por Valci Barreto
Advogado
Editor do bikebook.blogspot.com
Muraldebugarin.com
Governo nenhum do mundo vai encher as ruas de ciclovias e ciclofaixas. Estas vão depender sempre de uma série de circunstâncias para serem implantadas: compromisso com o planeta, com a mobilidade nos grandes centros, cobranças da população. O máximo que farão alguns ,e muitos já estão fazendo, é criar obstáculos para os carros; fabricar carros pequenos; carros que voam, taxação alta, proibição para circular em algumas ruas e outras medidas; Até mesmo por não ser prático, possível , jamais os governos implantarão ciclovias em todos os espaços dos grandes centros.
Porém , enquanto estas medidas não chegam até nós, vamos ficar sem pedalar? - Óbvio que não.
nos tomaram, pedalando em grupo, na defensiva, dando passagem e promovendo campanhas educativas demonstradoras de que a rua não é só do carro. E que, o uso deste até para ir à esquina ao lado é falta de civilidade.
A lei autoriza oque veiculos e bicicleta circulem nas mesmas vias. Não há pista exclusiva para carro. Isto já está normatizado em nosso sistema jurídico.
Há pessoas, há mais de vinte anos, pedalando sozinhas pelas ruas de Salvador, sem nunca ter sofrido um acidente. Mas isto só é possível tomando todas as cautelas que o tempo ensina.
Pedalo sozinho por aí. Muita gente já faz o mesmo. Andar de bicicleta em grupo é melhor, mais seguro. Mas tem suas dificuldades: acomodar os interesses individuais, culturas, costumes, ritmos, tipo de roupa, tênis e até o local e hora para comer, beber, preço e tipo de bicicleta ou da camiseta. O próprio roteiro nem sempre agrada a todos.
Muitos grupos de bicicleteiros já têm uma cultura formada em Salvador. Os perfis de cada um estão publicados em nossos sites e blogs. Alguns estimulam o uso de camiseta padrão, algumas mais caras, outras mais baratas. Há grupos que pedem alguma colaboração dos ciclistas para participar de determinado evento . Outros nada pedem, nada cobram.
Alguns querem caminhar para o profissionalismo, cobrando para participar de eventos para os quais são convidados.
Nada disso é mau. Ao contrário. Haverá sempre os que querem cobrar e os que fazem questão de pagar. Outros pedem colaborações para ações filantrópicas.
Todas as ações são válidas para o crescimento dos movimentos cicloativisas.
Porém, quem não quiser ou não puder pagar, nem por isto deve ficar sem pedalar. Crie o seu grupo, ou, simplesmente, pegue sua bicicleta e saia por aí. É assim que faço. E dá certinho. Convide amigos que tenham afinidade com você, com seu jeito de pedalar, rítimo, tipo de bicicleta, preço de camiseta, tênis ou bicicleta. Realize programas que possam ser custeados por você e seu grupo e vá pedalar, respeitando o carro, a moto, outro ciclista, o pedestre, o silêncio das pessoas que dormem ou descansam em suas casas. Se assim fizer, as contribuições e pagamentos que você poderia dar a outros grupos, você dará ao seu próprio, que será feito do seu jeito, do jeito das pessoas que você quer estar ao lado.
Pedalar é barato, simples, fácil, econômico, prazeroso. Só depende de você e das pessoas que você escolher para estar ao lado. Alie-se a pessoas que lhe fazem bem , que queiram estar ao seu lado e que façam questão da sua companhia. Respeite as diferenças porque ninguém vai ter tudo nem lhe dar tudo do jeito que você quer. A vida é muito breve para você aturar os chatos, chatear os outros, ficar dificultando as coisas. Muitos querem cobrar de você, em dinheiro ou atitude, o que você não pode ou não quer dar. Estas mesmas pessoas não fariam o mínimo de sacrifício, quando procuradas para prestar-lhe algum tipo de ajuda. Muitos são fervorosos, ardorosos praticante da “Lei do Gerson”, do "para mim tudo" ," para os outros a lei e os sacrifícios." Isto acontece em todos os meios. No das bicicletas não seria diferente.
Seja genoroso e aceite as generosidades de quem gosta de você. Não precisa ir a igrejas para isto. Se for e lhe faz bem, porque não?
