terça-feira, 7 de junho de 2011

DESMITIFICANDO, CALOR, LADEIRAS, CICLOVIAS E CICLOFAIXAS

DESMITIFICANDO, CALOR, LADEIRAS, CICLOVIAS E CICLOFAIXAS

 Valci  Barreto



Em qualquer grande centro das grandes cidades, há espaços que não se consegue passar nem mesmo na condição de pedestre. Há lugares tão íngreme, tão estreitos que até o pedestre prefere  circular por distancias maiores do que enfrentar este ou aquele espaço mais dificultoso.

Esta afirmação vale para pedestre, bicicleta, moto e carro.

Por outro lado, mesmo com todos os apertos e ausências de ciclovias, ciclofaixas, há condições de usar a bicicleta como meio de transporte. Quem pedala sabe buscar os caminhos e sempre os encontra. Em Salvador, por exemplo, há um mito de que não dá para usar bicicleta por falta de ciclovias, ciclofaixas, calor, ladeiras e a brutalidade dos nossos motoristas.

Obvio que, andar de bicicleta em uma cidade como Salvador não é o mesmo que pedalar em qualquer interior. Há obstáculos, sim.

Porém, o maior obstáculo, sem dúvida, é a brutalidade dos nossos motoristas que não respeita quem está em sua frente, seja carro, moto ou, notadamente, bicicleta.

O motorista de veiculo pequeno, respeita uma carreta , parada ou circulando na pista. Se em sua frente está um carro do exercito ou da policia, ele também respeita. Mas se em sua frente está um carro mais barato, uma moto ou uma bicicleta, a ação natural dele é buzinar para a pessoa sair da sua frente. E são buzinadas agressivas, assustadoras.

As outras justificativas, encontradas pelas pessoas de um modo geral para não usar bicicleta  ,só existem pelo hábito do excessivo uso do carro , do ônibus, que praticamente “cegou” as pessoas para as possibilidades do uso da bicicleta como meio de transporte.

Pois bem: o calor pode ser vencido se o ciclista levar em seu bagageiro ou cestinha uma toalha molhada e tomar um “banho de gato” no local de destino. Como não temos nem teremos banheiros públicos adequados em Salvador por algumas gerações, e se o governo fizer os vândalos os destruirão, o “ banho de gato”, que é o que se recebe em hospitais em algumas situações, resolve, perfeitamente, esta dificuldade. Não é mesmo que tomar um banho nas cachoeiras que são nossos banheiros de classe média, mas resolve.

Quanto às ladeiras, elas simplesmente não existem em Salvador para as bicicletas. Nossa cidade é plana para este veículo: você pedala de Lauro de Freitas e chega à Suburbana, passando por Itapuan, Iguatemi, Barra, Comercio, Bonfim, Ribeira, sem subir uma ladeira sequer tanto para ir como para voltar.

Estando no Comercio, no Mercado Modelo, por exemplo, e querendo ascender à cidade Alta, você pode subir empurrando a bicicleta pelo Tabuão, Contorno, Montanha ou Ladeira da Preguiça e  não gastará mais do que 8 a dez  minutos empurrando, bem devagar, a sua bicicleta.  Este é o tempo que muitas vezes se espera por um ônibus.

Nos finais de semana, chama-nos a atenção, ver pessoas esperando  até 40 minutos  por um ônibus para determinados destinos, que em menos de vinte se chegaria em bicicleta.

Uma pessoa que está no STIEP e quer ir para o Iguatemi, por exemplo, na maioria das vezes, se estiver em bicicleta chegará bem mais rápido do que de carro ou de ônibus.


Engana-se quem pensar que algum governo fará ciclovias e ciclofaixas para atender à demanda do trafego de bicicleta em Salvador.

Por conta da Copa do Mundo e Futebol, mirabolantes projetos relacionados à mobilidade urbana têm sido apresentados em todas as Midas; não faltam depoimentos das mais diversas autoridades a respeito do tema, e, pelo que se vê e ouve, ninguém deixa afastada a biciceta em suas proposições. De pratico, porém, mais certo que quase nada virá. Teremos ciclovias em vídeos, em projetos, em folders espalhados pela cidade, mas não chão, quase nada.

