sexta-feira, 9 de setembro de 2011

NOSSA LUTA PELO SISTEMA CICLOVIÁRIO DE SALVADOR


Everaldo Augusto - Até que enfim a cidade de Salvador dá sinal de que se inseriu no rol das metrópoles que veem a bicicleta como alternativa para o transporte de pessoas e como parte da solução do problema de mobilidade das grandes cidades. A Câmara Municipal de Vereadores aprovou o projeto de criação do sistema cicloviário no município. Com isso, a decisão introduz o tema sustentabilidade no debate sobre propostas do sistema de mobilidade na capital baiana.
O Sistema Cicloviário é a primeira medida concreta do poder público da capital para incentivar o uso de bicicleta. Ele será formado por uma rede viária de transporte por bicicleta, composto de ciclovias, ciclofaixas, faixas compartilhadas e rotas operacionais de ciclismo, com, inclusive, bicicletários. O executivo terá que projetar o uso e guarda da bicicleta na construção de praças, viadutos e túneis. Qualquer novo equipamento ou meio de transporte público também deverá ter acesso para as bikes.
Porém, duas questões ameaçam o projeto: a educação da população, sobretudo a conscientização de motoristas (contemplada no projeto com ações educativas para a boa convivência entre veículos e bicicletas); e a mudança da visão do gestor e do poder público municipal, que até agora investiu mais em ações de interesses de pequenos grupos do que nas de interesse geral da população. A prova está no estado de abandono dos equipamentos públicos e pontos turísticos de Salvador. A prefeitura, de fato, precisa fazer mais do que propaganda. Precisa executar o que está escrito na lei e que cria o Sistema Cicloviário.
O projeto aprovado pela Câmara este ano foi apresentado em 3 de outubro de 2007, sob número 291/2007. Na época, eu ocupava a cadeira de vereador pelo PCdoB, cujo mandato sempre esteve vinculado ao debate do espaço urbano sustentável. Nossa preocupação era traduzir as discussões sobre alternativas para o uso da bicicleta como meio de transporte, lazer e esporte, em ações concretas que cobrassem do poder público municipal a responsabilidade que lhe cabe sobre a questão. Naquele ano, a sanha de grupos econômicos para aprovar o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) não deu margem para a discussão de projetos desta natureza.
Hoje a cidade se prepara para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O governo estadual tem um projeto, o Cidade Bicicleta, para dotar a capital de 140 quilômetros de ciclovias. Com a mudança de contexto e a aprovação do projeto do Sistema Cicloviário – uma construção coletiva, cuja iniciativa de apresentá-lo à Câmara muito me orgulha – é um marco na história da cidade. Nem eu nem os ciclistas que me ajudaram a fazê-lo reivindicam a autoria. Porém, por uma questão de ética e transparência, é preciso dizer que o projeto aprovado é o mesmo apresentado em 2007, sem tirar uma vírgula!
A trajetória do vereador reapresentador do projeto não está em questão. Mas foi um deslize não comunicar o desarquivamento do projeto, ainda que, por razões regimentais, não teria obrigação de fazê-lo. Caso reconhecesse a autoria (de origem) do projeto, em nada lhe ofuscaria o brilho de ser autor daaprovação. Mas como não o fez, deixa margem para questionamentos que caminhariam para o terreno da acusação, que não é nosso caso.
De uma forma ou de outra, o vereador Gilmar Santiago, figura histórica da esquerda no Estado e contemporâneo de luta sindical, mesmo “montando em bicicleta dos outros”, prestou um grande serviço à cidade. Estamos, todos, de parabéns!
*Sindicalista e gestor público, ex-vereador em Salvador.
EVERALDO AUGUSTO

Postado por Bugarin

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