DESMITIFICANDO, SONHANDO E PEDALANDO, MESMO SEM CICLOVIAS.
Valci Barreto
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Em qualquer centro das grandes cidades, há espaços que não se consegue circular, nem mesmo na condição de pedestre. Há lugares tão íngremes, tão estreitos que até o pedestre prefere circular por distancias maiores do que enfrentar este ou aquele espaço.
Esta afirmação vale para pedestre, bicicleta, moto e carro.
Por outro lado, mesmo com todos os apertos e ausências de ciclovias, ciclofaixas, há condições de usar a bicicleta como meio de transporte em qualquer lugar do planeta. Quem pedala sabe buscar os caminhos e sempre os encontra. Em Salvador, por exemplo, há um mito de que não dá para usar bicicleta por falta de ciclovias, ciclofaixas, calor, ladeiras e a brutalidade dos nossos motoristas.
Destes obstáculos apresentados, porém, o único que dificulta, limita, assusta é a falta de respeito dos motoristas em relação às bicicletas. A agressão é em cadeia em nossa circulação urbana de um modo geral:
O pedestre não quer respeitar filas, preferências, em filas de elevadores e bancos, por exemplo. Em relação ao pedestre, basta afirmar que, de um modo geral, as pessoas somente se submetem a filas se houve algum fiscal , soldado ou segurança dando algum tipo de ordem ou apoio. Riscos de faixas em bancos e órgãos públicos, indicativos de filas, simplesmente são ignorados se não houver uma grade, uma corda ou um segurança.
Se a pessoa está em bicicleta, mesmo em ciclovias em que atravessam pedestres, o ciclista , na maioria das vezes que fazer dela, ciclovia, pista de corrido, pondo as pessoas em perigo, inclusive outros ciclistas.
Os motociclistas vêm sendo um caso à parte em nossa cidade, tamanha a falta de respeito às mínimas regras de educação e de respeito.
O motorista de veículo pequeno, respeita uma carreta , um carro da polícia , ou de alguém que ele , motorista, imagine poderoso. Mas, se em sua frente está um carro mais barato, uma moto ou uma bicicleta, a ação natural dele é buzinar, gritar, xingar, acionar buzinas e motores para a pessoa sair da sua frente. Estes são os motivos que inibem as pessoas a usar a bicicleta como meio de transporte.
Em relação às ladeiras, elas simplesmente não existem em Salvador para as bicicletas. Basta observar que, você pode pedalar de Praias do Flamengo, até a Suburbana, passando pelo Comércio , Bonfim, Ribeira, sem subir uma ladeira sequer
O calor e ladeiras só existem pelo excessivo hábito do uso do carro, que apagou da mente das pessoas as possibilidades oferecidas pelas bicicletas para o trajeto em pequenas distancias.
Pois bem: o calor pode ser vencido se o ciclista levar em seu bagageiro ou cestinha uma toalha molhada e tomar um “banho de gato” no local do destino. Como não temos nem teremos banheiros públicos adequados em Salvador por algumas gerações o “ banho de gato”, que é o que se recebe em hospitais em algumas situações, resolve, perfeitamente, esta dificuldade na maioria das situações. Tomar um “banho de gato” , não oferece o mesmo conforto dos banheiros da nossa classe média, verdadeiras cachoeiras usadas sem o mínimo de cuidado com o desperdício.(To Pagando.!!!), mas permite a limpeza após uma pedalada.
São assim, no caso de Salvador, mais fácil andar de bicicleta do que se pode imaginar.
Estando no Comercio, no Mercado Modelo, por exemplo, e querendo ascender à cidade Alta, você pode subir empurrando a bicicleta pelo Taboão, Contorno, Montanha ou Ladeira da Preguiça e não gastará mais do que 8 a 10 minutos empurrando, bem devagar, a sua bicicleta. Este é o tempo que muitas vezes se espera por um ônibus.
Nos finais de semana, chama-nos a atenção ver pessoas esperando até 40 minutos por um ônibus para determinados destinos, que em menos de vinte chegaria em bicicleta.
Uma pessoa que está no STIEP e for para o Iguatemi, por exemplo, se estiver em bicicleta chegará bem mais rápido do que de carro ou de ônibus, na maioria das situações.