Alguma coisa virá, mas , sem qualquer dúvida, muito insignificante para o tamanho das nossas necessidades.

Por isto é que, o que melhor podemos fazer para poder pedalar em Salvador é usar o que já temos e a lei nos permite: usar os espaços dos veículos, ocupar as ruas com o direito que já temos em nosso favor; desenvolver campanhas educativas; mudar a cultura dos nossos motoristas; fazê-los entender que a bicicleta tem o mesmo direito do carro no que se refere a circular nas vias publicas.


Levar estas mensagens a empresários do meio de transporte , rádios, TV, discussões on line, marcarmos nossa presença em discussões onde o tema for a mobilidade urbana, enfim, ocupar os espaços, marcar nossa presença onde possível for; fazer tudo para nos respeitarem. Inclusive, visitar cada uma das escolas para motoristas que, em suas aulas, sequer fazem menção à parte do Código de Transito no que se refere às bicicletas. É como se elas não existisssem.

Ocupara as ruas, tentar mudar  a mentalidade das pessoas e amenizando a ira dos nossos motoristas no transito , os resultados serão, sem qualquer dúvida, bem mais benéfico para todos nós do que esperamos por ciclovias.

Desde meados da  década de 1980, que escrevemos a respeito deste  tema, que circulamos em bicicletas pelas ruas de Salvador;  que pregamos o “evangelho” em favor das bicicletas em nossa cidade, inclusive em benefício do nosso turismo. Estamos em 2011 e , sequer, conseguimos a liberação do Plano Inclinado Gonçalves para o acesso de bicicleta.

Como esperar, então, por ciclovias  e ciclofaixas?

Se por elas foessemos esperar, até hoje nossos passeios estariam limitados ao parque da centenário, que chamam de ciclovia, à  ciclovia da orla. Quase nada, ainda mais se consideramos  já fomos  a órgãos públicos, tratar do assunto , alem de , diuturnamente, divulgarmos nossas ações em nossos blogs acessados por milhares de pessoas do mundo inteiro.

Minha dica sempre foi: agradeceremos se vierem ciclovias, ciclofaixas, estacionamentos para bicicletas, mas continaremos pedalando por aí, mesmo sem elas, mesmo com toda a brutalidade, estupidez , até, dos nossos motoristas. Estes, sim, sem qualquer dúvida, o maior obstáculo ao uso da bicicleta como meio de transporte em Salvador.

Estou convencido de que, virão pontes, estradas, metrôs, ainda que micros, VLT, BRT, mas ciclovias, jamais: os homens que dominam o transporte urbano, que influem diretamente no comando dos órgãos públicos,  não querem bicicletas nos seus caminhos. Vamos buscar os nossos que já estão aí que nós, que já andamos de bicicletas, já descobrimos.

O Poder Público falhou na educação dos nossos motoristas. Vamos tentar fazer o que o Governo até hoje não conseguiu, distribuindo panfleto, conversando, convencendo, sensibilizando, levando as lições para todos, inclusive a muitos dos ciclistas que insistem em fazer das ruas e ciclovias pistas de corridas;de acrobacias; pedalar na contra mão; subir em passeios ; e  não observar os espaços dos pedestres , demonstrando assim que a falta de educação não é só dos motoristas sendo estas apenas bem mais perigosos.

Falta de Educação ; de  respeito; preconceitos quanto ao uso da bicicleta e a brutalidade dos nossos motoristas são os grandes obstáculos para não se pedalar em Salvador, jamais ausência de ciclovias ou de ciclofaixas. Comemoramos todas que vierem. Porém, mesmo sem elas, já estamos comemorando mais de trinta anos pedalando pelas nossas ruas , em todos os cantos da nossa cidade, que ingrata com nossas magrelas, sequer permite o seu  acesso pelo Elevador Lacerda ou Plano Inclinado. Se não faz o tão simples, de custo quase zero, como esperar que façam ciclovias e ciclofaixas?

Ainda bem que já pedalamos sem elas.





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