domingo, 3 de agosto de 2008

Defesa de TCC na UFBA sobre o "Gerundismo" dia 11 de Agosto‏

Desenvolveu-se, no Brasil, uma tendência de emprego morfemático, deveras curioso, em várias Centrais de Relacionamento com o cliente, identificado como "gerundismo", isto é, da estrutura com um verbo ir em forma finita do presente do indicativo, + o verbo estar no infinitivo + o gerúndio de outro verbo, considerada impertinente, até mesmo, indesejável, por parte dos falantes das chamadas normas cultas e, sobretudo, pelos gramáticos normativistas.

Hoje, o "telemarketing" é considerado motivo de descrédito. Esse "gerundismo" irradiou-se através de um jargão telemarketeiro e passou a ser conhecido como a "Síndrome do Vamos Estar Transferindo a sua Ligação".

Mas o que se observa a "ouvido nu" e que os gramáticos e pseudogramáticos insistem em contestar é que "gerundismo" não está presente somente nos Contact Centers .

O "gerundismo" é um fenômeno de inovação e variação lingüística e, como tal, vale ressaltar que a língua não regride, não se aperfeiçoa: simplesmente muda. E quem diz se essa ou outra variação permanecerá, ou vai permanecer ou vai estar permanecendo na língua são os falantes e não os gramáticos ou até mesmo os governantes, como o caso do "excelentíssimo" José Roberto Arruda, governador do Distrito Federal. A mais "nobre autoridade" lingüística do momento vem do Planalto Central. Arruda teve a infelicidade sancionar um decreto fantasioso, [1] fazendo um "samba do gerúndio doido", completamente sem respaldo científico, não sabendo sequer a diferença entre o gerúndio e o "gerundismo". O político "demitiu o gerúndio" e não o "gerundismo", ainda que tenha se inspirado neste para sancionar o decreto.

Convido os amigos, colegas, professores e a imprensa para assistir a minha defesa de Trabalho de Conclusão de Curso - TCC - sobre o "Gerundismo", fenômeno tão polêmico que, vira e mexe, sai nos noticiários sempre de forma jocosa, preconceituosa. No entanto, caberia um olhar mais científico sobre ele, quando, o que se notam, são análises impressionísticas e infundadas acerca de seu espraiamento na Língua Portuguesa do Brasil.

O que: Defesa de TCC sobre o "Gerundismo"
Quando: dia 11 de Agosto de 2008
Horário: 08:30min
Local: Labimagem (andar Térreo do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia)
Endereço: Rua Barão de Geremoabo, s/nº, Campus de Ondina. Salvador-BA
Tema: DO GERÚNDIO AO GERUNDISMO: MUDANÇA E PRECONCEITO LINGÜÍSTICO
Aluno: Rafael Luz Serafim

(SB)

2 comentários:

Patrícia disse...

Olá!
Ouvi falar desse seu trabalho no congresso da ALFAL em Montevidéo, no mês passado, pela professora Sônia Bastos Borba Costa... ela ficou de me enviar o seu contato mas acho que acabou esquecendo!
Eu faço dout em Linguística na UFSC e estou escrevendo um artigo sobre a modalidade do gerundismo...
se vc puder me enviar o seu trabalho, agradeceria muito.
Obrigada
Patrícia
patrigraciro@gmail.com

Anônimo disse...

] Chega a ser ridícula essa idéia que plantaram na cabeça dos brasileiros, de que o uso do progressivo é feio e está errado. Para isso tiraram do sarcófago a palavra GERÚNDIO que ninguém mais ouvia falar e inventaram mais uma, GERUNDISMO. Culpam o inglês, falando que os brasileiros traduziram de forma literal a frase «I'm going to study», «eu vou estar estudando». Essa frase nem significa isso. Ela significa, sim: «Eu estou indo estudar.» Imagine como ficaria feio, sim, essa frase no português arcaico: «eu estou a ir estudar», só para não usar o presente progressivo (indo). «Eu estou indo estudar» — como falamos normalmente.

Outro dia, vi na TV cultura o professor Pascuale afirmar que deveríamos parar de usar o "gerúndio", «essa praga horrorosa» concluía ele. Eu sou fã do prof. Pascuale. Mas isso me tirou o sono.

Aqui no Brasil usamos, sim, graças a Deus!, os tempos do progressivo, também chamado contínuo, em todos os tempos: progressivo presente, passado e futuro, com o auxílio das locuções verbais. Isso não sou eu quem está inventando. Isso tem o respaldo da nossa honrosa ABL (Academia Brasileira de Letras). Sendo assim, posso afirmar que o "GERÚNDIO PODE!".

Eu não vejo como não usar naturalmente como no exemplo seguinte:

Presente progressivo: «Agora as pessoas já estão almoçando.»

Passado progressivo: «Quando chegámos, as pessoas já estavam almoçando.»

Futuro progressivo: «Quando chegarmos lá, as pessoas já vão estar almoçando.»

"Esquisito" vai ficar se eu trocar «almoçando» por: «a almoçar».

Eu quero contestar a afirmação feita de que o uso da expressão «Vou estar, mais o progressivo, está errado». Aqui no Brasil, NÃO ESTÁ ERRADO, NÃO.

