terça-feira, 22 de julho de 2008

BIKEBOOK.BLOGSPOT.COM

LIVROS, BICICLETAS, DOAÇÕES.

Valci Barreto,advogado
editor do bikebook.blosgspot.
colaborador do muraldebugarin.com
Folha do Recôncavo.
INFORMATIVO A4.




Muitas pessoas, comovidas e estimuladas por apelos de programas de tv; sermões religiosos; destinam a entidades filantrópicas; igrejas; organismos internacionais, generosas , expressivas doações em pecunia ou em em objetos. As cenas das carências do povo, de qualquer lugar do mundo, apresentadas naqueles programas, sempre acompanhados de artistas famosos, sensibilizam a todos. Mesmo aqueles comovidos doadores, fora destas ocasiões, na maioria das vezes, nem se lembram de que ao seu lado estão pessoas que também precisam de ajuda ; muitas delas ,até mais do que as mostradas na TV .Há pessoas que somente conseguem se desprender de algo quando envolvidas por apelos televisivos ou sermões de entidades religiosas filantrópicas , algumas delas ricas, poderosas.
Há, porém, outras formas simples de se fazer doações, mesmo fora dos apelos televisivos , em valores pequenos, através de ações simples,ao alcance de qualquer um e que, no entanto, produzem efeitos maravilhosos.Há pessoas que não possuem carências econômicas maiores, têm o que comer e onde morar; no entanto, precisam de ajuda, de consolo, atenção ou mesmo algum apoio material. Como exemplo, pode alguém estar doente , em casa ou em hospital, necessitando apenas de algum carinho, visita, uma companhia de alguém.No interior, há pessoas que se alimentam, vivem relativamente bem, têm onde morar e o que comer. No entanto, gostando de ler, têm dificuldades de acessos a livros e revistas, por exemplo. Estas pessoas, para obter um livro ou revista usada, muitas vezes têm que se deslocar por vários quilômetros. Isto também acontece nas periferias das grandes cidades. Estas pessoas necessitam também de ajuda . E podem ser ajudadas por meios simples, baratos , descomplicados, sem necessidade dos apelos televisivos.A leitura poderá fazer a vida de muita gente mudar para melhor, independentemente de torná-la rica economicamente; e qualquer pessoa, mesmo sem maiores recursos econômicos, pode ajudar.Uma forma simples, barata, é descobrir alguém, notadamente criança, adolescente ,que gosta de ler e dar-lhe livros e revistas usadas.Se a pessoa mora perto de sua casa, bairro, trabalho, leve pessoalmente. Deixe na porta, na janela, independentemente de ela saber de onde está vindo. Se souber, também não é problema.Se a pessoa a quem você quer doar mora longe da sua casa, anote o endereço, com CEP. Os livros e revistas usadas que você iria jogar fora, sujar as ruas, poluir ,podem ser encaminhadas pelo Correio. Para a remessa ,não precisa ser por Sedex, nem em caixas ou pacotes caros. Pode ser um simples embrulho , até mesmo de papel de jornal, envolvido em papel liso. (com palavras impressas o correio às vezes recusa).Mande sem registro, pois é registrado é muito mais caro. Se o pacote for desviado, o que é muito raro, não tem problema; outra pessoa vai ler. Pode ser para uma entidade, escola, prefeitura, associação de moradores, igreja de qualquer credo. Ou para uma criança qualquer que você apenas anotou o endereço.No ponto de vendas de livros usados do senhor Alfredo, na Sete Portas, parte baixa da Ladeira do Funil, ou no Sebo do Daniel, Rua da Ajuda, número 3, Centro de Salvador, um livro ou revista usada pode ser adquirida por valores de um a cinco reais. A pelo correio custa entre três a cinco reais, a depender do peso. A remessa de uma revistinha infantil custa menos ainda. Faço isto com freqüência. Meu desejo não é ser “bonzinho”, pagar pecado, angariar simpatia,comprar algum pedacinho do céu.Trata-se de uma diversão barata, questão prática , pensada em favor do bem, sem sacrifício, sem incomodo, sem mudar meu rumo do dia a dia e sem precisar dos apelos televisivos para fazer o bem, do jeito e valor que posso fazer. São muitas as coisas que as pessoas jogam no lixo, inclusive livros, revistas, brinquedos, roupas, comida, até, quando melhor estará fazendo, para si e para os outros, doando. Com certa freqüência, "bicicletando" pelas ruas de Salvador, passo em frente NACCI, (criança com câncer),no bairro de Nazaré e deixo lá algumas revistinhas infantis. As crianças adoram.

