domingo, 26 de setembro de 2010

Desafio de Mobilidade de Salvador - percurso de lazer


Introdução

Dia 18 de Setembro o Conselho Regional de Psicologia secção Bahia e Sergipe (CRP-03) realizou mais um Desafio Intermodal de Mobilidade de Salvador. Desta vez, o Desafio Intermdal (DI) visiva auferir a capacidade de mobilidade na cidade em um dia e horário próprio de lazer, em zonas de interesse para este tipo de atividade. 

O percurso escolhido tinha saída da Sorveteria da Ribeira (Enseada dos Tanheiros, Itapagipe) às 16h e chegada na Sorveteria Cubana (topo do Elevador Lacerda, Praça Municipal deSalvador). A opção por este horário num sábado se deu por nele termos frota de ônibus completa, como em dia útil, mas demanda reduzida, como num domingo. O roteiro, de cercade 8km, é similar ao que faria um morador do Subúrbio Ferroviário para acessar o Pelourinho e o Centro Antigo de Salvador, já que a Ribeira está a 5min de barco desde o bairro dePlataforma, e a menos de 2km da Estação de Trens da Calçada - principais vias de acesso ao Subúrbio. 

Diferentemente do DI do dia 2 de setembro, o presente DI cobriu uma área integralmente dentro do Centro Expandido de Salvador, cruzando parte de seu Centro Antigo (Comércio) e indo até seu Centro Histórico (Distrito da Misericórdia)

Também neste roteiro seria possível testar a eficiência dos Ascensores Públicos de Salvador; tanto assim que os desafiantes se dividiram em pares: taxi com baldeação para o Elevador Lacerda X automóvel (sem acesso ao Elevador); bicicleta dobrável com baldeação para o Elevador Lacerda X bicicleta comum (sem baldeação); ônibus com baldeação para o Elevador Lacerda e motocicleta.


Resultado e Análise de Dados

A partida do desafio foi dada às 16h e 33min. Os desafiantes percorreram o deslocamento previsto dentro dos tempos abaixo listados:

  • Ônibus + Elevador                - 31min
  • Bicicleta dobrável + Elevador - 27min
  • Bicicleta                              - 27min
  • Automóvel                            - 20min
  • Motocicleta                          - 17min
  • Táxi + Elevador                     - 23min
No percurso, foram observadas as seguintes intercorrências:
  • O desafiante em Bicicleta observou um acidente, sem vítimas, envolvendo dois ônibus, na entrada do Túnel Américo Simas
  • O desafiante em Ônibus teve de tomar duas linhas de coletivos, além do Elevador Lacerda;
  • O desafiante no modal Automóvel observou que, apesar de ser num sábado a tarde e numa área de demanda basicamente residencial, havia pequenos congestionamentos.
De modo geral, se observa que o deslocamento neste trecho é feito com prestreza relativamente identica entre todos os modais, a exceção da motocicleta: do modal mais célere (automóvel) ao mais demorado (ônibus + elevadores), o primeiro é apenas 1/3 mais rápido do que o segundo. 

O uso do Ascensor Público se mostrou irrelevante em termos de agilidade no deslocamento; por outro lado, seguramente representa um maior conforto, segurança e menor gasto energético nas viagens (tendo em vista que todos os Ascensores, a exceção do Elevador Lacerda que foi usado, funcionam por contrapeso: enquanto uma cabine sobe, outra desce, sempre cheias). 

Novamente, o desafiante em Ônibus deixa clara a necessidade de integração plena através debilhetagem eletrônica: se a população pudesse pagar apenas uma passagem para dois embarques, inclusive abrindo mão de pagar em dinheiro os R$00,15 (quinze centavos) do bilhete dos Ascensores, seu acesso ao Centro Histórico de Salvador seria mais fácil e frequente. 


Conclusões e Encaminhamentos

Ao contrário do que a Mídia e a Imprensa têm dito, o acesso aos Centros Histórico e Antigo da Cidade do Salvador é facilmente realizado, a partir das proximidades do Subúrbio Ferroviário, é facilmente realizado através de qualquer modal de transporte - o que faz cair por terra o mito propalado na área norte da expansão para fora do Centro Expandido de Salvador (Pituba e arrabaldes - foco da medição do Desafio Intermodal do último dia 2 de Setembro) de que "o Pelourinho está abandonado". O que sempre se viu foi um bairro muito frequentado, mas por uma população de classe média-baixa e mormente negra. Agora fica claro porquê: esta, habitante das "Costas da Cidade" (Liberdade, Barbalho, etc.) e da Cidade Baixa (Ribeira, Bonfim, etc.) além do Subúrbio, tem acesso cômodo e rápido ao Centro Histórico; enquanto a classe média alta, branca, reside na área de pior mobilidade da cidade (especialmente sentido Centro Antigo e Expandido, como mostrou o Desafio Intermodal do dia 2 de setembro). 

Cruzando estes dados com os do dia 2 de setembro, fica claro como o sistema de ônibus piora sensivelmente em dias úteis e fora do Centro Expandido. Contudo, mesmo dentro do Centro Antigo e do Centro Expandido, a universalização plena da bilhetagem eletrônica única (inclusive intermodal, acessando-se os Ascensores através do cartão de ônibus da SETPS) se faz urgente e peremptória. 

Também este cruzamento de dados nos leva a ver como a expansão da rede de Ascensores para fora do Centro Antigo, tal qual prevista no Plano Direto de Desenvolvimento Urbano da capital baiana, seria uma excelente forma de melhorar a mobilidade fora do Centro Expandido - emulando as soluções já existentes no Centro Antigo há mais de 150anos, integrando o deslocamento horizontal (taxi, ônibus ou bicicleta) com um vertical de alta capacidade e velocidade (elevadores & planos-inclinados). 

Por fim, o Desafio Intermodal corrobora o que o urbanismo contemporâneo vem dizendo a respeito do uso do carro individual privado: ele em si não é um ente ruim na cidade, desde que usado com parcimônia. Seu uso para deslocamentos coletivo, com amigos e família, em horários de lazer é perfeitamente aceitável e mais eficiente do que outros modais; em circunstâncias cotidianas, com horários de alta demanda, o automóvel individual se mostra deletério e ineficiente. 

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