Vou estar: Locução verbal em substituição de estarei.

fazendo: progressivo em substituição de «a fazer».

Aqui no Brasil usamos locuções verbais. Por ex.: «Quando o goleiro pulou, a bola já "tinha entrado".»

Em Portugal a mesma frase ficaria: «Quando o goleiro pulou, a bola já "entrara".»

Não usar o progressivo é aleijar a nossa língua. A língua portuguesa do Brasil.

Outro dia ouvi o prefeito [de São Paulo] falando naturalmente, e de forma certa para o nosso português do Brasil: «Temos feito muito por São Paulo, estamos fazendo, mas temos muito a fazer.»

Notamos que o progressivo (gerúndio) é enfático. É naquele momento, mostrando que a prefeitura está trabalhando o tempo todo e não "a trabalhar". O infinitivo aqui no Brasil soa, na maioria das vezes, como para o futuro.

Vejamos a frase: «Temos muito a fazer» («a fazer» é futuro).

Em Brasília, nos órgãos públicos, está proibido o uso da expressão «vou estar» + progressivo. Pura demagogia! O erro é a pessoa falar: «amanhã, no horário comercial, vou estar enviando a sua mercadoria», e a mercadoria não chegar.

O erro, o feio é a mercadoria não chegar; e não a língua falada. Imagine se eu recebesse uma ligação de um supermercado, onde havia um lindo carro zero sendo sorteado, e a operadora do telemarketing falasse: «Você ganhou o carro do sorteio. Hoje à tarde "vou estar enviando" o carro até sua residência.» Estou certo de que essas seriam as palavras mais doces e lindas, e que jamais as esqueceria.

É comum, no Brasil, o uso da expressão «vou estar...».

Exemplo: «O que você vai estar fazendo amanhã à tarde?» E a outra pessoa responde: «Vou estar em um avião, voando para Fortaleza.» A moça não aguenta mais o cara que pega no pé dela e fala: «Não aguento mais esse cara. Ele fica me ligando o tempo todo.» O tempo contínuo usado pela moça é enfático, expressa sua insatisfação. Não significa que ela receba ligações segundo após segundo. Mas a mensagem que ela quer passar é como se fosse. E é essa a mensagem que o gerúndio muitas vezes quer passar. Quando as pessoas dizem «nós vamos ficar orando por você», não significa necessariamente que alguém vá dobrar os joelhos no chão e ficar ali grudado para sempre. Um exemplo é o que o próprio Jesus disse: «Orai sem cessar.» É óbvio que Ele quis dizer que Deus está sempre atento, e que as pessoas podem orar sempre que quiserem. Se for levado ao pé da letra, o cristão teria de se ajoelhar e ficar grudado até à morte, porque aí, sim, teria orado sem cessar. Professores que estão na mídia afirmam que o gerúndio só pode ser usado para um ato contínuo no sentido literal. Por exemplo: «Eu estou estudando» só poderia ser usado para o momento em que a pessoa estivesse parada, estudando.

Então posso afirmar que eles teriam de assassinar o substantivo estudante, pois «estudante é aquele que estuda». Então a frase «Estou "estudando" medicina na USP» estaria errada. Porque ninguém fica parado só estudando. O estudante estuda nos horários de aula e quando tem trabalhos acadêmicos a fazer. E isso não é o tempo todo. Nos finais de semana ele sai para se divertir. Mas pelos cinco ou seis anos ele está ESTUDANDO medicina. O filho se despede para fazer uma prova de um vestibular muito importante, e a família fala: «vamos ficar torcendo e orando por você». Há uma pessoa doente, e os que vão visitá-lo na despedida dizem: «Força! Vamos ficar orando por você!» TUDO GRAMATICALMENTE CORRETO (e bonito).

Portugal é um país de apenas dez milhões de habitantes e um PIB dez vezes menor que o do Brasil, onde o povo está interessado é em aprender o inglês, "língua franca", que os ajuda na comunicação com os turistas. Hoje, o ensino público em Portugal oferece de graça e com qualidade a língua inglesa nas escolas com o intuito de fomentar o turismo. A maioria do povo já fala o inglês como segunda língua. Nisso eles estão bem à nossa frente.

É preciso que o Brasil corte as amarras do complexo de inferioridade em relação a Portugal.

Parece que o Brasil cresceu, mas não consegue se livrar das amarras da submissão a Portugal. Parece que está condicionado como um elefantinho que tem uma correntinha amarrada à perna e se acostuma próximo ao tronco e mesmo quando fica um gigante pensa não ser capaz de quebrar uma correntinha podre e fraquinha em seu pé.

Os portugueses se sentem até incomodados com essa insistência do Brasil em supervalorizar e unificar a língua portuguesa. Outro dia o embaixador português falou que a diversidade era a maior riqueza da língua. Disse ele: «cá em Portugal usamos assim, lá no Brasil eles usam diferente. Isso, sim, é interessante!» Concordo com ele, pois nada forçado é saudável.

Concluo afirmando que, para defender a nossa língua, «Não me importo de arrostar com as críticas mais vis. Desde que continue convicto de que estou no caminho certo.»

Parabéns pelo trabalho.


Eliot Cordeiro :: Professor :: São Paulo, Brasil
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