Já estou passeando por ali, estou pedalando, divertindo-me; tenho livros e revistas que já não cabem em minhas prateleiras, porque não levá-los para elas? Deixo também na biblioteca do Calabar, entrada pela Av. Centenário. Tudo isto sem mudar meu rumo e sem me acrescentar qualquer despesa ou sacrifícios. Outro dia, na fila do Elevador Lacerda, um rapaz não tirava os olhos de uma revista que eu lia. Perguntei-lhe se gostava de ler. "Leio tudo. E meus irmãos também"´. -Leve esta para você, disse-lhe; ao que reagiu como se estivesse recebendo um grande prêmio. Agradeceu festivamente, no meio de todo mundo, como poucas vezes vi alguém assim proceder ao receber uma coisa tão simples e barata. Era uma revista semanal, usada.E acrescentou: "meus irmãos vão adorar!". Não sei quem é ele. Também não sabe quem eu sou. Nem faz isto qualquer diferença.Pois é, no centro de Salvador, onde há revista por todos os cantos, um rapaz tinha carência de um item tão simples, barato, comum. Foi mais uma lição para mim, que estou transmitindo, por achar interessante, útil, alegre, divertida, barata.Conheço duas pessoas que tiveram suas vidas modificadas por gesto simples, despretencioso de alguém. Um deles, ele próprio me contou a história, real, verdadeira:Quando criança, estava sentado em frente à sua casa quando passou um rapazinho com uma garrafa contendo um peixe vivo que pescara na praia . Este rapaz lhe aquele peixe de presente despertando-lhe o prazer pela criação de peixes em aquário. Até hoje ele vive da criação de peixes ornamentais , mantendo um grande interesse por cruzamentos e reprodução das mais variadas espécies . O outro, não o conheço pessoalmente. Porém, primeiro vi seu depoimento na TV: “tudo começou, com um simples óculos de mergulho que recebi de um amigo.”Trata-se do navegador brasileiro, baiano, com ascendência russa, ALEIXO BELOV, cujas aventuras pelo mar, acompanhava eu , através das reportagens dos jornais da época. De um simples óculos de mergulho que recebeu de um amigo, resultou na grande aventura que o transformou no primeiro navegador brasileiro a fazer a volta ao mundo em solitário.Sua historia é contada em livro de sua autoria, “ A Volta ao Mundo em Solitário,” impresso pela BIGRAF, em colaboração com a FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA, editado em 1981.Morava eu em Barreiras, interior da Bahia, quando o livro foi lançado. Devia a mim mesmo a sua leitura. Encontrei-o no Sebo do Daniel, esta semana. Vibrando com o achado, vi em suas páginas, o que já conhecia dos depoimentos do autor nos programas televisivos:-"lembro-me muito bem. Jadiel Oliveira, um amigo nosso, resolveu estudar no Itamarati. Assim sendo, mudou-se naquele tempo para o Rio de Janeiro e, entre as coisas que resolveu não levar e distribuir com amigos, me coube um óculos de mergulho. Isto foi em 1957, creio que fora a primeira vez que tive a oportunidade de ver uma máscara de mergulho. ........jamais imaginei aonde estes óculos um dia iriam me levar. ""Afirmou Belov, no programa de TV, que está construindo um navio escola para que crianças possam descobrir os segredos do mar, dizendo ele querer devolver a elas o que de graça também recebeu.Pelo que li, embora não declarado pelo autor, não foram apenas os óculos que o levou tão longe. Creio que muitas leituras, antes e durante a viagem , prestaram-lhe grande ajuda.Alguém pode perguntar: e você, o que tem a ver com isto?Como diria Caetano e Gil, juntos:" tudo... ou nada...."Em vez de óculos de mergulho, e garrafa com peixes, tive eu, de graça, de meu pai e dos meus avós de consideração, moradores da pequena localidade do Alambique, em Jaguaquara, as revistas O Cruzeiro e os “Almanaque”, que me levaram e ainda me lavam, a grandes viagens sem sair de casa e sem os riscos das tormentas enfrentadas por Belov e Amyr Klink. Doar livros e revistas é infinitamente mais barato do que muitos outros gestos filantrópicos. Alguns doam barcos , tijolos, comida, óculos de mergulho. Qualquer um pode doar livros, revistas e brinquedos usados . Caetano Veloso costuma dizer que queria mesmo era fazer cinema. Foi para a música porque era mais barato.Talvez por isto, e por falta de talento para outras coisas, escolhi livros ,revistas, bicicletas usadas e baratas para fazer a minha festa , normalmente ao lado de amigos. Tive muitos sonhos , andar pelo mundo de bicicleta de navios, ou mesmo de canoa, avião, jogar na seleção brasileira; fazer cinema; escrever livros, ser banqueiro, ser dono de estação de rádio, professor da Sorbone, cantar com os Beatles, namorar Brigitte Bardot e suas “concorrentes” da minha adolescência.
Despertando em mim os livros e as bicicletas aprendizados e sensações gostosas, sempre que posso quero partilhá-las com outras pessoas. Tenho lido, andado de bicicleta e estimulado as duas práticas, e distribuido livros e revistas usadas por aí, apenas como diversão gostosa e barata. Não sei se ter cantado com os Beatles teria me dado sensação melhor. Nem estou preocupado. Não há como medi-las. Posso pedalar e ler. Isto me faz muito bem. Posso e quero compartilhar estas emoções com pessoas que tenham o mesmo desejo, e tentar despertar em outras iguais alegrias, ao alcance de qualquer um , por menos economia que possua.
Terezinha Costa é uma pessoa muito querida minha. Minha primeira infância foi entre o Alambique, onde ela ainda mora, e a localidade de Água Doce , em Jaguaqura, no ainda lindo e verde Vale do Jequiriçá. Por ela gostar de ler, frequentemente mando-lhe um livro, uma revista, através do Correio. Está ela avisada de que, se algum não for do seu gosto, ou não tiver onde guardar, está autorizada a entregar em qualquer ônibus escolar que passar em frente da sua casa, ou a qualquer criança que demonstrar interesse por livro.A festa de crianças por revistinhas infantis acontece em qualquer lugar do planeta.
Aí está o endereço de Terezinha Costa, para quem quiser mandar livro ou revista, que vão terminar, depois das suas leituras, nas mãos das crianças ou de qualquer outro leitor:

