TEERÃ (Reuters) - Países estrangeiros não devem interferir no sistema legal do Irã e devem parar de tentar converter o caso de uma mulher condenada à morte por apedrejamento por ter cometido adultério em problema de direitos humanos, disse Teerã na terça-feira.
O caso da mãe de dois filhos, de 43 anos, condenada à morte por ter feito sexo ilicitamente e acusada de envolvimento no assassinato de seu marido, provocou ultraje internacional. O Brasil ofereceu asilo a ela, e o Vaticano se manifestou contra o castigo "brutal".
Um porta-voz do governo disse que o furor é baseado em informações equivocadas sobre o caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani.
"Infelizmente, estão defendendo uma pessoa que está sendo julgada por homicídio e adultério, que são dois crimes graves desta mulher e não devem ser convertidos em questão de direitos humanos", disse em coletiva de imprensa o porta-voz do Ministério do Exterior, Rahmin Mehmanparast.
"Se a soltura de todos os que cometeram homicídios será visto como questão de direitos humanos, então todos os países europeus deveriam soltar todos os assassinos nesses países."
....O caso do apedrejamento vem dificultando as relações entre o Irã e o Ocidente, que acusa a República Islâmica de buscar fabricar armas nucleares, o que Teerã nega.
Na França, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, disse na terça-feira que está horrorizado diante da sentença.
"Isto é barbárie indizível. Condenamos tais atos, que não têm justificativa sob nenhum código moral ou religioso", disse ele ao Parlamento Europeu em Estrasburgo.
É difícil obter informações precisas sobre o caso, em um país em que muitos julgamentos acontecem a portas fechadas.
O grupo de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional disse que Ashtiani foi condenada em 2006 por ter tido "uma relação ilícita" com dois homens e recebeu 99 chibatadas. Subsequentemente, foi condenada por "adultério enquanto estava casada" e sentenciada à morte por apedrejamento, segundo a organização.
Mehmanparast disse que a condenação por adultério está sendo revista e que o veredicto pela acusação de homicídio e cumplicidade em homicídio está pendente. Relatos da mídia iraniana sugerem que a sentença de apedrejamento pode ser revogada, mas que Ashtiani pode ser enforcada.
O advogado de Ashtiani, Mohammad Mostafaei, fugiu para a Europa em julho para não ser preso e na segunda-feira apareceu em coletiva de imprensa ao lado do ministro francês do Exterior, Bernard Kouchner, que o descreveu como "herói dos direitos humanos".
(Reportagem adicional de Luke Baker em Bruxelas)
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