédios para os males da humanidade, pelo menos a provocar-lhes gostosas emoções contidas nos mistérios e nas deliciosas artimanhas da leitura.
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relação de sebos, pontos de livros usados , pessoas e locais para quem quiser fazer doação de livros.
bikebook.blogspot.com

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