TEREZINHA COSTA, Av. Otavio Mangabeira, 98, CEP 45.345.000 , JAGUAQUARA-BAHIA.

No São João de 2008 ,hospedei-me no Hotel Vaz, em Jaguaquara, onde descobri um funcionário daquele hotel que me revelou o gosto por livros Disse-me que sonha em ter uma biblioteca. Trata-se de Moisés Miranda, para quem podem os interessados mandar livros também. Promete lê-los, guardar e também repassar para as crianças do bairro pobre da Casca ou para a biblioteca do Município.
MOISÉS MIRANDA,Hotel Vaz, Av. Dom Pedro II, Muritiba,CEP 45.345.000-Jaguaquara Bahia.
Há milhares de locais no mundo, até mais difíceis, onde podem chegar suas doações de brinquedos, livros e revistas usadas, sem ter que desviar seu rumo para casa , escola, trabalho, lazer. E pode começar logo. Não precisa esperar os pedidos e apelos da TV, dos sermões de entidades filantrópicas ou religiosas. Fazendo assim, podemos até não estarmos formando escritores, artistas, construtores, cientistas, solucionadores dos problemas do mundo. Mas estamos, com certeza, levando boas e saudáveis emoções para muita gente.

Amyr Klink afirma que não foram barcos os primeiros a lhe despertar o desejo de navegar. Diz sempre que foram os livros, histórias dos grandes navegadores , lidas na sua infancia, que lhe inspiraram os sonhos que veio a realizar. Mineiro, sem mar ,foi Amyr com seus livros em busca do mar em Paraty resultando no que todos já sabem: a conquista dos mares do mundo. Para Belov, bastaram os óculos; o mar estava aos seus pés, na Ladeira do Paiva, em Salvador. Ambos contando belas histórias, começadas com coisas e gestos tão simples, ao alcance de qualquer um : livros, leitura, óculos de mergulho. Muitas coisas usadas que você não quer mais, podem mudar vidas. O livro é uma delas. Não os jogue no lixo: venda, troque, faça doações a bibliotecas comunitárias; igrejas, de qualquer credo, ou simplesmente entregue a alguém na rua, como fez o rapaz com o peixinho trazido da práia; e o Jadiel ,que transformou a vida do Aleixo.Espalhem esta idéia, esta prática. Vai ajudar a muita gente; se não a ganhar dinheiro, descobrir remédios para os males da humanidade, pelo menos a provocar-lhes gostosas emoções contidas nos mistérios e nas deliciosas artimanhas da leitura.
Não costumo fazer doação a qualquer entidade ou pessoa. Escolho muito. Esmolas, só em casos muito especiais.

Porém, livros usados, como tenho sempre, faço doações , normalmente me divertindo, pedalando por aí.

E mais faria, pelos becos e ruas de Salvador, até altas horas da noite, ou pelas madrugadas, não fosse a cruel realidade da violencia em cada esquina.

Para os interessados, algumas pessoas e locais que recebem doações:


Igreja da Vitória, Largo da Vitória .
Igreja Nossa Senhora da Luz, na Pituba,
Sebo do Daniel, Rua da Ajuda, número 3
Senhor Alfredo, parte baixa da Ladeira do Funil, Sete Portas.
Convento da Lapa,
Alemão, banquinha de livro ao lado do Prédio da Justiça do Trabalho.

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