Sou católico, raramente vou à igreja, mas respeito quem vai todos os dias e milita em favor das suas causas. Seja qual for a religião. Claro que não aprovo ações de algumas que "vendem" as mais variadas promessas de recompensas, terrenas ou não. Faço da minha igreja a minha casa, meus amigos, minhas praias, pedais, trabalho e leitura. Em minha companhia também não pode faltar livros; de preferencia os clássicos, sempre bons, "testados por geraçoes" nas palavras do grande Heminghay. Eles mes ensinam, me ajudam muito a estar sempre bem. O que tive, o que tenho, o que não tenho, o que jamais terei, não veio nem virá de nenhuma igreja. Mas reconheço a importancia de suas obras, seus conselhos. Sinceramente, não sinto necessidade de Igreja para fazer-me forte, para dar-me confiança. Busco isto em mim, em vários cantos e pessoas . Pode ser na Igreja também. Quero me sentir sempre vivo, ativo, animado com as coisas boas; quero estar, lendo, aprendendo, ouvindo conselhos, aceitando ajuda e, na minha medida, também procurando ajudar. Se não com grana, porque também não tenho, mas com gestos, com pedidos a quem pode e não se recusa a ajudar; e correndo, o máximo que posso, das agressões e dos perigos que nos rondam em cada esquina. Porém, sofrer por não estar ao lado de quem não me quer, na vida, nos pedais, nas festas, jamais. Tenho minhas cruzes nas costas, como todas as pessoas as têm.
Há pessoas que gostam de complicar e complicam em tudo, começando pela arrumação ou desarrumação da sua casa, roupa, prato, vida com amigos, família ou vizinhos.
Quem não puder ou não quiser comprar uma camiseta ou bicicleta cara, pagar por um passeio de outros grupos, crie o seu próprio. Com certeza, ele será o melhor de todos, sem qualquer dúvida. Porque é o seu, o de seus amigos, o que voce fez e do jeito que vouce sabe ou pode fazer.
Foi assim que criei o "Jabutis Vagarosos "que às vezes é apenas eu pedalando, perto ou longe de casa. Em qualquer lugar do mundo em que eu estiver, com qualquer bicicleta, até enferrujada, velha, desde que rode, eu faço o meu Jabuti. Sozinho ou acompanhado , estou sempre buscando meus caminhos, minhas alegrias; compartilhando tudo com pessoas que queiram estar ao meu lado e eu ao lado delas.
Em Salvador, por sorte, é muito dificil eu estar só em meus pedais. Há pessoas que pensam e agem como eu em relação a eles. Respeitamos as nossas regras de convivência, colaboramos e apoiamos em tudo que nos é possível. Estamos juntos a outros grupos, prestando nossa solidaridade e deles também recebendo.
Sempre ao lado de pessoas como Itana, Luzia , Rose, Bugarin ,George Argolo, Tude, Tony, Tio Lu,Deraldo Dias, Sergio Bezerra e tantos outros, jamais realizamos um passeio que no final dele não comemorassemos com expressões do tipo: “Que Jabuti maravilhoso”! "Que passeio"!
E , ao fecharmos as contas do que gastamos em dinheiro, normalmente não é mais do que cinco, dez reais para cada um. Meredamos, comemos o que gostamos, sem medo de ser feliz: melancia, abacaxi, jaca, mingau, banana, nas quitandas encontradas pelos caminhos. Pode haver uma parada para almoço em um dos shoppings da cidade, comida a peso, pela praticidade, com direito ainda a uma visita às livrarias que também curtimos.
São muitas as opções para os pedais. Só gasta, paga, se estressa, incomoda ou é incomodado se quiser.
Gosto de todos os esportes, sem ser ou mesmo querer ser atleta; pratiquei vários. Não sei viver sem eles. Nenhum, porém, me promove tantas alegrias e possibilidades como a bicicleta.
No futebol , por exemplo, em campo pode lá estar um chato, violento, criador de caso. Você terá tres opções para dele se livrar: deixar de jogar, suportar o sujeito durante todo o jogo ou impor-lhe o afastamento. Com a bicicleta é diferente : não há "mando de campo", "dono da bola" ,"dono do time"; e você só tolera, fica ao lado do violento, mal educado, se quiser. Apareceu um ,você dá um até logo e sai pedalando, libertando-se dele e ele de voce, certos de que estarão "separados,mas felizes para sempre".