Engana-se quem pensar que algum governo fará ciclovias e ciclofaixas para atender à demanda do trafego de bicicleta em Salvador. VLT , BRT, METRÔS jamais alcançarão todos os espaços, para atender a todas as necessidades. A solução para as pequenas distancias, entre oito a dez quilômetros , na maioria dos casos dos grandes centros, sempre será a bicicleta.
Por conta da Copa do Mundo e Futebol, mirabolantes projetos relacionados à mobilidade urbana têm sido apresentados em todas as mídias; não faltam depoimentos das mais diversas autoridades a respeito do tema. E, pelo que se vê e ouve, ninguém deixa afastada a biciceta em suas proposições. De prático, porém, o mais certo é que quase nada virá. Teremos ciclovias em vídeos, em projetos, em folders espalhados pela cidade, em “audiências públicas”, em palestras de órgãos , técnicos e políticos; mas no chão, quase nada porque pois interesses econômicos relacionados à industria do carro, da tinta, do ferro, do cimento, do transporte coletivo não permitirão.
O ”quase”, é porque alguma coisa virá; mas , sem qualquer dúvida, muito insignificante para o tamanho das nossas necessidades.
Por isto é que, o que melhor podemos fazer para poder pedalar em Salvador é usar o que já temos e a lei nos permite: usar os espaços dos veículos, ocupar as ruas com o direito que já temos em nosso favor; desenvolver campanhas educativas; mudar a cultura dos nossos motoristas; fazê-los entender que a bicicleta tem o mesmo direito do carro no que se refere à circulação nas vias públicas.
Temos que levar estas mensagens a empresários do meio de transporte , rádios, TV, discussões on line, marcarmos nossa presença, quando possível, nas decisões relacionadas à mobilidade urbana, fazer de tudo para que o ser humano seja respeitado, esteja ele de carro, moto, bicicleta ou a pé.
Vamos visitar empresas de ônibus, táxis, empresas de transportes, levando estas mensagens a todos.
Ocupar as ruas, e tentar amenizar a ira dos nossos motoristas no transito , trarão bem mais resultados do as próprias ciclovias e ciclofaixas. Que elas venham que comemoramos. Mas vamos continuar pedalando enquanto não passam de projetos , discursos e folders.
Desde meados da década de 1980 que escrevemos a respeito deste tema, que circulamos em bicicletas pelas ruas de Salvador; que pregamos o “evangelho” em favor das bicicletas em nossa cidade, inclusive em benefício do nosso turismo. Estamos em 2011 e , sequer, conseguimos a liberação do Plano Inclinado Gonçalves para o acesso de bicicleta.
Como esperar, então, por ciclovias e ciclofaixas?
Se por elas fossemos aguardar para pedalarmos, até hoje estaríamos limitados ao parque da centenário, que chamam de ciclovia, e à ciclovia da orla. Ou seja, sem qualquer significação em relação ao tamanho das nossas necessidades. Já fomos a órgãos públicos, tratar do assunto , alem de , diuturnamente, divulgarmos nossas ações em nossos blogs acessados por milhares de pessoas do mundo inteiro.
Minha dica sempre foi: agradeceremos se vierem ciclovias, ciclofaixas, estacionamentos para bicicletas, mas sem parar de pedalar, de ocupar as ruas, de desenvolver ações independente de cumprimento das promessas. Vamos pedalando por aí, mesmo tendo que enfrentar a estupidez , a brutalidade dos nossos motoristas.
Os motoristas são, sem qualquer dúvida, o maior e mais perigoso obstáculo para todos nós em relação ao uso das bicicletas como meio de transporte.
Estou convencido de que virão pontes, estradas, metrôs, ainda que micros; VLT, BRT, mas ciclovias, jamais: os homens que dominam o transporte urbano, que influem diretamente no comando dos órgãos públicos, não querem bicicletas nos seus caminhos, exceto no momento em que decidirem: “vou cobrar taxa pelo uso da bicicleta”. (Não duvidem de algum dia amanhecermos com um projeto deste por aí...)
O Poder Público falhou na educação dos nossos motoristas. Vamos tentar reverter através de nossos amigos, parentes, escolas, empresas, mensagens escritas, panfletando por aí; conversando, convencendo, sensibilizando, levando as lições para todos, inclusive a muitos dos ciclistas que insistem em fazer das ruas e ciclovias pistas de corridas;de acrobacias; além de subir em passeios , desrespeitando o pedestre, reveladores de que a falta de educação de muita gente não se apresenta apenas quando está ao volante.
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