Texto: Itana Mangieri
Desisti do stress causado pelo atraso e relaxei ! E a cada intervalo de 5 minutos e um avanço de 20 mts, reparava vagarosamente o que via a minha volta debaixo do sol quente e em cima de um viaduto: as obras de um shopping com alguns operários sem capacetes, cintos e clipes de segurança trabalhando num andaime, livres, leves e soltos; fiéis entrando apressadamente num faraônico templo de fé em busca de conforto espiritual; um motoqueiro, com capacete, fumando naturalmente ... (como se fosse natural engolir e reengolir fumaça tóxica) e outros zigue-zagueando ferozmente entre os carros parados no meio da rua por causa do trânsito lento; celulares tocando jingles musicais e cômicos e sendo atendidos para longas conversas entre uma troca e outra de marcha para o avanço de mais alguns metros; casais discutindo em tom nada amigável e pais agoniados para logo deixar ou recolher seus filhos na escola (apesar de que numa situação dessa, qualquer um ficaria desesperado para tirar uma criança do carro).
Entre uma observação e outra, tentava, com meus ouvidos, desprezar o irracional som alto dos carros de propaganda eleitoral. A cada semáforo, alguém se aproximava de mim para distribuir panfletos, folders, cartazes, livretos e jornais de divulgação e comercialização de condomínios imobiliários. Nas esquinas, uma alameda de adolescentes segurando bandeiras de propaganda de candidatos à prefeito ou vereador.
Pedestres atravessando distraidamente a rua fora da faixa de segurança (como se carros parados no trânsito lento não oferecessem riscos). Flanelinhas(ões) insistentes com seus rodinhos e discursos miseráveis por uma moeda, gritos aberradores de vendedores de água, sucos, refrigerantes, cervejas, CD’s, DVD’s, carregadores veiculares, panos-de-chão, laranjas, pinhas, biscoitos, amendoim cozido, cestos de lixo, brinquedos, jornais, crianças malabaris e palhaços vestidos de enfermeiros pedindo doações para um orfanato.
Senti falta da minha bike. Já estava me sentindo impotente parada ai ! Após 1 hora e quarenta minutos cheguei ao meu destino já aguardando alguns narizes tortos e, para minha surpresa, me aliviei ao saber que a reunião tinha sido adiada ! Respirei fundo e lembrei o quanto pude refletir sobre qualidade de vida urbana durante o trajeto.
No final da tarde resolvi ir ao cinema. No caminho de volta pra casa parei num shopping, escolhi o filme, comprei o bilhete e fui dar uma voltinha para relaxar e ocupar o tempo que sobraria até o início da sessão. Deparei-me com um evento do Greenpeace sobre água. Consistia num túnel dividido em quatro etapas onde, cada grupo de mais ou menos 10 pessoas monitoradas por um voluntário apto, adentrava neste túnel e ouviam as explanações de preservação, conscientização e reflexão sobre atitudes com as praias e oceanos e as conseqüências do aquecimento global. Na primeira parte do túnel, havia nas laterais, como cenário, cantoneiras de areia com lixo comum que vemos diariamente em nossas praias como latas de alumínio, embalagens e palitos de picolé, sacos e copos plásticos, cacos de vidro, etc. Para minha surpresa, enquanto o monitor falava sobre nosso comportamento ecológico, um dos curiosos que lá estavam, abriu sua paçoquinha e jogou a embalagem no chão (sic!). Engoli a cena “atravessada” e sem me preocupar com a atenção que o monitor necessitava do grupo, indaguei o indivíduo:
- Ei ? Porque você está jogando lixo aqui no chão ?
- Ué ! Por que aqui já tem lixo ! (respostinha mal-criada ! rrr)
- Mas isso é um cenário. Um cenário da nossa realidade. Você está querendo contribuir mais ainda para termos lixo nas praias e em outros locais ? Não se situou ainda não ? Tá perdido, é ?
Terminando o túnel com os cenários exemplificando os danos causados pelo comportamento do ser-humano e a reação da natureza pelo aquecimento global, seguimos para uma sala para assistir a um vídeo institucional sobre o Greenpeace onde havia, para conforto do grupo, um sofá inflável que furou-se após o cidadão anterior ecologicamente incorreto se jogar sobre ele (sic ! ... tsc, tsc, tsc).
Meu Deus ! Como é difícil pensarmos em conscientização, em hábitos saudáveis e qualidade de vida, sem educação. E ainda tem gente preocupada com as eliminatórias da seleção brasileira de futebol ! Enquanto uns se preocupam com a estrutura de esgoto sanitário municipal, outros fazem xixi e cocô em muros e postes públicos. Enquanto uns se preocupam na melhoria do transporte urbano como metrô, trens, ciclovias e caronas solidárias, outros matam cidadãos atropelados pelo prazer de beber e dirigir.
E o pior é que, com ou sem instrução, estamos todos no mesmo barco !
Seria muita utopia se todos os eleitores votassem em candidatos ou partidos com projetos voltados para a educação básica ?
EDUCAÇÃO vem de berço. É base. Qualidade de vida é conseqüência !
Editores: VALCI BARRETO, Advogado, estudante de jornalismo. Fones: 9999-9221 (Tim), 3384-3419 e 8760-7969 (Oi). Email: valcibarretoadv@yahoo.com.br. Colaboradores: Itana Mangieri, Alberto Bugarin e Sérgio Bezerra. Todos blogueiros, cicloativistas e amantes de livros, fotos e videos - Interesses do Blog: reportagens, artigos, com destaque especial para passeios de bicicletas, livros, cultura em geral, cicloativismo, cicloturismo e educação para o trânsito. Colaborações serão sempre bem vindas.
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