Este é um um dos mais fortes motivos porque escolhi a bicicleta para me divertir. Eu fujo dos chatos. E os que me acharem assim fazem o mesmo comigo. E estamos muito bem: eles lá, eu cá.
Mesmo sem sermos "pão duro", estamos por aí, quase sem nada gastar ; sem precisar pagar "ingresso para a festa". Certamente surgirão os comerciantes, pessoas que vão querer administrar, criar grupos profissionais de pedais. Nada mau que isto venha a acontecer. Será ótimo. Mas ninguem será obrigado a pagar. No pedal, ser feliz é muito simples e barato. Só depende de você, que não precisa mais do que uma bicicleta, de qualquer preço, para "entrar no jogo".
No mundo dos passeios ciclísticos, o egoísta, a pessoa ou grupo, só vai lhe explorar, maltratar, cobrar caro, em dinheiro ou atitude, se você permitir, se você quiser.
Apoio a atuação dos políticos em nossos pedais, ainda que para pedir votos. É da política. Cabe aos ciclistas escolherem o que achar que merece o seu.
Tem gente não quer o político em seu passeio. Mas se ele der dinheiro, ou qualquer ajuda, tudo bem. Cabe aos grupos que não queiram políticos em seu meio serem claros com os mesmos; e com os pedalantes. Nenhum político vai querer participar sem ser convidado. Especialmente aqueles que já nos acompanham, também pedalantes, que todos já conhecem. Se mais vierem, melhor. Há quem diga que os políticos estão explorando os passeios. Quanta bobagem! Que pensamentos pequenos!
Qualquer um deles, com muito pouco esforço e gasto, pode organizar um passio, um evento maior do que todos que estão aí. É só avisar , dar publicidade, que milhares de bicicleteiros vão aparecer de todos os cantos, dizendo"eu também vou".
Os Jabutis Vagarosos aceitam todos: políticos, não politicos, músicos, atletas, qualquer credo, cor, com ou sem camiseta, bicicleta nova ou velha, desde que rode. E nada cobra. Não abre mão é dos critérios de respeito ao mais fraco , educação , não à bebedeira, buzinadas, falta de respeito às leis de trânsito. E pode vir com qualquer roupa, desde que "cubra as vergonhas". (Pero Vaz de Caminha).
Que venham os artistas, malabaristas, dançarinos, desde que pedalem. Se quiser ajudar, com panfletagem, palestras, mensagensem favor das bicicletas, mesmo sem pedalar, serão todos aceitos. SEjam ou não políticos.
Sou apaixonado pelos Jabutis Vagarosos, pelos seus passeios. Sou jabuti até quando estou em outros grupos. Mas não pago ingresso, não pago para ter direito a pedalar. Nem mesmo nos Jabutis. Ajudo, colaboro em algumas situações, para alguns eventos, mas comprar ingresso para participar de passeio ciclistico, Jamais! Não há qualquer necessidade, disso. E vou continuar pedalando, mesmo sem ciclovias e ciclofaixas ; não tenho qualquer dúvida de que haverá sempre um espaço sobre o qual poderá trafegar duas rodas da magrela, sem precisar pagar pedágio, ingresso ou acesso para grupos organizados.
Com ou sem ciclovia, com ou sem político, quem é Jabuti, jamais se sentirá sòzinho; em sua companhia estará, na pior das hipóteses, uma bicicleta!
Editores: VALCI BARRETO, Advogado, estudante de jornalismo. Fones: 9999-9221 (Tim), 3384-3419 e 8760-7969 (Oi). Email: valcibarretoadv@yahoo.com.br. Colaboradores: Itana Mangieri, Alberto Bugarin e Sérgio Bezerra. Todos blogueiros, cicloativistas e amantes de livros, fotos e videos - Interesses do Blog: reportagens, artigos, com destaque especial para passeios de bicicletas, livros, cultura em geral, cicloativismo, cicloturismo e educação para o trânsito. Colaborações serão sempre bem vindas.
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Um comentário:
Amigo, maravilhoso e apaixonado teu texto.
tomei a liberdade de retirar umas vírgulas e pôr uns acentos. No mais, vamos indo.
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